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É certo que o stalinismo ocorreu num contexto extremamente difícil, em que a defesa do Estado fundado por Lênin era uma questão de vida ou morte. Mas nada justifica as atrocidades sistemáticas, a tirania mais completa, a falsificação da história, as mentiras, a execução covarde de camaradas revolucionários
Por Igor Fuser
Semanas atrás, militantes políticos renomearam simbolicamente uma via pública do Rio de Janeiro, colando um adesivo com o nome de Josef Stálin na placa que assinalava a Rua Santa Luzia. Meu comentário sobre o fato, no facebook, rendeu uma intensa polêmica, com muitas mensagens em louvor à memória do dirigente soviético, falecido em 1953, e outras tantas em apoio às minhas opiniões, que retomo aqui.
Considero um lamentável erro qualquer homenagem a um dos maiores criminosos do século 20. Stálin é responsável pela morte de milhões de civis inocentes. Entre suas vítimas estão centenas de milhares de comunistas, o que inclui quase toda a velha guarda bolchevique, ou seja, os protagonistas da Revolução de 1917.
Stalin mandou matar Bukhárin, Zinoviev, Kamenev, Rykov, Radek e Trotsky, este último trucidado da maneira mais infame, pelas costas, em seu exílio no México. Para garantir o poder pessoal absoluto, dizimou as fileiras do Partido Comunista da União Soviética. Dos 1.966 delegados ao 17º congresso do partido, de 1934, o “congresso dos vitoriosos”, 1.108 foram presos nos expurgos dos anos seguintes e, desses, 848 foram mortos.
O terror stalinista abriu o caminho para a burocratização da sociedade soviética e transformou a pátria do socialismo num país dominado pelo medo. Esse mesmo regime opressivo foi reproduzido nos países satélites da URSS no Leste Europeu. Não se pode entender o forte anticomunismo reinante naquela região sem levar em conta esse trauma. O que dizer do massacre de Katyn, em 1940, quando 22 mil prisioneiros poloneses foram executados pelo exército soviético, cada um com um tiro na nuca?
É certo que o stalinismo ocorreu num contexto extremamente difícil, em que a defesa do Estado fundado por Lênin era uma questão de vida ou morte. Mas nada justifica as atrocidades sistemáticas, a tirania mais completa, a falsificação da história, as mentiras, a execução covarde de camaradas revolucionários.
O fantasma de Stálin, queiramos ou não, ainda acompanhará a trajetória da esquerda por muito tempo. É preciso encará-lo sem sofismas nem tergiversações. O respeito à verdade e aos direitos humanos é parte inseparável da luta pelo socialismo.
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