“O deus mercado organiza a economia, a vida e financia a aparência de felicidade”, diz presidente do Uruguai
Da Redação
[caption id="attachment_31982" align="alignright" width="360"] As palavras-chave do discurso de Mujica[/caption]O discurso do presidente do Uruguai, Pepe Mujica, na 68ª Assembleia Geral da ONU, surpreendeu ao criticar o “inútel” bloqueio a Cuba, o “deus mercado” e a própria Nações Unidas: “Talvez nosso mundo necessite menos de organismos mundiais, desses que organizam fórums e conferências, que servem muito às cadeias hoteleiras e às companhias aéreas e, no melhor dos casos, não reúne ninguém e transforma em decisões...Bloqueiam esta ONU que foi criada com uma esperança e como um sonho de paz para a humanidade....A ONU, nossa ONU, enlanguece, se burocratiza por falta de poder e de autonomia, de reconhecimento e, sobretudo, de democracia para o mundo mais fraco que constitui a maioria esmagadora do planeta.”
Mujica teceu críticas à sociedade atual centrada no consumismo: “Parece que nascemos apenas para consumir e consumir e, quando não podemos, nos enchemos de frustração, pobreza e até autoexclusão”. Segundo o presidente, se todos consumissem igual a um americano médio, seriam necessários três planetas Terras para podermos viver. “Arrasamos a selva, as selvas verdadeiras, e implantamos selvas anônimas de cimento. Enfrentamos o sedentarismo com esteiras, a insônia com comprimidos, a solidão com eletrônicos, porque somos felizes longe da convivência humana.....Há marketing para tudo, para os cemitérios, os serviços fúnebres, as maternidades, para pais, para mães, passando pelas secretárias, pelos automóveis e pelas férias. Tudo, tudo é negócio.”
Mujica, que já havia surpreendido em seu discurso na Rio+20, no ano passado, e vem implantando medidas progressistas em seu país, criticou o fato de que “a cada minuto no mundo se gastam US$ 2 milhões em ações militares nesta terra. Dois milhões de dólares por minuto em inteligência militar! Em investigação médica, de todas as enfermidades que avançaram enormemente, cuja cura dá às pessoas uns anos a mais de vida, a investigação cobre apenas a quinta parte da investigação militar”.
Mujica criticou ainda a desigualdade do mundo: “Não podemos ser iguais nesse mundo onde há mais fortes e mais fracos. Portanto, é uma democracia ferida e está cerceando a história de um possível acordo mundial de paz, militante, combativo e verdadeiramente existente”.
Apesar das críticas, Mujica reforçou sua crença na humanidade: "É possível arrancar tranquilamente toda a indigência do planeta. É possível criar estabilidade e será possível para as gerações vindouras, se conseguirem raciocinar como espécie e não só como indivíduos, levar a vida à galáxia e seguir com esse sonho conquistador que carregamos em nossa genética. Mas, para que todos esses sonhos sejam possíveis, precisamos governar a nos mesmos, ou sucumbiremos porque não somos capazes de estar à altura da civilização em que fomos desenvolvendo."
Assista ao vídeo abaixo e confira a íntegra em português aqui