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Investidores começaram a retirar em massa recursos à medida que o Banco Central dos Estados Unidos foi diminuindo o fluxo de dinheiro para o sistema
Por Marco Antonio Moreno, no El Blog Salmón. Tradução de Luis Leiria para o Esquerda.net
A volatilidade voltou a pôr os mercados financeiros nervosos e está provocando novas tempestades monetárias que ameaçam colocar por terra a morna recuperação econômica. Este cenário parecia impossível no final do ano passado, mas advertimos aqui e aqui para essa possibilidade. Não só dificulta uma fraca recuperação, como ficam em sério perigo os países que até ao momento tinham evitado discretamente a crise iniciada há seis anos.
Desde meados de janeiro, a tempestade monetária sopra com força sobre os países emergentes, que viram as suas moedas afundarem-se pelos caprichosos resvalos dos mercados de capitais. As moedas da Argentina, Turquia, Rússia, Índia e África do Sul sofreram fortes ataques desvalorizadores. E se até há pouco os países BRICS (Brasil, Rússia, Índia, Chinesa e África do Sul) eram um refúgio seguro para os investidores internacionais de todo o tipo, os ventos mudaram de direção de maneira notável, deixando a nu a precariedade de todo o sistema. O Índice MSCI Emerging Markets caiu 7% desde o início de janeiro, o dobro da queda dos mercados europeus e dos Estados Unidos.
A causa deste colapso é em grande parte a mesma que tínhamos observado em maio e junho do ano passado (ver gráfico). Desde essa altura, os investidores começaram a retirar em massa capitais das divisas emergentes e, à medida que o Banco Central dos EUA foi diminuindo o fluxo de dinheiro para o sistema (10 bilhões de dólares em dezembro e outros 10 bilhões de dólares em janeiro), o dinheiro começa a ser mais rentável nos Estados Unidos. O endurecimento gradual da política monetária nos últimos meses de Bernanke desencadeou o movimento de reação violenta.
Medidas drásticas
Para travar esta queda, os bancos centrais de muitos países emergentes tomaram medidas drásticas para apoiar as suas moedas. Na semana passada, o banco central da Turquia subiu a sua taxa de juros de referência de política monetária de 4,4% para 10%, a Índia subiu-a para 8% enquanto a África do Sul aumentou a sua taxa de política monetária para 5,5%. Por seu lado, o Banco Central da Rússia investiu bilhões de dólares para deter a queda do rublo.
Mas nenhuma destas medidas conseguiu acalmar os investidores que continuam a fugir em debandada dos mercados emergentes e provocaram fortes reações nas bolsas mundiais, como o Ibex e o Dow Jones, que perderam todo o ganho no ano. A ideia que transparece nesta queda não esconde o efeito China e a sua desaceleração econômica. A China deu grande impulso aos países emergentes e é o único dos BRICS que se mantém firme. Mas a desaceleração que provoca a queda da sua atividade econômica torna-se extensível ao resto dos emergentes. A queda do comércio mundial marca um ponto de inflexão na expansão da China, obrigada ao recuo depois do estouro das suas bolhas internas.
A situação torna-se um pouco mais complexa se consideramos os déficits gêmeos (déficit público e déficit de conta corrente) da Turquia, Brasil, Indonésia, Índia e África do Sul, junto com a redução das taxas de crescimento e o aumento da inflação. Além disso, a incerteza política que percorre a Turquia, Ucrânia e Tailândia não faz mais do que propagar os desequilíbrios externos e o aumento do risco soberano. Ou a fuga de capitais que sofrem a Indonésia, a Malásia, Taiwan e Tailândia. Todos estes países terão um crescimento menor do que o previsto em dezembro e a China não poderá socorrê-los pela via comercial porque enfrenta a sua própria contração, dado o excessivo endividamento da banca e dos governos locais.
Espiral descendente
Os países emergentes encontram-se numa espiral descendente e com os fluxos de capital em reversão. Os tempos em que as moedas destes países se apreciavam e ganhavam poder aquisitivo para comprar no estrangeiro evaporaram-se. Estes países não terão outra opção senão limitar os fluxos de capital com a ajuda do Fundo Monetário Internacional, à espera de que este os socorra quando começarem a ter necessidades de liquidez.
Se o risco de contágio é mais preocupante hoje do que há seis anos, é porque o peso destes países na economia mundial cresceu. Segundo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), os países desenvolvidos tinham 60% da produção de riqueza mundial no ano 2000, mas caiu para 51% em 2010, e espera-se que chegue a 43% em 2030.
O Fed não pretende ser o banco central do mundo, mas as suas políticas afetam todo mundo. Raghuram Rajan, presidente do Banco Central da Índia, pediu uma melhor cooperação entre os países desenvolvidos e os emergentes. “Os Estados Unidos deveriam estar mais preocupados com os efeitos da sua política monetária no resto do mundo, e não só com o que é apropriado para a situação no seu próprio país”. O Banco Central dos EUA, na sua reunião de política monetária da semana passada, não disse uma única palavra sobre os mercados emergentes.