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Os paraguaios, assim como nós, passarão por um novo processo eleitoral em 2018. Tanto lá como cá, a possibilidade da esquerda retomar o poder executivo do país é consideravelmente grande
Por Walter Fernandez
Fernando Lugo foi eleito presidente dos paraguaios em 2008 em uma ampla coalizão de oposição, chamada Aliança Patriótica pela Mudança- APM, que tinha em sua composição desde movimentos sociais da cidade e do campo e partidos de esquerda, até o Partido Liberal, de cunho conservador. Ao ser eleito, com mais 40 % dos votos, Lugo passou enfrentar uma dura oposição parlamentar no legislativo, além de ter que enfrentar a mídia extremamente conservadora de seu país. Na sua sombra, Federico Franco, vice-presidente e fruto do acordo com os liberiais (que já em 2009 romperam e isolaram a esquerda no parlamento), não parecia, em nenhum momento, estar disposto de acompanhar presidente em qualquer momento de dificuldade.
Inúmeras foram as dificuldades e os desgastes acumulados. Lugo passou por traições de enorme parte de seus aliados, enfrentou um linfoma que o abateu fortemente em 2010, tentativas de denúncias de conspiração, além de inúmeras ameaças de morte, numa das democracias mais instáveis do continente. Num dos “golpes institucionais modernos” mais sujos vistos até hoje, em 36 horas, o parlamento golpista destituiu um presidente democraticamente eleito, sem direito a ampla defesa, usando como artificio de desculpa, com uma desfaçatez absurda, o conflito de Curuguaty, um massacre que vitimou mais de dez camponeses e foi usado para alimentar os interesses dos latifundiários em derrubar o presidente.
Apesar de todos estes percalços, seu governo foi o que mais investiu em programas sociais, elevando os gastos públicos com projetos de distribuição de renda e diminuição da pobreza. Enfrentou com altivez a questão de Itaipu, tentando a todo custo, corrigir as injustiças históricas que envolviam a partilha da hidrelétrica. A vida dos paraguaios melhorou e essa intervenção direta nas condições materiais da vida do povo credenciam Lugo como o único presidente que pensou nos pobres, nos trabalhadores e nos camponeses do país.
As últimas pesquisas o colocam com ampla maioria nas intenções de voto, fato que desespera setores oligárquicos da sociedade. O governista Partido Colorado (aquele mesmo do sanguinário General Strossner) ensaia uma tentativa de golpe preventivo contra o ex-bispo, buscando uma manobra constitucional para impedir sua candidatura. Novamente, a direita e os setores reacionários da sociedade mostram o medo que tem das urnas. Medo este compartilhado pelos mesmos setores em diversos países latino-americanos. Resta a esquerda, especificamente a Frente Guasú, reorganizar suas forças, dialogar com os setores da sociedade que elegeram Lugo em 2008 e ampliar ainda mais suas relações com os movimentos sociais do campo e da cidade. Derrotar Horácio Cartes (atual presidente) e o Partido Colorado abre um novo ciclo de desenvolvimento para o país vizinho. No Paraguai, é preciso retomar a esperança, é preciso volver à esquerda.