O discurso de mais de três horas foi acompanhado por uma grande mobilização de apoiadores e foi interpretado como o marco inaugural da campanha presidencial no país. Em sua fala, Cristina fez um balanço dos 12 anos de governo kirchnerista no país, defendeu os acordos realizados com a China e apresentou dados de sua gestão na Casa Rosada.
O caso do promotor foi, no entanto, o ponto alto de sua explanação. "Com qual Nisman eu fico? Com o que nos acusa de ocultação ou com o que se dirigia a mim reconhecendo tudo o que havíamos feito?", disse a mandatária em alusão aos documentos encontrados no cofre da promotoria pelo juiz Daniel Rafecas. De acordo com ele, o material possui "postura diametralmente oposta" à que o fiscal expressou contra a presidente em sua denúncia de 14 de janeiro. Na última quinta-feira (25/02), Rafecas decidiu não investigar a denúncia por entender que não existiu delito.
"O caso deveria se chamar Nisman contra Nisman", disse Kirchner. "O que aconteceu entre o momento em que o fiscal Nisman saiu de férias e voltou, que em vez de apresentar o documento que iria apresentar, apresentou uma denúncia?", questionou a presidente. O juiz Rafecas destacou que o texto deixado pelo investigador destacava "considerações absolutamente positivas da política de Estado do governo nacional, desde 2004 até a atualidade".
O caso Nisman desatou uma crise política na Argentina, que culminou na realização de uma ampla mobilização, chamada de “marcha do silêncio”, com caráter opositor, para pedir que a morte do promotor seja investigada. Apesar do desgaste com o caso, a mandatária conseguiu reunir neste domingo (01/03) a maior concentração de apoiadores em uma visita presidencial anual ao Congresso. Respondendo a uma matéria do jornal La Prensa que dizia que Kirchner não deixará “um país cômodo para governar”, a mandatária respondeu: “Tem razão. Eu não deixo um país cômodo para os dirigentes que estejam pensando em diminuir direitos, deixo um país cômodo para as pessoas”, concluiu sob aplausos. Ferrovias estatais Em meio ao tom de campanha eleitoral, a mandatária anunciou a recuperação pelo Estado da administração das estradas de ferro e a criação da empresa estatal Ferrocarriles Argentinos. A proposta será enviada ao Congresso. De acordo com o jornal La Nación, a estatização dará a Florencio Randazzo, um dos pré-candidatos da situação, e atual ministro do Interior e Transporte, uma forte plataforma de campanha até as primárias do Partido Justicialista, de Cristina Kirchner, que serão realizadas em 9 de agosto. “Esta nova estatização dos trens é um novo capítulo na agenda de conquistas como a nacionalização da YPF [Yacimientos Petrolíferos Fiscales], das Aerolíneas Argentinas e das empresas de aposentadorias e pensões, AFJP. Tem como objetivo apelar para o sentimento nacional justamente no momento que antecede as eleições”, como disse uma fonte próxima a Randazzo ao jornal argentino. Foto: Presidência da Argentina