Maringoni: A Wehrmacht financeira e os partisans do Syriza

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Falar em traição ou capitulação de Alexis Tsipras e do Syriza significa desviar os olhos não apenas do jogo bruto da troika – que inclui a “social-democracia” francesa –, mas do comportamento indigno e covarde da quase totalidade dos países do mundo Por Gilberto Maringoni, no Blog da Boitempo A Alemanha literalmente acionou sua Wehrmacht financeira para patrolar a Grécia com suas divisões Panzer.

Não se aceitou nada além da rendição.

Não foi um jogo de pressões ou chantagens, meramente. O que se viu em Bruxelas, após 17 horas de ataques coordenados contra um pequeno país da periferia europeia, sem indústrias e com zero de solidariedade internacional, foi a tentativa de se quebrar a espinha dorsal da nacionalidade.

Falar em traição ou capitulação de Alexis Tsipras e do Syriza – que agiram como partisans diante da plutocracia financeira – significa desviar os olhos não apenas do jogo bruto da troika – que inclui a “social-democracia” francesa –, mas do comportamento indigno e covarde da quase totalidade dos países do mundo.

A exceção notável ficou com Cuba, Argentina, Equador, Bolívia e Venezuela, com reduzidíssimo poder de fogo.

A gestão ultraliberal do PT no Brasil ignorou solenemente a batalha conduzida heroicamente por Atenas.

RECUO

O Syriza recuou. Aceitou cláusulas absurdas. Aqui deve-se atentar de maneira séria para o que é correlação de forças de verdade.

O jogo não terminou. O próximo passo será a repercussão interna à Grécia, no parlamento e nas ruas. Mas a possibilidade de se virar o jogo no plano interno é quase impossível.

Externamente, o acordo terá de ser aprovado pelos parlamentos nacionais dos outros 27 países da UE. Há forças políticas – como na Finlândia – que ensaiam não aceitar o acordo.

A dureza e a rapidez do diktat germânico leva também em conta os problemas econômicos que acometem boa parte dos Estados europeus. Há várias eleições nos próximos 18 meses. Há desemprego crescente. Há bancos franceses e alemães em dificuldades sérias etc. etc.

VOLTA AO DRACMA

O artigo de Yanis Varoufakis, publicado Sábado no Guardian comenta os desafios de se voltar a ter moeda própria:

“Infelizmente, a Grécia não tem moeda cujas algemas com o euro possam ser cortadas. Temos o euro – moeda estrangeira totalmente administrada por credor inimigo de qualquer reestruturação da insustentável dívida de nosso país.

Para sair, teríamos de criar uma nova moeda, desde o princípio. No Iraque ocupado, a introdução de novo papel-moeda exigiu quase um ano, 20 ou quase Boeing-747s, a mobilização da força militar dos EUA, três empresas impressoras e centenas de caminhões. Sem esse apoio, a Grexit seria o equivalente de anunciar uma grande desvalorização, com mais de 18 meses de antecedência: é como receita para liquidar todo o estoque de capital grego e transferir tudo para o exterior, por todos os meios existentes”.

Yanis Varoufakis, The Guardian, Can Greece really make a drachma as a way out of the crisis?“, 8 de julho de 2015

ESQUERDISMO SEDUTOR

Há um esquerdismo sedutor que apregoa soluções mágicas. “Sair do euro”, “Romper com a troika”. Ou caminhar em direção ao socialismo já. Sim, tudo muito desejável, muito atraente. Eu também quero!

O problema é o mundo real. Os bancos gregos quebrariam em questão de dias. O país ficaria um tempo indefinido sem meios de pagamentos.

Não se sabe como a população aguentaria novos sacrifícios, sem um horizonte planetário definido.

Antes de se atacar de forma fácil o governo grego, é bom olhar quem são os verdadeiros responsáveis pela situação. E perceber que estamos em terreno para lá de movediço, num mundo movido a moedores de carne.

Foto: https://www.flickr.com/photos/piazzadelpopolo/