Na última semana, a Corte Internacional de Justiça em Haia, na Holanda, anunciou que está iniciando um inquérito preliminar sobre possíveis crimes de guerra cometidos em territórios palestinos, focando principalmente nos 50 dias de ataque de Israel contra Gaza, em 2014 - resultando na morte de mais de 2.100 palestinos, incluindo 495 crianças e 253 mulheres.
Apesar de um inquérito não ser efetivamente uma investigação, esse é um dos passos mais significativos no que tange o governo israelense ser responsabilizado por suas ações - influenciado, sem dúvida nenhuma, pela confirmação da entrada da Palestina como membro da Corte Internacional em 1 de abril.
Segundo a procuradora Fatou Bensouda, nesse primeiro passo, a Corte terá de decidir se é o caso de lançar uma investigação completa sobre crimes de guerra "nos territórios ocupados da Palestina, incluindo a Jerusalém Oriental, desde 13 de junho de 2014", quando após Tel Aviv confirmar o desaparecimento de três jovens colonos israelenses, o exército de Israel invade casas, prende e mata diversos palestinos na Cisjordânia, dando ignição ao conflito que se estenderia até a Faixa de Gaza.
Para Francis Boyle, professor de direito em Illinois, EUA, os palestinos "tiveram muita coragem em fazer isso e revidar [contra Israel], mas que talvez a justiça não seja aplicada, pois a Corte segue, principalmente, a agenda política ditada pelos EUA e pelo Ocidente - aliados clássicos de Israel. O pessimismo de Boyle é ecoado por Marjorie Cohn, editora do livro Os Estados Unidos e a Tortura: Interrogação, encarceramento e abuso: "Existe uma tremenda pressão política dos EUA e de Israel para evitar tal resultado [Palestina se tornar membro da Corte]", pois isso fará com que Israel se torne passível de investigação e condenação. "O que resta é esperar para ver se Bensouda agirá com independência e aplicará o estatuto [da Corte]". Todavia, Nabil Abuznaid, chefe da delegação palestina em Haia, demonstra otimismo: "É uma questão legal agora e nós temos fé no sistema da Corte".
Sem surpresa alguma, o mais belicoso dos gaviões no governo israelense, o ministro de relações exteriores Avigdor Lieberman, afirmou que a decisão era "escandalosa" e que Tel Aviv tomaria ações internacionais para desmantelar a Corte Internacional de Justiça, que foi estabelecida para ajudar a pôr um fim à impunidade dos perpetradores de genocídio, crimes de guerra e contra a humanidade.
Assim sendo, estão todos agindo de acordo com o script.
Foto de Capa: Forças de Defesa de Israel