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A suposta estratégia de Obama em combater o Isis, utilizando os mesmos métodos que resultaram em sua própria criação, mostra o quão desconectada com a realidade está a política externa dos EUA
Por Jan Oberg, em Foreign Policy in Focus | Tradução: Vinicius Gomes
O discurso do presidente Barack Obama foi um recorde de baixeza em termos morais e de análise intelectual – tudo poderia ter sido resumido em “matar cada um dos integrantes do Isis em qualquer lugar do mundo”, pessoas que ele compara com células cancerígenas.
A guerra ao terror sempre foi sobre matar terroristas, mas você não pode matar um “ismo” – terrorismo. Para fazer algo sobre as causas que compelem as pessoas a se tornarem terroristas, seria algo muito mais eficiente.
O presidente disse repetidamente que a solução final é política, não militar. O discurso, no entanto, é exclusivamente militarista – nenhuma palavra sobre política, psicologia ou outros tópicos: Nós matamos pessoas porque achamos que é errado matar pessoas...
O discurso pode ser visto como uma prova da quão terrivelmente desorientada é a resposta dos EUA para o 11 de Setembro – se tivesse sido mais inteligente e menos vingativa, não teria ocorrido a devastadora guerra no Iraque, nem a criação do Isis.
É difícil ser o número 1 em um ranking, pois você só ensina para baixo. Se você fosse o número 20, haveria outros 19 na frente para se aprender alguma coisa. Parece que os EUA, fechados dentro de sua caixa de “excepcionalismo”, são incapazes de aprender lições.
A “estratégia” de Obama para a Guerra ao Terror irá, quase que com toda certeza, levar a mais terrorismo e ódio ao Ocidente. Afinal, o que os sunitas frustrados no Iraque pensarão de Obama? Ou a sociedade civil da Síria que não pega em armas? O discurso não teve nenhuma palavra sobre lei internacional, presumivelmente porque bombardear outros países é agressão – quando não existe uma ameaça e os “EUA estão mais seguros hoje do que no passado”.
Existe uma frase marcante de Obama, quando ele diz que, em duas semanas, ele irá sentar na cadeira de presidente do Conselho de Segurança da ONU. O quê? Algum chefe de Estado pode fazer isso?
Além disso, nenhuma palavra sobre a visão de longo prazo dos EUA para um Oriente Médio melhor – um indicativo de que não existe qualquer visão a respeito disso.
Os últimos dois minutos são, provavelmente, os mais interessantes: uma combinação de inigualável autoelogio, uma ligeira megalomania e autonegação quanto à mudança do papel dos EUA em um mundo em mudança.
Se essa é a liderança dos EUA em seu melhor – e é nisso que o presidente acredita – o mundo como conhecemos pode em breve desmoronar.