O silêncio da imprensa sobre a queda do MH17

Após uma campanha para culpar Vladimir Putin pelo assassinato de 298 pessoas, a imprensa internacional se cala frente as evidências apontando cada vez mais para os ucranianos apoiados pelos EUA.

Escrito en GLOBAL el
Após uma campanha para culpar Vladimir Putin pelo assassinato de 298 pessoas, a imprensa internacional se cala frente as evidências, apontando cada vez mais para os ucranianos apoiados pelos EUA Por Niles Williamson, em wsws.org | Tradução: Vinicius Gomes  O silêncio ensurdecedor do governo e da mídia dos EUA a respeito das investigações da queda do avião da Malaysian Airlines MH17, pouco mais de um mês atrás, "soa" estranho. [caption id="attachment_50335" align="alignleft" width="232"]A revista nacional Veja também entrou no frenesi midiático de culpar Putin sem qualquer tipo de evidência confirmando (Reprodução) A revista nacional Veja também entrou no frenesi midiático de culpar Putin sem qualquer tipo de evidência (Reprodução)[/caption] Em questão de horas após a queda, se prolongando pelos dias seguintes, oficiais norte-americanos passaram a alegar – sem produzir qualquer resquício de evidência – que o avião de passageiros, saindo da Holanda com destino à Malásia, havia sido derrubado por um míssil antiaéreo SA-11 disparado por separatistas pró-Rússia ao leste da Ucrânia. Eles, assim, lançaram uma campanha política para conseguir impor ainda mais severas sanções econômicas contra a Rússia e fortalecer a postura militarista da Otan na Europa Oriental. Sentindo cheiro de sangue, a imprensa norte-americana e europeia passaram a jogar a culpa pela queda no presidente russo Vladimir Putin. A cobertura da edição de 28 de julho da revista alemã Der Spiegel mostrou imagens de vítimas do MH17 junto de um texto em vermelho e negrito onde lia-se “Stoppt Putin Jetzt!” (Parem Putin Agora!). O editorial de 26 de julho do The Economist declarava que Putin era o autor da destruição do MH17, enquanto a revista colocou em sua capa, de maneira grotesca, o rosto de Putin sobreposto a uma teia de aranha, denunciando a “rede de mentiras de Putin”. Qualquer um, comparando a demonização de Putin pela mídia com o tratamento que estas deram a Saddam Hussein e Muamma Qaddafi, tem de concluir que Washington estava pavimentando um caminho para a mudança de regime em Moscou, como aquelas que aconteceram no Iraque e na Líbia – sendo que a diferença, dessa vez, era que os EUA estavam forçando uma guerra com uma potência nuclear, como a Rússia. Todavia, depois de ter usado a tragédia do avião como um casus belli contra a Rússia, a mídia ocidental largou completamente a mão de sua campanha. O New York Times não publica uma só palavra sobre a queda do avião desde 7 de agosto. [caption id="attachment_50336" align="alignright" width="230"]A alemã Der Spiegel com os dizeres "Parem Putin Agora!" (Reprodução) A alemã Der Spiegel com os dizeres "Parem Putin Agora!" (Reprodução)[/caption] Não existe uma explicação ingênua para o súbito desaparecimento do MH17 do foco midiático e político. A caixa preta do avião está sendo submetida a investigações por parte dos britânicos há semanas, e os satélites russos e norte-americanos – assim como seus radares militares – estavam vigiando de maneira intensiva o leste da Ucrânia no momento da queda. A alegação de que Washington não tem um conhecimento detalhado sobre as circunstâncias da queda, ou sobre as diversas forças envolvidas, não é verossímil. Se a evidência que os EUA têm nas mãos incriminasse apenas a Rússia ou as forças pró-Rússia na Ucrânia, eles já teriam liberado para alimentar a sanha da mídia contra Putin.  Se ela ainda não foi liberada, é porque as evidências apontam para o envolvimento do regime da Ucrânia em Kiev, assim como seus patrocinadores: os EUA e a Europa Ocidental. No início, a administração Obama não apresentou qualquer evidência para apoiar suas acusações incendiárias de que Putin era o responsável pela queda do MH17. Em sua conferência de imprensa, no dia 18 de julho – dia seguinte à queda -, o presidente Obama afirmou que ainda era “cedo demais para que nós fôssemos capazes de adivinhar quais eram as intenções que aqueles que poderiam ter lançado esse míssil antiaéreo poderiam ter tido”. Enquanto explorava de maneira cínica para pressionar e ameaçar a Rússia, Obama alertava que “provavelmente haveria desinformação” na cobertura da queda. Nesse caso, a desinformação sobre a queda do MH17 veio da própria administração Obama, com o secretário de estado John Kerry partindo para uma blitz midiática em 20 de julho, afirmando que separatistas pró-Rússia e o governo russo eram os responsáveis pela destruição do avião. A única evidência que ele apresentou então foram algumas duvidosas “gravações em redes sociais” postadas na internet. Ele apresentou gravações de áudio não-autênticas de separatistas conversando sobre a queda de um avião, editada e liberada pelo serviço de espionagem ucran [caption id="attachment_50337" align="alignleft" width="228"]A britânica The Economist "denunciava" a rede de mentiras de Putin... (Reprodução) A britânica The Economist "denunciava" a rede de mentiras de Putin (Reprodução)[/caption] iano, o SBU, que trabalha de maneira próxima à CIA norte-americana; um vídeo do YouTube também foi apresentado mostrando um caminhão transportando equipamentos militares não-identificados por um estrada e um discurso – já desacreditado – postado online, atribuindo a responsabilidade por derrubar o avião a Igor Strelkov. Muito rapidamente, o roteiro do governo norte-americano pela queda do MH17 começou a entrar em colapso. Em uma conferência de imprensa no dia 21 de julho, Marie Harf, porta-voz do Departamento de Estado e ex-analista do Oriente Médio pela CIA, declarou que as conclusões da administração Obama sobre a queda do avião eram “baseadas basicamente em senso comum”. Desafiada pelos repórteres a fornecer evidências, ela admitiu que não as tinha: “Eu sei que é frustrante. Acreditem em mim, nós estamos tentando conseguir o máximo [de evidências] possível. E, por alguma razão, às vezes não conseguimos”. Após um mês de tentativas fracassadas de Washington em conseguir evidências para confirmar suas acusações contra Putin, fica claro que a ofensiva política dos governos da Otan e o frenesi da mídia contra a Rússia, eram baseadas em mentiras. Se os separatistas pró-Rússia tivessem disparado os mísseis antiaéreos, como os EUA alegam, eles teriam imagens mostrando isso em sua posse, confirmando a acusação sem deixar qualquer sombra de dúvida, pois os EUA possuem um programa de satélite com sensores infravermelho para detectar lançamento de mísseis em qualquer lugar no planeta, assim como os radares norte-americanos localizados em postos na Europa teriam rastreado a trajetória do míssil pelos céus. As informações desses satélites e radares não foram liberadas ao público, pois qualquer coisa que elas devam mostrar não se encaixa no roteiro produzido pelo governo dos EUA nem de sua imprensa. O que parece surgir, no entanto, são evidências apontando para a participação do regime em Kiev, apoiado pelos EUA, na derrubada do MH17. Um dia após o secretário Kerry fazer suas denúncias, os militares russos apresentaram informações de radar e satélite indicando que um caça ucraniano SU-25 estava em uma região próxima e ascendendo aos céus após a queda do MH17. Essa afirmação não foi respondida, muito menos refutada pelo governo norte-americano. Em 9 de agosto, o jornal malaio New Straits Times publicou um artigo, acusando o governo em Kiev de derrubar o MH17. Lia-se ali que evidências do local da queda indicavam que o avião foi derrubado a míssil por um caça ucraniano, assim como evidências de uso de armamento pesado de metralhadora. Enquanto ainda é muito cedo para dizer de maneira conclusiva que o MH17 foi derrubado, as evidências preponderantes apontam para o regime ucraniano e, por trás das cortinas, o governo norte-americano e as potências europeias. Eles criaram as condições para a destruição do MH17, apoiando um golpe fascista no país, em fevereiro desse ano, que levou os atuais governantes pró-ocidente ao poder. A mídia ocidental passou a apoiar a guerra de Kiev para reprimir a oposição no leste da Ucrânia, transformando a região na zona de guerra a qual então o MH17 foi derrubado. Após o assassinato de 298 pessoas a bordo do MH17, na qual elas tiveram um importante e ainda-por-ser-explicado papel, os governos ocidentais, assim como suas agências de inteligência, se aproveitaram de sua tragédia em uma sinistra e precipitada manobra para escalar as ameaças de guerra contra o governo de Putin. Quem cala consente, e o silêncio ensurdecedor da mídia ocidental sobre o possível envolvimento de Kiev na queda do MH17 comprova a criminalização não apenas da estrutura da política externa desses governos, mas também de seus lacaios midiáticos e de toda a classe governante.