Dúvidas e populismo dominam eleições na França

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Com 11 candidaturas registrados, 4 ganham destaque. São elas: Marine Le Pen (Frente Nacional), Emmanuel Macron (Independente), François Fillon (Republicanos) e Benoît Hamon (Partido Socialista), respectivamente a partir da colocação de cada um nas diversas pesquisas eleitorais. Mas, quem são esses candidatos? O que pensam? E como se colocam na disputa eleitoral? Tentaremos aqui traçar um perfil deles, com o objetivo de apresentá-los ao leitor brasileiro Por Vinicius Sartorato, colaborador da Rede Fórum Marcada para acontecer no próximo dia 23 de abril, a corrida presidencial na França tem surpreendido a todos. Sob um contexto de ataques terroristas, nacionalismo crescente, euroceticismo, ondas migratórias massivas e instabilidade político-econômica, o resultado dessa eleição é uma grande dúvida. Com os partidos tradicionais - Partido Socialista e Republicanos - sendo bastante questionados, o cenário político, relativamente estável desde os anos 80, pode mudar radicalmente. Passado o período de eleições internas das alianças partidárias, o quadro eleitoral vai finalmente se consolidando. Com 11 candidaturas registrados, 4 ganham destaque. São elas: Marine Le Pen (Frente Nacional), Emmanuel Macron (Independente), François Fillon (Republicanos) e Benoît Hamon (Partido Socialista), respectivamente a partir da colocação de cada um nas diversas pesquisas eleitorais. Mas, quem são esses candidatos? O que pensam? E como se colocam na disputa eleitoral? Tentaremos aqui traçar um perfil deles, com o objetivo de apresentá-los ao leitor brasileiro. Marine Le Pen Liderando as pesquisas eleitorais para o 1° turno há quase 1 ano, Le Pen aproveita-se da onda nacionalista e eurocética que cresceu no hemisfério norte e vem assustando seus adversários políticos - não só na França, como em todo continente europeu. Sob sua liderança, seu partido de extrema-direita – Frente Nacional – conquistou expressivas vitórias nas eleições francesas locais (2015) e também para o parlamento europeu (2014) – ao qual foi reeleita e é deputada desde 2004. Os fatos citados demonstram um processo de rompimento crescente da tradicional hegemonia bipartidária – entre Socialistas e Republicanos - que dominou o cenário político francês desde a década de 80. Oposta às ideias que defendem o livre-mercado, Le Pen tem defendido veementemente o chamado protecionismo econômico. Tem questionado a estrutura financeira e tributária, bem como faz duras críticas à globalização e a União Européia - apesar de ser eurodeputada, tem defendido um referendo sobre a permanência do país no bloco, bem como sobre a moeda comum. Entretanto, na campanha, apesar do perfil econômico e político nacionalista – que questiona a participação do país na OTAN, Banco Mundial e Organização Mundial do Comércio - Le Pen tem preferido a chamada “pauta identitária”. A candidata tem sido acusada recorrentemente de patrocinar o racismo no país, defendendo a não-regularização de imigrantes ilegais, a retirada do país da chamada área Schengen, bem como o fim das dupla-cidadanias para pessoas originárias de países não-europeus. Além disso, apesar de ser uma defensora do Estado Laico, Le Pen vem denunciando constantemente uma suposta “islamização” do país, fazendo campanhas pelo banimento de vestimentas religiosas, como as muçulmanas, Burka, Hijab, e o judaico, Kippá. Após ter atingido o pico de 33% de intenção de votos (setembro de 2016), Le Pen segue liderando a corrida eleitoral, atualmente variando entre 26-24 pontos percentuais. Emmanuel Macron Jovem político, candidato independente, Emmanuel Macron é ex-ministro da Economia de François Hollande – atual presidente. Ex-membro do setor mais conservador do Partido Socialista, tem sido associado a chamada teoria da “terceira via”, formulada nos anos 90 pelo sociólogo inglês, Anthony Guiddens. Essa linha de pensamento tem sido identificada concretamente na política desempenhada por Bill Clinton, Tony Blair e Gerhard Schroder. Em vários momentos, durante a campanha, tem procurado esquivar-se de classificações, diz-se diferente dos políticos atuais, declarando não ser “nem direita nem esquerda”, dizendo por vezes ser liberal e socialista, defendendo o livre-mercado e a solidariedade coletiva. Como resultado, tem sido indicado por opositores como um político populista ou oportunista, que se molda ao momento, como um “camaleão”. Pró-União Européia, ecologista, Macron também defende a política de imigração de “portas-abertas” liderada pela 1ª ministra alemã, Angela Merkel. Em vários momentos, o candidato vem ressaltando sua posição sobre o tema, inclusive combatendo iniciativas de banimento de vestimentas típicas religiosas. Recentemente, diante da polêmica do banimento de refugiados e imigrantes criada por Trump nos EUA, Macron convidou empresários e cientistas estrangeiros a mudarem-se para França. Atualmente, o candidato conquistou o 2° lugar nas pesquisas de forma surpreendente nos últimos 15 dias. Valendo-se entre outras coisas de um escândalo que atingiu em cheio a campanha de seu adversário republicano. Com uma variação média de 21-23% das intenções de votos, o jovem candidato aparece nas projeções de 2° turno como o favorito. François Fillon Membro do Partido Republicano, é ex-1° ministro de Nicolas Sarkozy (2007-2012). Nessa campanha, venceu Sarkozy na eleição interna de seu partido e é apresentado como sendo a opção conservadora ao populismo de extrema-direita da Frente Nacional. Descrito como um reformista liberal em termos econômicos, é um defensor das chamadas políticas de austeridade e redução de déficits orçamentários. Desde a perspectiva sócio-comportamental, votou contra – quando parlamentar – o casamento entre homossexuais e declara-se contra o aborto, apesar de não defender a revogação da lei atual. Fillon chegou a aparecer em 1º lugar nas pesquisas, com um pico de 32% (novembro de 2016) em que despontava com 10 pontos à frente de Marine Le Pen. O republicano permaneceu por quase todo ano de 2016 em 2° lugar nas sondagens e foi duramente atingido recentemente por um escândalo que envolveu diretamente sua esposa como sendo sua "funcionária fantasma". Após tal escândalo, Fillon caiu para o 3° lugar e não se recuperou mais nas pesquisas, variando entre 17-19% das intenções de voto. Nas sondagens de 2º turno, Fillon aparece vencendo Le Pen, porém com mais dificuldades do que Macron. Benoît Hamon Conforme prevemos em artigo publicado no dia 27 de janeiro de 2017, o Partido Socialista acabou por eleger como seu candidato o ex-ministro da educação de François Hollande. Hamon representa a esperança da aliança liderada pelos socialistas. Buscando recuperar um perfil mais à esquerda, em um momento em que o partido acredita ter se distanciado de seu perfil, o candidato tem como suas principais propostas: o combate à pobreza através da chamada renda básica universal; a redução da jornada de trabalho semanal de 35 horas para 32 horas, sem redução de salários, como iniciativa para gerar mais empregos; entre outras propostas, como a legalização da maconha. O candidato socialista aparece nas pesquisas em 4° lugar, variando entre 14-16% - margem que permanece estável até hoje. Neste sentido, o socialista está à frente de candidatos nanicos, porém atrás de seus principais opositores. Resumo Traçado o perfil dos principais candidatos, percebemos os temas centrais e a total indefinição e imprevisibilidade da eleição. Neste sentido, o olhar dos observadores também está voltado para o 2º turno. Aparentemente, Marine Le Pen tem apostado bastante em temas polêmicos – assim como Donald Trump o fez nos EUA. A expectativa de Le Pen é estimular o eleitorado descontente, mais conservador e com medo do terrorismo para dar uma vitória expressiva na primeira volta da eleição, com o intuito de desmoralizar as outras forças políticas, forçando alianças ainda resistentes. É o chamado “tudo ou nada” de Le Pen. A candidata sabe que, apesar de vencer as projeções de 1º turno, perde em todas sondagens para o 2° turno. Por outro lado, Emmanuel Macron já busca abertamente apoios entre os nanicos, a esquerda, os socialistas e os republicanos – valendo-se do escândalo que aparentemente afundou a campanha de François Fillon.