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Enquanto a elite política-econômica mundial se reúne nos Alpes suiços a fim de "discutir soluções para os problemas mais urgentes do planeta", inúmeros governos da América Latina colocam a mão na massa e fazem o trabalho eles mesmos. Assim sendo, quer soluções? Olhe para o Sul e, principalmente, para a esquerda
Por Vinicius Gomes, com informações de teleSur
Nessa semana, cerca de 1.700 jatinhos particulares pousaram na Suíça para que seus passageiros pudessem se dirigir até a cidade-resort de Davos, com alguns deles pagando no mínimo 70 mil dólares, para assistirem palestras, fazer newtwork e estarem entre os maiores bilionários e elites políticas - tudo com o suposto objetivo de resolverem os problemas mais urgentes do planeta. Assim como disse Klaush Schwab, o fundador e presidete-executivo do Fórum Econômico Mundial, "compartilhar e se importar deve ser o lema dessa reunião", que teve início na qaurta-feira e se encerra nesse domingo (24). Porém, de acordo com um artigo publicado pela teleSur, algumas pessoas não estão exatamente convencidas com a ideia do 1% hiper-rico do planeta discutindo, de maneira preocupada, os problemas do mundo enquanto bebem seus coquetéis.
"Davos serve apenas para pintar os super ricos de bonzinhos, como heróis. É sobre perpertuar o mito de que os ricos podem salvar o mundo com sua bondade e filantropia", disse Alex Scrivener, oficial político no organização britânica Global Justice Now. Para ele, os encontros de Davos são uma afirmação da perversidade do mercado e o motivo pela qual a economia global continua a servir apenas os interesses desse 1%. "A realidade é que aquelas pessoas só estão nessas posições de poder por causa de um sistema econômico injusto", argumentou. "Nós somos dependentes de pessoas como Bill Gates para ajudar a combater a pobreza global porque vivemos em um sistema que lhes permitem ter muito dinheiro, enquanto a maioria não tem nada".
Dois dias antes de esses "donos do mundo" se encontrarem novamente em suas reuniões anuais no Alpes, a organização sem fins lucrativos Oxfam, publicou um relatório afirmando que, em 2016, a riqueza acumulada desse 1% será maior que a do 99% restante da população mundial. Todavia, o estudo ainda aponta dois outros fatos preocupantes: nos últimos quatro anos, esses mais ricos têm aumentado seu patrimônio em uma velocidade cada vez maior e que a concentração de renda também tem se mostrado presente entre o 99%. Tais dados ecoariam o relatório de Scrivener, chamado "Os pobres estão ficando mais ricos, e outras ilusões perigosas" (em inglês), onde ele desmonta os diversos mitos que esses "líderes mundiais" estão tentando vender ao mundo e desmascara as falácias do livre comércio e privatização como meios de combater a pobreza, ou o crescimento econômico como solução para os problemas sociais.
Ou seja, o fim da pobreza deveria, primeiramente, passar pelo combate à desigualdade socioeconômica, por isso, como se lê no artigo da teleSur, a solução não virá olhando-se para o Norte, mas sim para o Sul e, principalmente, para a esquerda.
"A América Latina é um exemplo de lugar onde a igualdade está sendo produzida. Isso está tendo um efeito positivo contra a pobreza e isso é inegável", afirma Scrivener, que usa como base o relatório da ONU, de agosto de 2014, onde lê-se que a América Latina cortou sua taxa de pobreza quase pela metade (41,7% para 25,3% da população) entre os anos 2000 e 2012. Um período que, não coincidentemente, foi marcado por diversos governos de esquerda eleitos na região, e onde muitos deles deram suas costas ao Consenso de Washington - a infame receita de políticas neoliberais promovidas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial para "salvar" a região da década perdida de 1980. Todas essas medidas - desregulação de mercado, privatização, corte em benefícios sociais, entre outras - "foram amplamente apoiadas por grande parte das elites que se reúne todos os anos em Davos", afirma Mark Weisbrot, co-diretor do Center for Economic and Policy Research.
"A América Latina é uma região que foi forçada a passar por uma severa adaptação para não apenas pagar suas dívidas, mas também, uma vez que o FMI estava envolvido com os países credores, a passar por reformas estruturais que o Fundo e seus patrocinadores em Washington desejavam", afirma Weisbrot, que cita a situação atual da zona do euro, semelhante à América Latina dos anos 1980. "É o fracasso no crescimento econômico que explica, em grande parte, as eleições de governos esquerdistas em muitos paises latinoamericanos nos últimos 16 anos - fazendo com que a América Latina conquistasse sua 'segunda independência'".
Um sequencia de governos iniciadas com Hugo Chávez, eleito presidente da Venezuela em 1998, e que se espalhou para Brasil, Bolívia, Uruguai, Equador, Chile, Argentina, El Salvador e Nicarágua.
"Ocorreram consideráveis conquistas econômicas e sociais país segudio de país, incluindo redução da pobreza (uma redução maciça, em alguns casos), diminuição da desigualdade, aumento nos gastos com saúde e educação, queda no desemprego, aumento nos salários e muitas outras", conclui Weisbrot.
Foto de Capa: Itamaraty