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Para ministro de Defesa, líder representa uma ‘ameaça para segurança da nação’; Já presidente argentina, Cristina Kirchner, escreveu: “Jeremy Corbyn é o grande amigo da América Latina e divide nossa reivindicação de igualdade e soberania política”
Por Opera Mundi
Estatização de ferrovias, fim dos bombardeios ao Estado Islâmico no Iraque e Síria, desarmamento nuclear, aumento do investimento do Estado e diálogo com Argentina com relação às ilhas Malvinas. Essas são algumas das políticas defendidas por Jeremy Corbyn, que venceu a eleição interna do Partido Trabalhista do Reino Unido.
De acordo com o resultado divulgado neste sábado (12/09), o deputado de esquerda ganhou no primeiro turno com 251.417 votos (59,5%), seguido pelo centrista Andy Burnham, que ficou segundo com 80.462 sufrágios (19%). Já Yvette Cooper, também de centro, ficou na terceira posição com 17% do apoio, enquanto Liz Kendall, representante da ala de direita do partido, ligada ao Novo Trabalhismo do ex-primeiro-ministro Tony Blair, foi a última colocada, com 4,5%.
“As coisas podem mudar e mudaram”, afirmou Corper ao conhecer o resultado da eleição. Ele fez uma campanha surpreendente no Reino Unido já que há cem dias, casas de apostas consideravam que sua chance de vitória era de 200 para 1.
“O partido mudou muito nesses três meses”, afirmou o deputado que desde 1983 é parte do Parlamento britânico. “Cresceu enormemente com pessoas que pedem um Reino Unido mais justo. (…) Não soubemos compreender as visões de muita gente jovem que tachamos de geração apolítica. Não era, era uma geração muito política, mas desencantada com a forma como vem sendo feita a política”, disse em referência ao crescimento no número de votantes e ao perfil do eleitorado.
Isso porque a base do Partido Trabalhista praticamente dobrou, já que puderam votar não só os membros do partido, mas também simpatizantes. Dos novos votantes, 90% optou por Corbyn.
Para o secretário-geral do sindicato Unite, Len McCluskey, “o establishment britânico foi sacudido até a medula, incluindo o trabalhista. Muitos apontam o apoio do Unite como fundamental para a vitória de Corbyn: “pela primeira vez se colocou na agenda uma alternativa real à austeridade, às políticas neoliberais. É um discurso que os jovens nunca escutaram”.
As posições de Corbyn no entanto já começam a repercutir no governo britânico. Ao site russo Sputnik Novosti, o ministro de Defesa, Michael Fallon, afirmou que o “trabalhismo é agora um risco grave para a segurança de nossa nação, a segurança de nossa economia e a segurança de todas as famílias”. Isso porque Corbyn é contra os mísseis atômicos e comprometido com o desarmamento nuclear.
Políticas progressistas
Aos 66 anos, Corbyn promete lutar contra a desigualdade social, contra os planos de austeridade e desmandos do sistema financeiro. Ele é um conhecido militante pacifista, anti-nuclear e antiintervenções militares sem licença da ONU e defende a diminuição do controle nas fronteiras.
No âmbito econômico, defende mais impostos para os ricos e a nacionalização das estradas de ferro britânicas. Na política internacional, considera a conveniência de sair da Otan (Aliança do Tratado Atlântico Norte) e se opõe aos bombardeios contra o Estado Islâmico no Iraque e na Síria.
Por suas posições, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, divulgou ontem uma carta na qual o felicita: “hoje triunfou a esperança”, diz.
De acordo com a mandatária, “Jeremy Corbyn é o grande amigo da América Latina e divide nossa reivindicação de igualdade e soberania política”. Ela destacou ainda a posição do líder com relação às ilhas Malvinas ao dizer que ele “acompanha ativamente o chamado da comunidade internacional a favor do diálogo entre o Reino Unido e a Argentina com relação às Malvinas”.
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Desafios
O principal desafio do novo líder será evitar o racha do partido já que apesar do grande apoio recebido da base, os parlamentares do Partido Trabalhista são maciçamente contrários a ele.
Nesse sentido, o novo líder prometeu fomentar um partido "inclusivo, democrático e que escute seus militantes" e se mostrou disposto a trabalhar com todos os setores da legenda.
No Parlamento, no entanto, um grupo de deputados também trabalhistas trabalham com a hipótese de que Corbyn “cairá pelo seu próprio peso” e estudam a melhor maneira de estar bem posicionado quando isso ocorrer, como aponta o jornal espanhol El País.
Também há uma discussão sobre sua elegibilidade como primeiro-ministro do Reino Unido. Quanto a isso, considera-se que a prova mais importante para Corbyn será a eleição para a prefeitura de Londres, que será realizada no ano que vem. O candidato será Sadiq Kahn que, assim como Corbyn, está mais à esquerda que os demais trabalhistas que com ele concorriam.
Neste sentido, também será importante para Corbyn o resultado do referendo sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia, consulta que deverá ocorrer antes de 2018. O trabalhista já afirmou que fará campanha pela permanência no bloco para criar “uma Europa melhor”.
Foto: Facebook Jeremy Corbyn