Escrito en
GLOBAL
el
Liberais mantém-se fortes, extrema-direita não decola e esquerda tem resultado contraditório
Por Vinicius Sartorato*, colaborador da Rede Fórum
Um dos países mais desenvolvidos do mundo, a Holanda se destaca em diversos aspectos econômicos, políticos e sociais. Fundador da UE, da OTAN, da OECD e da OMC, é o segundo maior exportador de comida e produtos agrícolas do mundo, somente atrás dos Estados Unidos. Com uma extensão territorial cerca de seis vezes menor que a do estado de São Paulo, os Países Baixos impressionam por ser um dos países mais igualitários, com maior renda per capita, com maior nível de liberdade econômica e de imprensa do mundo. Fatos que são refletidos na felicidade da população.
Reconhecido como um dos países mais liberais do mundo, tem na legalização do aborto, da eutanásia, da prostituição, de uma política de drogas progressista e o casamento entre pessoas do mesmo sexo marcas. Entretanto, a onda conservadora que assola a Europa tem preocupado também os holandeses. Um dos países com maior densidade populacional do mundo, tem visto o crescimento do discurso eurocético e anti-imigração. Temas que chamaram a atenção do debate eleitoral.
É neste quadro, que na última quarta-feira (15) o povo holandês foi às urnas. Como sabemos, a Holanda é uma monarquia constitucional, com um sistema de governo parlamentarista e nesta eleição estava em jogo as 150 cadeiras da Câmara dos Deputados, eleição que possibilita a indicação do primeiro-ministro e a formação do governo.
Mas, como foi o resultado? Quem foram os vencedores? Quem foram os perdedores? Qual é o significado deste resultado para Europa? Quais foram as mensagens que a eleição holandesa trouxe à tona?
Tida como o primeiro grande desafio às elites políticas e econômicas do continente, a eleição holandesa foi temida por muitos políticos europeus, havendo inclusive, a celebração de alguns como a alemã, Angela Merkel e o francês, François Hollande - vizinhos, com eleições marcadas para o futuro próximo.
Na corrida eleitoral, o atual Primeiro-Ministro, Mark Rutte (do Partido do Povo pela Liberdade e a Democracia), concorreu por sua reeleição. No posto desde 2010, o governante tem um perfil liberal, pró-UE, com forte base eleitoral composta de setores médios, laicos e empreendedores. Nesta eleição, o partido de Rutte, conseguiu manter-se como o mais votado (21,3%, 33 cadeiras), porém com um desempenho inferior a eleição de 2012, perdendo 8 cadeiras. Neste sentido, Rutte procurará formar um novo governo, mas trata-se de uma “vitória com sabor amargo”.
Dentre vencedores, com maior importância no cenário, está o partido de extrema-direita, Partido da Liberdade, do líder populista, Geert Wilders, que tornou-se o 2º maior partido nesta eleição, ganhando 5 cadeiras (13,1%) em relação a 2012. Wilders é um oposicionista, que ganhou destaque por ser um dos aliados de Trump, Le Pen, entre outros políticos que professam discursos duros com perfil ultranacionalista, contra a UE e refugiados, em especial muçulmanos. Neste caso, muitas pessoas acabaram frustradas com o resultado, pois acreditavam que o Partido da Liberdade pudesse surpreender.
Já no campo das esquerdas, o resultado foi aparentemente contraditório. O Partido Trabalhista que forma a coalização governamental e foi o 2º maior partido em 2012, foi o maior perdedor desta eleição, ficando em 7º lugar (5,7%), tendo perdido 29 cadeiras no parlamento. Enquanto isso, o Partido Socialista (9,2%, +1 cadeira) e o Partido da Esquerda Verde (8.9%, +10 cadeiras) cresceram, sendo este último, o maior vencedor proporcional desta eleição. Ao todo, os partidos das esquerdas, se estivessem juntos, totalizariam cerca de 30% das cadeiras do parlamento.
Em resumo, o colapso do principal partido do governo não aconteceu. A perspectiva liberal, pró-UE saiu vitoriosa. A extrema-direita não conseguiu surpreender – como muitos esperavam. A expectativa de formação de um novo governo dependerá de pelo menos 4 partidos, uma tarefa complexa. Com a profunda queda do Partido Trabalhista, a tendência e especulação geral, é que o Primeiro-Ministro, Rutte, busque uma aliança com o partido “Apelo Democrata-Cristão”, o partido liberal D66 e a União Cristã, em uma clara movimentação à direita, porém ainda isolando a extrema-direita liderada por Wilders.
Enfim, apesar de remota, a participação no governo do Partido Socialista e do Partido da Esquerda Verde, também é especulada. Líderes de todos partidos, de esquerda e direita cogitados, negam a formação de um novo governo sob liderança do atual Chefe de Governo. Fato que promete prolongar esse período e talvez forçar o aparecimento de um novo nome no cenário.
*Sociólogo, mestre em Políticas de Trabalho e Globalização pela Universidade de Kassel (Alemanha)