EUA no Iraque: jogando bombas, lucrando bilhões

Há 23 anos, quatros presidentes norte-americanos ordenaram o bombardeio do Iraque – matando centenas de milhares de pessoas no país e rendendo centenas de milhões de dólares à indústria de armas nos EUA.

Escrito en GLOBAL el
Há 24 anos, quatros presidentes norte-americanos ordenaram o bombardeio do Iraque – matando centenas de milhares de pessoas no país e rendendo centenas de milhões de dólares à indústria de armas nos EUA Por Vinicius Gomes George H. W. Bush: “Enquanto eu me dirijo a vocês, ataques aéreos estão acontecendo contra alvos militares no Iraque" (16/01/1991) Bill Clinton: “Boa noite. Hoje pela manhã, eu ordenei que as forças armadas dos EUA atacassem alvos militares no Iraque” (16/12/1998) George W. Bush: “Cidadãos, a essa hora, forças norte-americanas e da coalizão estão nos primeiros estágios das operações militares para desarmar o Iraque, libertar o seu povo e defender o mundo de um grave perigo” (20/03/2003) Barack Obama: “Para interromper o avanço em Erbil, eu ordenei nossos militares a realizarem ataques contra comboios terroristas do Isis se eles avançarem em direção à cidade” (07/08/2014) O “inimigo do momento”, que serve como motivo para os Estados Unidos praticarem seu passatempo favorito (jogar bombas no Iraque), é o Isis, ou IS, ou Estado Islâmico: o grupo terrorista que está dominando territórios no Iraque e na Síria, conduzindo limpeza étnica, escravização sexual de meninas e mulheres e, claro, cortando cabeças de ocidentais – realmente, um inimigo tentador demais para se resistir a um bombardeio. Ao passo que os congressistas norte-americanos deixaram a capital Washington para evitar ter que votar sobre a “legalização” do bombardeio na Síria, as bombas dos EUA já caíam no Iraque, contando com a ajuda de importantes aliados na região contra os sunitas cortadores-de-cabeça, principalmente a Arábia Saudita, que curiosamente também é uma praticamente de tal método de execução: em menos de três semanas, a monarquia saudita ordenou a decapitação pública de 19 pessoas, sendo uma delas acusada de feitiçaria. Não houve nenhum tipo de repúdio do governo dos EUA ou de sua imprensa contra esses cortes de cabeça. Se essa atual campanha, a “parte IV”, promovida por Obama contra o Isis, pode ser conectada à invasão do Iraque em 2003 (a parte III) – uma vez que foram as decisões pós-invasão (como debandar o exército iraquiano e privilegiar os xiitas) que fertilizaram o solo para o nascimento do Isis, seria necessário voltar até o período de Bush Sênior para entender por que os EUA simplesmente adoram bombardear o Iraque e, claro, é só pelo dinheiro. Se grande parte do mundo enxergava no fim da Guerra Fria uma chance para a paz, muitos dentro dos EUA viram como a chance de fazer dinheiro com a guerra. Como publicado pelo New York Times à época da primeira Guerra do Golfo, um conselheiro do Pentágono afirmou que “pela primeira vez em 40 anos, nós podemos conduzir operações militares no Oriente Médio sem termos que nos preocupar em começar a Terceira Guerra Mundial”. É importante ressaltar que, poucos meses antes, depois da queda do Muro de Berlim, ex-oficiais norte-americanos disseram ao Comitê de Orçamento do Senado dos EUA que os gastos militares do país poderiam ser cortados pela metade em 10 anos. Mas então, em agosto de 1990, tropas iraquianas invadiram o país vizinho Kuwait, uma pequena monarquia produtora de petróleo, pois Saddam culpava a pequena monarquia ao lado pela queda de seus lucros, ao ultrapassar sua cota de produção de acordo com a OPEP (Organização dos Países Produtores de Petróleo). De fato, duas semanas antes da invasão de Saddam, em uma reunião do grupo, países como o Irã e a Arábia Saudita não fizeram objeções às demandas do iraquiano, nem mesmo os EUA. De qualquer maneira, em 1991, após os bombardeios que mataram dezenas de milhares de iraquianos, os jatos e pilotos dos EUA foram enviados a uma feira de armas em Paris. Nos anos seguintes, os EUA bateram recordes em exportação de armas e, desde então, são responsáveis por mais de 40% na venda de armas no planeta. Nesse momento, as quatro maiores empresas armamentistas dos EUA bateram recordes em vendas desde que o bombardeio de Obama começou: Lockheed Martin, Raytheon, Northrop Grumman e General Dynamics. Em uma recente entrevista, um gerente da Lockheed afirmou que não há dúvida de que o mundo está se tornando um lugar cada vez mais perigoso. Enquanto isso, essas quatro empresas, mais a divisão militar da Boeing, arrecadaram cerca de 105 bilhões de dólares em contratos com o governo norte-americano. Foto de Capa: Traces of Reality