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A aliança centro-direita CDU-CSU ocupará a maioria das cadeiras do parlamento alemão (311 de 630 deputados). A surpresa, porém, está nas novas coalizões do terceiro governo Merkel
Por Tainã Mansani, da Alemanha
[caption id="attachment_31743" align="alignright" width="300"] Cool Bleiben - cartaz diz "Fique calmo e vote na chanceler" (Foto Alexandra Belopolsky)[/caption]
“Fique calmo e vote na chanceler”; foi o gesto com as mãos característico de Angela Merkel, atual chanceler da Alemanha, que virou símbolo da campanha pela sua terceira eleição consecutiva. Deu certo; mas, de acordo com os resultados das eleições divulgados nessa madrugada, quem deverá ter bastante calma para escolher novos aliados diante da nova configuração política no parlamento alemão é a própria Angela Merkel.
No sistema político alemão o (a) chanceler é escolhido (a) pelo parlamento. Apenas esse último é eleito pelo voto direto da população. Não há eleições diretas para o chefe do poder executivo (o chanceler). A composição do parlamento define as coalizões e a linha de governo, daí sua importância. Angela Merkel, a candidata do conservador CDU (União Democrata Cristã), consagrou a sua vitória com a aliança CDU/CSU (União Social Cristã), obtendo 41,5% dos votos. O passo posterior, porém, é a definição dos partidos com os quais essa coalizão deverá se unir para governar.
A grande surpresa foi o baixo percentual de votos (4,8%) obtido pelo partido liberal FDP (Partido Democrata Livre), a atual coalizão do governo Merkel. Pela lei alemã, com menos de 5% partidos não ocupam cadeiras no parlamento. Embora a chanceler tenha afirmado ser cedo para decidir planos para o próximo governo, seu partido deverá forjar coalizão com os seus principais adversários, o Partido Social - Democrata SPD (centro-esquerda) ou com os Verdes.
Os principais partidos alemães e as definições de voto em 2013 são CDU/ CSU (centro-direita) 41,5%; o SPD (centro-esquerda) 25,7%; o Die Linke (A Esquerda) com 8,6%; Die Grüne (Os Verdes), com 8,4%. Com a nova configuração estão fora do Parlamento os liberais do FDP (4,8%) e a AfD (Alternativa para a Alemanha), 4,8%, um novo partido que defende o fim do Euro.
Enquanto os liberais do FDP querem mais mercado e menos impostos (atualmente cerca de 40% da renda dos alemães); o SPD, o partido mais antigo da Alemanha, e provável novo aliado de Merkel, cunha como sua principal marca o salário mínimo, que atualmente na Alemanha não existe.
Dez anos após as mais recentes reformas trabalhistas, a Alemanha tem as taxas de desemprego mais baixas da União Europeia, cerca de 5,4% contra uma média de 10,9%. Entre esses números, porém, estão os cada vez mais baixos salários, os contratos temporários e os “mini-Jobs”, uma forma de trabalho na qual se recebe até 400 euros por mês, porém sem regulamentação de trabalho fixo. Nesse esquema de trabalho é possível obter subsídio do estado para compor o valor mínimo de 700 euros, num programa conhecido como “Hartz IV“.
Se, por um lado, essa lógica de auxílio social alivia tensões socioeconômicas na renda dos mais pobres, pois o governo subsidia pessoas com salários inferiores a 400 euros; por outro, esse sistema de auxílio social descompromete empregadores em oferecer postos de trabalho fixos, os aliviando, assim, do pagamento de encargos trabalhistas.
Esse cenário explica, em partes, a consolidação do partido democrático socialista “Die Linke” (A Esquerda), representado pelo ex-membro do partido comunista da ex- Alemanha Oriental socialista, Gregor Gysi, como a terceira maior força política da Alemanha, à frente dos Verdes, “Die Grüne”, e mesmo dos liberais do FDP, que compuseram a última coalizão com Angela Merkel.
Um país confortável?
A Alemanha tem um dos melhores níveis de bem-estar social da Europa e do mundo. Sistema educacional público de qualidade que permite qualificação de ponta aos profissionais de diversas áreas. Para certos ramos, no entanto, a precarização das relações de trabalho é crescente. Exemplos são os conhecidos contratos de “freelancer” ou os mencionados “minijobs”. Mesmo formados, profissionais, sobretudo das áreas de Ciências Humanas, têm dificuldades em se encaixar no mercado de trabalho. O resultado para muitos é conciliar a renda com estágios, permitidos mesmo após a formação universitária, e onde encontram a única saída diante de um mercado de trabalho com postos fixos cada vez mais escassos. A situação é mais drástica em Berlim.
Apesar da mencionada precarização das relações de trabalho, se comparada a outros países da Europa, a Alemanha sustenta também os menores níveis de desemprego entre jovens. Com a crise econômica na Europa, o contingente de jovens profissionais da Espanha, Grécia e Portugal migrando para a cidades alemãs, e principalmente para a capital alemã, aumentou consideravelmente. Em busca de novas possibilidades na Alemanha, onde a economia supostamente vai bem, muitos desses jovens sonham com trabalho mas se deparam com outro problema: a dificuldade de integração e o aprendizado do idioma, requisito fundamental para entrar no mercado.
É por isso que, além dos alemães, também os portugueses, gregos, espanhóis e italianos aguardaram os resultados da nova coalizão que irá compor o governo alemão. A política externa em relação a economia europeia deverá mudar se o partido de Angela Merkel definir parceria com o centro-esquerda SPD. Diferentemente dos liberais, os social - democratas representados pelo SPD tendem a ser mais simpáticos à situação dos países em crise - ainda que deixem claro “limites”, sem propor mudanças radicais nas medidas de austeridade econômica aos assim chamados “países do sul” – Portugal, Grécia, Espanha e Itália. Um tema delicado e nem tanto mencionado pelos principais candidatos a chanceler, Angela Merkel (CDU) e o seu rival social - democrata Peer Steinbrück (SPD).
Grécia e Portugal não contam
[caption id="attachment_31744" align="alignleft" width="362"] (Reprodução)[/caption]
Se os candidatos a chanceler pouco falaram sobre as suas intenções em relação aos rumos da política econômica a ser seguida na zona do euro nos próximos quatro anos, também veículos da mídia alemã deixaram suas lacunas. Em artigo publicado por um dos mais importantes jornais da Alemanha, o Spiegel online, se comparava: “de Moscou, passando pela Cidade do Cabo, até o Rio de Janeiro: assim o mundo vê as eleições na Alemanha”. O artigo trazia textos de correspondentes desse jornal em diferentes países relatando as percepções no mundo sobre as eleições na Alemanha.
O Brasil não ficou de fora, mostrando – se que nesse país se via o principal rival de Merkel, Peer Steinbrück, como um "cabeça quente", em referência ao modo como foi mencionado pelo jornal GloboNews. Cidades como Nova Déli e Paris também foram citadas. A Espanha entrou por último, considerando-se que por lá Angela Merkel atualmente “não é muito querida”. A Grécia e Portugal, principais afetados pela política econômica alemã proposta à Europa, não entraram no grupo dos países cuja percepção sobre as eleições na Alemanha tenha sido mencionada pelo jornal online Spiegel.