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Principal e mais rica região da Ucrânia, onde a etnia russa é majoritária, é a grande trincheira da oposição à liderança golpista em Kiev
Por Correio do Brasil
[caption id="attachment_43224" align="alignleft" width="300"] Integrantes das forças neonazistas que tomaram o poder na Ucrânia desfilam pelas principais ruas de Kiev (Correio do Brasil)[/caption]
Um grupo de homens leais ao governo democrático da Ucrânia ocupa, desde as primeiras horas desta quinta-feira, a sede do Legislativo e do governo regional da Crimeia, onde foi hasteada uma bandeira russa. A ação mostrou aos novos governantes da Ucrânia que o golpe de Estado, ligado ao neonazismo, não foi aceito pela maioria dos ucranianos. Os artífices da manobra pediram a Moscou que não mobilize tropas na península, onde a Rússia mantém uma base naval.
– Apelo à liderança militar da frota russa do mar Negro. Quaisquer movimentos militares, ainda mais com armas, além dos limites desse território (a base naval) serão vistos por nós como uma agressão militar – disse Olexander Turchinov, presidente de facto da Ucrânia desde a derrubada de Viktor Yanukovich, no fim de semana passado, e ligado às forças neonazistas que ocupam o Palácio do Governo.
A nova chancelaria ucraniana também convocou o embaixador interino da Rússia em Kiev para consultas. A Crimeia, principal e mais rica região da Ucrânia onde a etnia russa é majoritária, é a grande trincheira da oposição à liderança golpista em Kiev. A Ucrânia vive uma grave crise há três meses, desde que Yanukovich rejeitou um acordo de associação comercial com a União Europeia, preferindo o relacionamento histórico com a Rússia. A decisão deu início a protestos que resultaram em cerca de 100 mortes, culminando com a deposição do presidente.
A instabilidade política fez com que a cotação do dólar chegasse ao valor recorde de 11 grívnias, a moeda local, segundo a plataforma de mercado da agência inglesa de notícias Reuters. Operadores do mercado futuro preveem uma cotação ainda maior dentro de seis meses, em 11,65 grívnias por dólar. Em Kiev, o governo provisório aprovou a formação de um gabinete de coalizão nacional, propondo o nome de Arseny Yatseniuk, ex-ministro da Economia, como primeiro-ministro.
Também na quinta-feira, Yanukovich declarou ser ainda o presidente da Ucrânia, e alertou os governantes “ilegítimos” de que a população do sul e sudeste – com mais afinidades com a Rússia do que com a UE – não aceitará ser “governada por bandidos”. Em nota enviada de local desconhecido às agências russas de notícias, Yanukovich recriminou os “extremistas” que usurparam o poder, ameaçaram-no com a violência e aprovaram leis “ilegais”.
A Rússia concordou em garantir segurança pessoal ao presidente ucraniano destituído do poder, Viktor Yanukovich, informaram agências de notícias russas citando declarações feitas por uma autoridade na quinta-feira.
“Em relação ao pedido do presidente Yanukovich para que sua segurança pessoal seja garantida, eu informo que a solicitação foi aceita em território da Federação Russa”, disse a fonte, segundo a agência russa de notícias Interfax.
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia exortou os países que encorajaram a oposição da Ucrânia, a se darem conta da sua responsabilidade pelo acordo sobre a regularização da crise.
“Exortamos os países que desde o início encorajaram as ações da oposição, que promoveram e apoiaram o acordo de 21 de fevereiro, a se darem conta de sua total responsabilidade por sua implementação. São pouco sérias as afirmações de que esse documento, ao desempenhar o seu papel, já caducou”, disse, na declaração da chancelaria russa.
A mudança de poder em qualquer país deve corresponder à lei, e aquilo que aconteceu na Ucrânia, não se pode qualificar como estando de acordo com a Constituição, também declarou aos jornalistas Serguei Naryshkin, presidente da Duma de Estado da Rússia, durante sua visita à Alemanha.
– Como presidente do órgão legislativo e representativo máximo, considero que qualquer mudança de poder em qualquer país deve corresponder à lei e à Constituição, e não ser operada com argumentos tais como bastões de baseball, varas metálicas, pedras da calçada e garrafas incendiárias – frisou Naryshkin.
Opinião russa
Em sua edição desta quinta-feira, o diário russo Pravda, um dos mais antigos e respeitados naquele país, publicou artigo de sua redação no qual afirma que “a situação na Ucrânia configura a crise politica e social mais grave ocorrida no Continente Europeu desde a guerra de agressão contra a Iugoslávia. Uma aparente dualidade de poderes oculta um real vazio de poder”.
“A Câmara dos Deputados (Rada) pretende controlar a situação. Oleksandr Turtchinov, do Partido Pátria, de Júlia Timoshenko, assumiu interinamente a presidência do país. Esse órgão legislativo destituiu o presidente Yanukovitch, restabeleceu a Constituição de 2004 e marcou eleições presidenciais para 25 de Maio. A Ucrânia está à beira da bancarrota e muita água correrá pelo Dnieper até essa data”.
“Na prática os grupos extremistas da Praça Maidan que recusaram o Acordo firmado por Yanukovitch, pelos ministros dos Negócios Estrangeiros de países da União Europeia e pela oposição da Rada, forçaram o presidente (cujo comportamento foi indecoroso) a fugir para Kharkov, e emergem como poder real na caótica situação criada na Ucrânia Ocidental”, conclui o editorial.