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Professora universitária e espanhola, Solano comenta o plebiscito catalão: “O que aconteceu neste domingo na Espanha foi um fracasso para os que querem política e foi um triunfo para os que desejam o confronto”
Por Esther Solano
Demorei a dar minha opinião porque é um assunto doloroso para mim, mas, vamos lá. Sei que ficaram chocados com as cenas da repressão policial. Tampouco para mim foi fácil, é terrível, aliás, mas os discursos simplificadores sobre o "estado espanhol fascista repressor" não são acertados.
A verdade é que teve falta de política de ambos os lados. As lideranças catalãs independentistas (a começar pelo presidente catalão, Carles Puigdemont) foram e continuam sendo muito irresponsáveis, instrumentalizando o nacionalismo para fins políticos de uma forma inadequada, imatura, leviana assim com o governo de Mariano Rajoy, tampouco soube tratar o assunto com a inteligência política com que deveria ser tratado.
O que aconteceu neste domingo (1) foi um fracasso para os que querem política e foi um triunfo para os que desejam o confronto. O fato real é que não são poucos os que querem a independência, não podemos negar isso, mas o referendo de hoje era ilegal e foi uma caricatura, infringindo as regras eleitorais mais básicas, com gente votando inclusive várias vezes.
Os resultados não são confiáveis. Mesmo assim, provavelmente esta semana será declarada a independência de Catalunha unilateralmente. Uma independência que nem Espanha nem a UE reconhecerão e aí teremos muitos mais desafios pela frente.
Dito isso, eu sou a favor de que as pessoas tenham direito de votar se querem ou não a independência, mas isso é um tema muito sério que diz respeito ao princípio básico da unidade territorial de Espanha.
Para isso, a Constituição deve ser modificada e para pensar nisso precisaríamos de políticos sérios e consequentes, capazes de fazer um debate à altura e não os irresponsáveis que estão hoje no governo catalão, nem um governo de Madri tão pouco dialogante.
Um dia triste, porque nos afasta cada vez mais do diálogo e sem diálogo só resta a barbárie.
* É professora da Unifesp e espanhola