Automação: a ambígua Revolução dos Robôs

Novo estudo sugere: nos próximos vinte anos, máquinas inteligentes eliminarão um terço dos trabalhadores – e poderão gerar crise social inédita. Há alternativas, porém

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Novo estudo sugere: nos próximos vinte anos, máquinas inteligentes eliminarão um terço dos trabalhadores – e poderão gerar crise social inédita. Há alternativas, porém Por Antonio Martins, no Blog da Redação do Outras Palavras No Japão, robôs alocados na linha de produção de automóveis já trabalham, sem descansar um segundo e sem supervisão, por trinta dias ininterruptos. Em todo o mundo, foram realizadas, no ano passado, 570 mil cirurgias assistidas por robôs; e no Sloan-Kettering Cancer Center, em Nova York, um supercomputador que dá assistência a elas é capaz de ler e processar 1 milhão de textos por segundo, para orientar diagnósticos e procedimentos. Em breve, será possível transferir para máquinas profissões penosas (como chapeiro em restaurantes industriais), subalternas (como cuidador de idosos) ou maçantes (como analista de crédito). Mas todos estes desenvolvimentos, que poderiam aliviar a vida humana, estão prestes a se converter num tormento, multiplicando desigualdade e desemprego. Estas observações não vêm de estudos hipotéticos de intelectuais marxistas, mas de um relatório ainda inédito, produzido pelo Bank of America e relatado na edição de hoje do Guardian. Está em curso, diz o estudo, uma quarta revolução industrial – depois da máquina a vapor, da produção em massa e da eletrônica. O desenvolvimento da inteligência artificial está produzindo máquinas cada vez mais capazes não apenas de adquirir habilidade manual, mas de executar certas tarefas analíticas, que antes exigiriam avaliação humana. As consequências são impressionantes. Enquanto usam-se em média, no mundo, 66 robôs para cada 10 mil humanos empregados, na indústria automobilística nipônica esta relação disparou para 1520 / 10 mil. Em apenas dois meses de 2014, o Google adquiriu nada menos que oito empresas robóticas. Certos do mundo financeiro esperam eliminar, com a automação, o equivalente a 9 trilhões de dólares em salários, por ano. O próprio estudo do Bank of America reconhece: nas condições atuais, a consequência natural será a eliminação, nos próximos vinte anos, de 35% dos postos de trabalho no Reino Unido; de 47% nos Estados Unidos; e talvez de um percentual ainda maior em economias como a brasileira, onde as ocupações são, em média, de qualificação mais baixa. Porque, segundo o próprio relatório “as perdas de emprego irão se concentrar no parte mais baixa da escala de salários”. As sociedades humanas estarão condenadas a se tornar cada vez mais desiguais e insustentáveis, à medida em que se desenvolvem tecnicamente? Esta questão tem inspirado grandes autores e obras contemporâneos. Em O Relatório Lugano, a cientista política franco-norte-americana Susan George imagina um plano, formulado por grandes estrategistas do sistema, para eliminar 1/3 dos habitantes do planeta – que se tornaram supérfluos, com o advento de novas tecnologias e podem constituir ameaça de rebelião. Já o economista britânico Guy Standing busca as alternativas. Em O Precariado, a nova classe perigosa, ele argumenta que é preciso inventar, coletivamente, caminhos para evitar a ruptura tecnológica. Sua proposta essencial: desvincular trabalho de existência, algo presente no imaginário humano desde os livros sagrados (“Comerás teu pão com o suor de teu rosto”, diz o Gêneis). Instituir a Renda Cidadã global, assegurada a todos os seres humanos do planeta e capaz de assegurar uma vida digna e frugal. Foto de capa: Rob NREC/CC BY-SA 3.0