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Apesar do discurso integracionista, Cartes não deixa claro se o Paraguai retorna ao Mercosul
Por Mariana Serafini, de Assunção
Uma Assunção apática recebeu o novo presidente eleito, Horacio Cartes na manhã de quinta-feira (15). Pouca gente nas ruas, quase não se viam bandeiras do Partido Colorado. O dia amanheceu gelado, mas o sol brindou a posse do novo presidente. Horacio Cartes assumiu seu primeiro cargo público com um discurso conciliador e integracionista. Reiterou o que havia dito no dia em que foi eleito, e afirmou “governar para todos os paraguaios”.
Cartes, 57, é um bem sucedido empresário paraguaio, atua no ramo de tabaco, bebidas e agropecuária. Filiado há pouco mais de dois anos ao Partido Colorado, Cartes votou pela primeira vez nas eleições realizadas este ano quando foi eleito presidente da República. Vale lembrar que no Paraguai o voto não é obrigatório. Como bom empresário, Cartes destaca em seu discurso a geração de oportunidades. “Devemos focar na geração de emprego, estabilidade econômica, funcionamento do mercado e sustentabilidade do setor público”.
Integracionista, mas não muito. A presidenta Dilma Rousseff teve uma breve reunião com o presidente na noite de quarta-feira (14) para tratar as questões do Mercosul, no entanto não trouxe novidades. Segundo Rousseff, a conversa avançou, mas ainda não existe um posicionamento do presidente, que confirmou presença na reunião da Unasul – União das Nações Sul-Americanas realizada em breve.
[caption id="attachment_29141" align="alignright" width="420"] Posse do presidente paraguaio Horacio Cartes (Roberto Stuckert Filho/Presidência da República)[/caption]
Desde o Golpe Parlamentar, ocorrido em 21 de junho de 2012, o Paraguai está suspenso do Mercosul. No entanto, o novo presidente não parece muito interessado em voltar o bloco. Nas entrevistas mais recentes, vem afirmando que o Paraguai pode alçar novos voos, o que dá a entender seu interesse com relação à Aliança do Pacífico.
“Um Paraguai para todos os paraguaios, sem distinção de classe social”, assim o empresário anunciou que será seu governo. No entanto, a poucos metros do Palácio do Governo, milhares de professores fizeram uma manifestação exigindo melhorias na Lei de Aposentadoria. Enquanto isso, na praça do Panteón de Los Heróes, movimentos sociais realizaram uma intervenção urbana comemorando o fim do governo de quem eles chamam de “Frauderico Franco”, o presidente Liberal, Frederico Franco, que assumiu após o Golpe Parlamentar.
Apenas cinco chefes de Estado latino-americanos estiveram presentes no juramento de Cartes, Dilma Rousseff, Cristina Kirchner, e José Mujica, dos países que compõem o Mercosul, Brasil, Argentina e Uruguai, respectivamente. O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, não foi convidado para o evento. Representando a Aliança do Pacífico estiveram presentes os presidentes chileno, Sebastián Piñera e o peruano Ollanta Humala.
Manifestações
Apesar do discurso de Cartes fomentar o incentivo aos trabalhadores e à geração de emprego, os professores do Paraguai aproveitaram a oportunidade para realizar uma grande manifestação a poucos metros do Palácio do Governo, ou melhor, o mais próximo possível devido à intensa segurança militar.
Eles vieram de várias partes do país e para exigir mudanças na Lei da Aposentadoria. Reivindicam melhores salários e melhorias significativas na estrutura das escolas, tanto básicas, quanto de ensino médio. Segundo a professora Blanca Avalos, dirigente da OTEP – Organização de Trabalhadores da Educação do Paraguai - 75% das escolas no país estão em situação precária e mais de 65 mi crianças estão fora da escola, “vendendo galetitas na rua”, afirma.
Além disso, 130 mil jovens não tem oportunidade de trabalho. “Desenvolver uma educação pública de qualidade é o maior desafio do novo presidente eleito, Horácio Cartes”, disse. A Lei de Aposentadoria dos professores já foi aprovada no senado, mas é a câmara dos deputados que está atrasando o processo. Há mais de 15 dias os professores fazem manifestações em Assunção.
Também próximo ao Palácio do Governo, na praça do Panteón de Los Heróes, diversos movimentos sociais se reuniram para uma intervenção urbana que comemorou o fim do governo Liberal de Federico Franco, a quem eles chamam de “Frauderico”. Vestidos de palhaços e com muitos adereços, os grupos encenaram períodos polêmicos da curta administração do liberal.
Que pasó em Curuguaty
A pergunta não se cala, e os movimentos sociais aproveitaram a ocasião também para exigir a liberdade dos 14 presos políticos detidos sem provas logo após o massacre ocorrido em Curuguaty em 15 de junho de 2012. Estão presos homens, mulheres e dois menores de idade.