Paciente é uma menina de dois anos e meio, que não toma mais medicamentos e onde não se encontra mais sinais de infecção
Do Opera Mundi
Uma equipe de virologistas dos Estados Unidos anunciou neste domingo (03/03) o primeiro caso de cura funcional da Aids, envolvendo uma menina que nasceu com o HIV transmitido pela mãe. A criança tem hoje dois anos e meio e não toma o medicamento há cerca de um ano, sem sinais de infecção.
Não se trata de uma erradicação do vírus, mas de uma presença tão débil que o sistema imunológico do organismo está em condições de controlá-lo sem qualquer necessidade de tratamento antiretroviral, explicaram os pesquisadores. A criança em questão, nascida na zona rural do Mississippi, mantém o HIV sob controle.
Ela foi tratada com medicamentos anti-retrovirais cerca de 30 horas após seu nascimento, algo que normalmente não é feito. Durante a gestação, a mãe não foi tratada contra a Aids. Com 29 dias de vida, a presença do vírus ficou indetectável. Os exames realizados posteriormente não revelaram a presença do HIV no sangue da menina.
"A realização de uma terapia antirretroviral muito cedo nos recém-nascidos pode permitir uma longa remissão sem antirretrovirais, ao impedir a formação destas reservas virais ocultas", como ocorreu com a criança, destaca a doutora Deborah Persaud, do Centro de Crianças do Hospital Universitário da Universidade John Hopkins, de Baltimore (Estado de Maryland).
O desaparecimento do HIV sem tratamento permanente é algo extremamente raro, e observado apenas em 0,5% dos adultos infectados, cujo sistema imunológico impede a reprodução do vírus e o converte em clinicamente indetectável.
Os especialistas afirmam que o caso pode mudar a atual prática médica, ao revelar o potencial de um tratamento antirretroviral muito cedo, após o nascimento de crianças com altos riscos potenciais.
Os tratamentos antirretrovirais em mães portadoras do HIV durante a gestação permitem atualmente alcançar este objetivo em 98% dos casos, destacam os especialistas.
A única cura total da Aids oficialmente reconhecida ocorreu com o americano Timothy Brown, conhecido como “o paciente de Berlim”, declarado livre do HIV após realizar um transplante de medula óssea de um doador que apresentava uma mutação genética rara que impediu o vírus de penetrar na células. O transplante visava salvar Brown de uma leucemia. "Para os pediatras, este pode ser nosso Timothy Brown", afirmou Deborah.
O estudo foi financiado pelos institutos nacionais de saúde e pela Fundação Americana para a Pesquisa da Aids.