Europa empurra refugiados de uma fronteira para outra

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Agência das Nações Unidas para os refugiados diz que a falta de resposta da UE criou a situação caótica que se vive. Centenas de milhares de refugiados são empurrados de uma fronteira para outra, sem conseguirem chegar a um país de acolhimento Por Esquerda.net
A Agência das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) responsabilizou a União Europeia, ao não dar uma resposta coerente à crise dos refugiados, pela situação caótica que se vive em diversas fronteiras, como a da Sérvia com a Croácia ou a Hungria. E advertiu que o tempo para se chegar a uma solução da crise está a chegar ao fim. “Com mais de 443 mil refugiados e migrantes tendo chegado até agora através do Mediterrâneo, tendo morrido 2.921 pessoas, e levando em conta que chegam todos os dias 4.000 pessoas às ilhas gregas, a crise está a crescer e a ser empurrada de um país para o outro sem qualquer solução”, disse o porta-voz da Acnur, Adrian Edwards, numa conferência de imprensa em Genebra. Edwards acrescentou que os sofrimentos e riscos corridos por milhares de refugiados e migrantes estão aumentando à medida em que a incerteza e a falta de informação fazem aumentar o desespero, aumentando a possibilidade da ocorrência de novos incidentes e atiçando a hostilidade em relação a pessoas que fugiram às perseguições e conflitos e estão a precisar de ajuda.

Reunião crucial 4ª feira

O porta-voz disse ainda que neste contexto, a Acnur considera ser de aplaudir a decisão do Parlamento Europeu de apoiar os planos de acolhimento de 120 mil pessoas por todos os países da UE. Mas advertiu que a reunião extraordinária dos ministros da Justiça marcada para dia 22, e a do Conselho Europeu marcada para o dia seguinte são cruciais para se chegar a um acordo. “Estas ocasiões podem ser a última oportunidade para uma resposta positiva, unida e coerente da Europa para esta crise”. A Acnur propõe, entre outras medidas imediatas, a criação de instalações de acolhimento na Grécia, bem como na Sérvia, de forma a assistir, registar e orientar os refugiados para os outros países europeus.

1.500 refugiados passaram a noite ao relento na fronteira entre a Croácia e a Eslovénia

Entretanto, a situação nas fronteiras continua caótica. Na sexta-feira, cerca de 1.500 refugiados passaram a noite ao relento na fronteira entre a Croácia e a Eslovênia, depois de a polícia eslovena ter lançado gás lacrimogéneo para impedir a sua passagem, provocando uma dezena de feridos. Segundo a comunicação social croata, durante a noite, a população local levou aos refugiados mantas e comida para que suportassem melhor o passar das horas numa zona de floresta rodeada de montanhas e com baixas temperaturas. Entre os milhares de refugiados encontravam-se muitas crianças, incluindo um bebé de 7 dias.

Arame farpado no século XXI não é uma resposta

O governo da Croácia afirmou na terça-feira que o seu país iria receber refugiados e migrantes "independentemente da sua religião e cor de pele", criticando a Hungria pelas barreiras que construiu nas suas fronteiras. "Arame farpado no século XXI não é uma resposta, é uma ameaça”, disse o primeiro-ministro Zoran Milanovic. Mas no fim de semana o governo croata mudou de política, afirmando já ter esgotado a sua capacidade de acolhimento. Sem violência, a polícia croata começou a enviar refugiados em comboios e autocarros para a Hungria. O primeiro-ministro croata disse que vai continuar a "forçar" o governo húngaro a receber alguns dos refugiados e migrantes, sem os registar previamente: "Não houve nenhum acordo. Forçámo-los a aceitá-los, e vamos continuar a fazê-lo", disse Milanovic. O ministro dos Negócios Estrangeiros húngaro, Peter Szijjarto, reagiu acusando o governo croata de "violar a soberania da Hungria" e de "mentir de forma reiterada aos húngaros, croatas e a todos os cidadãos da União Europeia". Apesar da quase crise diplomática entre os dois países, a tática croata parece ter funcionado. Durante a noite, cerca de 6.700 refugiados a fronteira entre Hungria e Áustria, enviados em autocarros a dois postos de fronteira, Nickelsdorf e Heiligenkreuz. Alguns deles já foram transportados para outros pontos da Áustria, de onde seguirão viagem rumo à Alemanha, o país ao qual quase todos querem ir.

Centenas de milhares de pessoas encurraladas

Mas estes são uma gota de água no meio da crise. Há centenas de milhares de pessoas encurraladas entre a Hungria, a Croácia e a Sérvia, e todos os dias procuram um novo caminho que possa levá-las até ao Norte da Europa. E agora muitas delas estão a ser transportadas de um lado para o outro: da Croácia para a Hungria e da Hungria para a Áustria, sem nunca passarem das zonas de fronteira e colocadas em campos para refugiados. A crise tem tudo para se agravar. Neste sábado mais uma menina morreu de cinco anos, depois de ter sido resgatada do mar inconsciente e chegado ao hospital sem vida. O barco onde viajava naufragou ao largo de Lesbos, a ilha aonde todos os dias chegam novas pessoas. Segundo a guarda costeira grega, foram resgatadas com vida 11 pessoas e procuram-se ainda outros sobreviventes. Foto de capa: I. Pavicevik/Acnur