As informações que eu vejo sobre a detenção de Manuela Picq, a volta ao Brasil, e a suposta “liderança” ambiental e indígena do seu namorado no Equador são nocivas às lutas ambientais, indígenas e à própria esquerda latino-americana. Seu sorriso carrega o cinismo da direita que instrumentaliza a agenda progressista com o intuito de desestabilizar os governos legitimamente eleitos. Sua tentativa de se mostrar vítima de uma agressão policial escora-se numa estratégia de jogar a opinião pública internacional contra um governo com alta aprovação popular e que, despertando a ira da direita, ousa tributar grandes fortunas e avançar num projeto de inclusão socioeconômica daquela maioria que sempre foi invisível. Os protestos encampados recentemente no Equador fazem parte do modus operandi do Século 21 para derrubar governos progressistas legitimamente eleitos. Manuela e a vitimização que se tenta construir em torno de sua prisão é uma das tantas ameaças que a América Latina enfrenta e o progressismo não pode morder essa isca.
As marchas realizadas contra o Presidente Rafael Correa são uma falácia muito bem desenhada e financiada pela direita. Como a direita latina decidiu não usar mais as forças armadas do continente para derrubar presidentes de esquerda, pouco a pouco começou a cooptar corrompidos ex-esquerdistas e alguns bufões autodenominados defensores-de-qualquer-coisa para servirem de tropa de choque. No caso do Equador, uma suposta liderança indígena que não tem nenhum apoio das bases, iniciou uma marcha para tentar derrubar Rafael Correa. Isso começou após o Presidente ter proposto um imposto sobre heranças – algo que ainda não foi feito no Brasil.
É evidente que o imposto sobre as fortunas herdadas pelas quatrocentonas famílias equatorianas é uma das principais formas de acabar com a desigualdade econômica e social. Seria contraditório que os indígenas andassem de mãos dadas com a elite econômica que tanto os oprimiu. A questão é que estes supostos líderes indígenas não representam as lutas e nem as massas, pois entre 1997 e 2005 fizeram parte das mobilizações que derrubaram 3 presidentes. Nesse período chegaram a ser mobilizados mais de 10 mil indígenas. Nos dias de hoje, a marcha organizada por eles não juntou nem 300 pessoas. Sua aproximação política com os capitães-do-mato traiu a confiança da base indígena, e isso, para a cosmovisão ancestral, é imperdoável. Imediatamente após o presidente anunciar que as fortunas administradas por empresas e “fundações fantasmas” localizadas em paraísos fiscais teriam que pagar impostos, uma violenta reação da direita se iniciou nas ruas no mês de julho de 2015. A tragicômica liderança indígena financiada por essa elite foi convocada a organizar uma marcha com o objetivo de pintar de “povo” a empreitada que visava dar um basta ao Presidente. A lógica é bizarra: como os 70% de aprovação do governo de Correa são a média de aceitação de 8 anos de governo - que sobrevive inclusive ao assassinato de dois de seus guarda costas durante uma tentativa de golpe de Estado, em 2010, e também à uma suspeita queda do helicóptero presidencial, onde morreram 3 pessoas – agora, era preciso baixar esses índices de popularidade e construir uma narrativa que envolvesse os indígenas e o povo numa rebelião contra Correa. As tentativas de derrocadas com cheiro de Channel Nº 5 não deram certo.
Nesse contexto surge a linda história de amor de Manuela Picq e Carlos Peréz Guartambel. Uma relação que nasce no meio do caos gerado por eles mesmos. Desde que o progressismo se instalou no continente, o roteiro golpista latino-americano utiliza os mesmos arquétipos e cenas. A ultraviolência causada em manifestações, depredações e tentativas de golpe resultam numa reação mão-firme do Estado, gerando feridos, presos e se possível até mortos em nome da luta contra uma suposta tirania, já que o governo foi eleito com o voto da imensa maioria.
A detenção de Manuela Picq no última dia 13 de agosto se deu dentro desse contexto. Ela participava da marcha que tinha como objetivo cercar o Palácio de Carondelet, e faltando meio quarteirão, Carlos Peréz Guartambel na linha de frente da mobilização foi detido junto com outros manifestantes. No momento da sua detenção, Manuela Picq tentou impedir a ação policial, sendo detida junto com ele. Por ser estrangeira, não portar seus documentos e ter sido detida com o uso da força, foi levada a uma unidade de saúde e depois a um hotel que serve de abrigo para estrangeiros sem documentados. A polícia gravou um vídeo onde Manuela, com o seu lindo sorriso no rosto e sem qualquer olho roxo, conta tudo o que aconteceu. O olho dela estava roxo, já que a madame estava praticando malabares na França, e se acidentou, um mês antes, como podemos ver no post a seguir.
Apesar do seu visto ser o 12 VIII, que serve para “intercambio cultural” e não permite a participação em qualquer tipo de manifestação política, uma juíza ordenou que Manuela não fosse deportada e que deveria ser colocada em liberdade, o que aconteceu imediatamente. Manu e seu namorado circularam todos os meios de comunicação que o seu tempo permitiu. E mentiram. Obviamente.
Carlos Peréz Guartambel que hoje supostamente luta pelo meio ambiente e lidera a “resistência” indígena enquadra-se como um vulgar oportunista a serviço da direita. Em 1999, quando 1 milhão de equatorianos migraram aos EUA e à Europa pela quebra do país, resultando na dolarização da sua economia, Guartambel era representante de seis empresas mineradoras no país. Isto pode ser verificado nos documentos a seguir, emitidos pela Agência de Regulamentação e Controle Mineiro do Equador.
Não bastasse isso, Carlitos era representante também da Associação de Lavadores de Carros de Tomebamba, na cidade Cuenca. Essa associação é a mesma que foi autuada por contaminar o rio Tomebamba. O cinismo é tão grande que durante uma entrevista ele mesmo admitiu a contaminação. Seus clientes mineiros e lava-rápidos operavam nas mesmas áreas que ele hoje diz defender. Como seus clientes foram multados e suas concessões mineiras suspensas devido ao endurecimento na legislação ambiental, Carlitos decide marchar contra ao governo. Esconde o real objetivo, que é defender suas próprias finanças e, de lambuja, assumir um protagonismo político à direita.
Manu, sua namorada, também costuma mentir sistematicamente. Apesar do seu extenso curriculum na docência, se diz jornalista. Não pela sua formação acadêmica, que é na área de relações internacionais, mas por ela escrever artigos para a Al Jazeera. Ela também afirma que o governo equatoriano é opressor e que não permite que as pessoas possam se expressar livremente. Apesar disso, ela mora há 8 anos no país, se manifestando contrária à Revolução Cidadã, inclusive convocando o golpe sem nunca ter sido perseguida, presa, processada etc.
Ela chama uma eleição ganha com 60% dos votos, no primeiro turno, de ditadura. É tão mentirosa que apesar de ter gravado um vídeo onde afirma estar bem, o que é notável, mentiu a diversas instituições acadêmicas como Princeton e a Universidade Internacional da Flórida, pedindo que enviassem cartas ao Presidente Correa para que ela fosse liberada imediatamente.
No caso da UFRJ, o papelão foi maior. Dois professores pediram para o Presidente “desautorizar” a sua detenção e deportação por ela sofrida. Manuela não estava detida, nem havia sido deportada. E mesmo que ele quisesse, se a nossa “heroína” estivesse detida, a única autoridade que poderia mandar soltá-la seria um magistrado (aliás, parece-me que no Brasil também é assim).
Apesar disso, a irresponsabilidade destes acadêmicos é tão grande que eles afirmam de que Guartambel estava ferido gravemente. Confira aqui como o “gravemente ferido” namorado da Manú marcha apenas dois dias depois de seus supostos algozes o terem agredido.
Depois de solta, um juiz negou aos seus advogados o pedido que suspendia a revogação do seu visto . Apesar dela não ter sido deportada, Picq decidiu voltar ao Brasil no dia 19 de agosto para pedir um novo visto. É tão caricata a atitude dela, que agora o seu advogado diz inclusive que deveria ser respeitado o seu direito indígena, já que ela é namorada de um deles, apesar dela não ter se casado nem sob a legislação equatoriana, nem por algum rito ancestral.
A verdade é que esta inteligente, bem formada, poliglota, linda, ariana, europeia-brasileira, namorada de um meio-indígena, representante de mineradoras e poluidores de rios, trollou a academia e a imprensa internacional.
*Amauri Chamorro é Comunicador Social, formado pela Universidade de Sorocaba, cursando Mestrado em Comunicação Política pela Universidade Autónoma de Barcelona. Mais de 20 anos de experiência em estratégias comunicacionais, trabalha com governos, partidos e organizações sociais progressistas na América Latina. Articulista convidado de vários meios de comunicação para temas de política e comunicação, participou de diversos seminários e conferências como expositor.