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A vitória do Syriza na eleição desse domingo (25) já é fato. Resta saber se o partido conquistará uma ampla maioria no Parlamento grego; livrando-o da necessidade de fazer acordos com outros partidos e lhe dando maior vantagem para os obstáculos à frente, principalmente na renegociação da dívida grega com Bruxelas e Berlim
Por Vinicius Gomes
[caption id="attachment_57827" align="alignleft" width="300"] "A esperança venceu"[/caption]
Na Grécia, durante todas as semanas pré-eleições, o ar esteve contagiado pela esperança e pelo desejo de mudança. As inúmeras pesquisas de intenção de votos mostravam uma liderança consistente do partido de esquerda Syriza, que a população grega considerava a melhor chance para reverter a tragédia social que se instalou no país após a adoção da política de austeridade econômica. E foi exatamente isso que aconteceu: uma verdadeira lavada: até o momento, contabiliza-se pelo menos 10 pontos de diferença entre o Syriza e o segundo colocado Nova Democracia (ND), o partido do atual primeiro-ministro Antonis Samaras, que reconheceu a derrota e já ligou para Alexis Tsipras, o líder do Syriza para congratulá-lo pela vitória.
"Esta é uma vitória histórica para o povo grego, que votou esmagadoramente contra a austeridade, o envio de um sinal forte para a Europa, que pode ser um trampolim para a mudança. O Syriza compromete-se a um governo voltado ao social, para implementar o programa de Salónica e negociar na Europa", dizia uma declaração do partido. Pouco antes, a conta do perfil do partido no Twitter, havia postado a mensagem "A esperança venceu".
A única dúvida que resta, enquanto os votos ainda são contabilizados é se o Syriza conquistará a maioria dos assentos no Parlamento grego. Para isso, ele precisa conseguir mais de 35% dos votos, assegurando assim mais de 150 assentos - o que dará ao partido a possibilidade de governar o país sozinho, sem ter que se aliar com partidos menores.
Abocanhando os eleitores de outros partidos
[caption id="attachment_57841" align="alignright" width="300"] Prevendo a certeira derrota para o Syriza, o primeiro-ministro Antonis Samaras tentou forçar a reeleição de eu partido, a Nova Democracia, no final de 2014. Fracassou (Reprodução)[/caption]
Com o desemprego atingindo um quarto da população grega, o salário mínimo valendo um terço do seu valor original e as pessoas terem sua eletricidade cortada e o acesso à itens médicos básicos negados - sem nem mencionar os direitos trabalhistas sendo jogados no lixo, a resposta indignada dos gregos nas urnas deveria ser previsível. Tudo isso fez com que até mesmo aqueles que sempre foram eleitores da ND, mudassem seu voto para os esquerdistas do Syriza. Como o periódico britânico The Guardian relatou: Sophia Tzergou, uma lojista aposentada afirmou que votaria na esquerda pela primeira vez em sua vida. "Eu tenho 66 anos e votei na Nova Democracia toda a minha vida, assim como meus pais fizeram antes de mim", ela disse. "Agora eu, meu marido e nossas duas filhas estão apoiando o Syriza. Não existe outra saída. Aqueles que estão se segurando no poder têm de ir embora, eles tiraram tudo de nós. Não temos mais nada para entregar"
Como havia argumentado o comentarista político Nikos Xydakis, um grande número de pessoas com ideias conservadoras votariam no Syriza por conta da dignidade. “É uma questão de dignidade e orgulho nacional”. Xydakis afirmou que “eles acreditam que o país virou uma colônia da dívida, eles acreditam que o Estado age como um tirano e coletor de impostos e não oferece nada em troca”, por isso que o comentarista diz que até mesmo os conservadores irão se arriscar por uma mudança e votarão no Syriza".
Esquerda radical?
Os empréstimos concedidos à Grécia pela infame Troika (União Europeia, Banco Central Europeu e FMI) em troca da adoção das terríveis medidas de austeridade não aliviaram o peso da dívida das costas dos gregos. Os empréstimos ao país, como geralmente o são, foram arquitetados com o intuito de forçar a Grécia a continuar pedindo dinheiro emprestado à taxas de juros exorbitantes. A perspectiva de uma vitória do Syriza e a quase certa exigência para renegociar esse acordo escandaloso, iniciou uma campanha de medo vinda da sede da UE em Bruxelas, do governo alemão em Berlim e da elite político-econômica em Atenas.
[caption id="attachment_57844" align="alignleft" width="300"] Mapa da votação na Grécia: para o Syriza, em vermelho e para a Nova Democracia, em azul (Twitter)[/caption]
Durante essa campanha do medo que antecedeu as eleições nesse domingo, uma das ferramentas utilizada contra o Syriza, foi a taxação de "extremistas" e "radicais" - apesar de Syriza significar "Coalizão da Esquerda Radica", hoje isso está longe da realidade. Para Nick Malkoutzis, jornalista do jornal grego Ekathimerini, o partido de Tsipras tem, na realidade, propostas que "podem se enquadrar na social-democracia". "O que acontece é que muitos destes partidos europeus rumaram ao centro e esqueceram-se do que propunham", argumenta Malkoutzis
De fato, o Syriza reescreveu diversas de suas propostas que poderiam ser consideradas radicais demais, como cancelar unilateralmente o pagamento de sua dívida ou de nacionalizar todos os bancos gregos; a plataforma do Syriza mudou então para uma renegociação da dívida (que inclui um breve período de moratória) e a venda dos títulos dessa dívida de volta ao Banco Central Europeu - essa última medida, tem como objetivo de reativar o crescimento da economia grega, criar novos empregos e restaurar o salário mínimo para o nível pré-2008. Tudo isso sendo realizado na Zona do Euro, como ao contrário dos difamadores do partido, sempre foi a posição oficial do partido nessa corrida eleitoral.
Foto de Capa: Occupy