Ao contrário do que afirma, dissidente possui padrão de vida inacessível para a imensa maioria dos cubano
Por Salim Lamrani, no Operamundi
[caption id="attachment_20380" align="alignleft" width="300"] Yoani possui renda mensal de 6 mil dólares (Foto: Wikimedia Commons)[/caption]Ao ler o blog da dissidente cubana Yoani Sánchez, é inevitável sentir empatia por esta jovem mulher, que expressa abertamente sua oposição ao governo de Havana. Descreve cenas cotidianas de privações e de penúrias de todo tipo. “Uma dessas cenas recorrentes é a de perseguir os alimentos e outros produtos básicos em meio ao desabastecimento crônico de nossos mercados”, escreve em seu blog Generación Y. [1]
De fato, a imagem que Yoani Sánchez apresenta dela mesma – uma mulher com aspecto frágil que luta contra o poder estatal e contra as dificuldades de ordem material – está muito longe da realidade. Com efeito, a dissidente cubana dispõe de um padrão de vida que quase nenhum outro cubano da ilha pode se permitir ter.
Mais de seis mil dólares de renda mensal.
A SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa), que agrupa os grandes conglomerados midiáticos privados do continente, decidiu nomeá-la vice-presidente regional de sua Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação [2] por Cuba. Sánchez, que como de costume, é tão expressiva em seu blog, manteve um silêncio hermético sobre seu novo cargo. Há uma razão para isso: sua remuneração. A oposicionista cubana dispõe agora de um salário de seis mil dólares mensais, livres de impostos. Trata-se de uma renda bastante alta, habitualmente reservada aos quadros superiores das nações mais ricas. Essa importância é ainda maior considerando que Yoani Sánchez reside em um país de Terceiro Mundo em que o Estado de bem-estar social está presente e onde a maioria dos preços dos produtos de necessidade básica está fortemente subsidiada.
Em Cuba, existe uma dupla circulação monetária: o CUC e o CUP. O CUC representa aproximadamente 0,80 dólares ou 25 CUP. Assim, com seu salário da SIP, Yoani Sánchez dispõe de uma renda equivalente a 4.800 CUC ou a 120.000 CUP.
O poder aquisitivo de Yoani Sánchez
Avaliemos agora o poder aquisitivo da dissidente cubana. Assim, com um salário semelhante, Sánchez poderia pagar, a escolher:
- 300.000 passagens de ônibus; - 6.000 viagens de táxi por toda Havana [3] - 60.000 entradas para o cinema; - 24.000 entradas para o teatro; - 6.000 livros novos; - 24.000 meses de aluguel de um apartamento de dois quartos em Havana [4]; - 120.000 copos de garapa (suco de cana); - 12.000 hambúrgueres; - 12.000 pizzas; - 9.600 cervejas; - 17.142 pacotes de cigarro; - 12.000 quilos de arroz; - 8.000 pacotes de macarrão; - 10.000 quilos de açúcar; - 24.000 sorvetes de cinco bolas; - 40.000 litros de iogurte; - 5.000 quilos de feijão; - 120.000 litros de leite (caso tenha um filho de menos de 7 anos); - 120.000 cafés; - 80.000 ovos; - 60.000 quilos de carne de frango; - 60.000 quilos de carne de porco; - 24.000 quilos de bananas; - 12.000 quilos de laranja; - 12.000 quilos de cebola; - 20.000 quilos de tomate; - 24.000 tubos de pasta de dente; - 24.000 unidades de sabão em pedra; - 1.333.333 quilowatts-hora de energia [5]; - 342.857 metros cúbicos de água potável [6]; - 4.800 litros de gasolina; - um número ilimitado de visitas ao médico, dentista, oftalmologista ou qualquer outro especialista da área de saúde, já que tais serviços são gratuitos; - um número ilimitado de inscrições a um curso de esporte, teatro, música ou outro (também gratuitos).
Essas cifras ilustram o verdadeiro padrão de vida de Yoani Sánchez em Cuba e dão uma ideia sobre a credibilidade da opositora cubana. Ao salário de seis mil dólares pagos pela SIP, convém agregar a renda que cobra a cada mês do diário espanhol El País, do qual é correspondente em Cuba, assim como as somas coletadas desde 2007.
Com efeito, no período de alguns anos, Sánchez recebeu múltiplas distinções, todas financeiramente remuneradas. No total, a blogueira recebeu uma retribuição de 250.000 euros, ou seja, 312.500 CUC ou 7.812.500 CUP, quer dizer, uma importância equivalente a mais de 20 anos de salário mínimo em um país como a França, quinta potência mundial.
A dissidente, que primeiro emigrou à Suíça depois de optar por voltar a Cuba, é bastante sagaz para compreender que o fato de adotar um discurso a favor de uma mudança de regime agradaria aos poderosos interesses contrários ao governo e ao sistema cubanos. E eles, por sua vez, saberiam se mostrar generosos com ela e permitiriam gozar da dolce vita em Cuba.
(*) Doutor em Estudos Ibéricos e Latinoamericanos pela Universidade Paris Sorbonne-Paris IV, Salim Lamrani é professor titular da Université de la Réunion e jornalista, especialista das relações entre Cuba e Estados Unidos. Seu último livro é intitulado Etat de siège: les sanctions economiques des Etats-Unis contre Cuba, París, Edições Estrella, 2001, com prólogo de Wayne S. Smith e prefácio de Paul Estrade. Contato: lamranisalim@yahoo.fr ; Salim.Lamrani@univ-reunion.fr ; Facebook: https://www.facebook.com/SalimLamraniOfficiel
Referências bibliográficas: [1] Yoani Sánchez, “Atacado vs varejo”, Generación Y, 5 de junho de 2012. http://www.desdecuba.com/generaciony/ (site consultado em 26 de julho de 2012). [2] El Nuevo Herald, “Yoani nomeada na Comissão da SIP”, 9 de novembro de 2012. [3] De Havana Velha até o bairro Playa. [4] 85% dos cubanos são proprietários de suas casas. Essa tarifa é reservada exclusivamente para os cidadãos cubanos da ilha. [5] Até 100 quilowatt-hora, o preço é de 0,09 CUP a cada quilowatt-hora. [6] 0,35 CUP por m³.