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Primeira mulher de origem árabe a alcançar um assento no Parlamento israelense, Haneen Zoabi fala sobre a sua atuação e descreve o atual cenário do país
Por Igor Carvalho
Haneen Zoabi, de 43 anos, nascida em Israel, mas de origem palestina, inscreveu seu nome na História ao se tornar a primeira mulher de origem árabe a alcançar um assento no Knesset, o Parlamento israelense. Em visita ao Brasil, para “difundir o que acontece de verdade na Palestina”, a deputada, que tem sua atuação parlamentar pautada pelo embate contra o que chama de “Estado sionista”, trouxe mais fatos e números sobre a atual realidade dos palestinos em seu país.
Em 2003, quando tentou se eleger pela primeira vez, Hannen não conseguiu se candidatar em função de uma decisão da Justiça. Porém, no ano de 2006, por 7 votos a 6, teve sua candidatura aprovada. São 120 deputados no Knesset, apenas onze deles de origem árabe. “Até pouco tempo atrás, 65% dos palestinos votavam em partidos sionistas. Agora, a maioria já vota em candidatos de partidos árabes.”
A causa e os abusos
“Estamos muito longe da cidadania, queríamos viver, e não sobreviver.” Com apenas 15% da população palestina vivendo fora dos territórios ocupados, aqueles que conseguem a cidadania israelense ficam expostos ao controle do Estado, com várias restrições. Nenhum deles pode se casar, por exemplo, com uma mulher conterrânea, pois fica sujeito à expulsão do território de Israel, perdendo a cidadania, em função de uma lei promulgada em 2003.
Hoje, apenas 8% dos palestinos estão nas universidades de Israel, e a participação no setor público é de apenas 2%. “Somente 22% das mulheres palestinas trabalham, apesar de terem uma instrução e educação do que os homens. Dois terços dos estudantes das escolas palestinas são mulheres, mas elas estudam e ficam em casa, pois não têm trabalho”, afirma a deputada.
A análise da parlamentar sobre o atual estágio da luta reflete o discurso de alguém preocupado em avançar na atuação de quem se opõe à ação do governo de Israel. “Um dos problemas do palestino é que ele fala muito sobre o que os israelenses fazem contra eles, e não o que temos que fazer para nos fazer valer, passa a ideia de que não temos um projeto de luta”, assegura.
Partindo para a ação, Haneen vê com bons olhos os atos de boicote. “Somente dessa forma o governo israelense se sentirá pressionado, principalmente na área econômica, cultural e acadêmica.” A deputada lembrou que o Brasil é um dos grandes parceiros comerciais de Israel. “Com a crise nos EUA e na Europa, a América Latina se tornou um importante mercado. Lembro que essas parcerias são encaradas por Israel como apoio à ocupação”, aponta. “Nós queremos viver em uma situação de igualdade, não estamos propondo um projeto racista, e sim com base na justiça e na igualdade”, refletiu Haneen, para quem a luta “está no caminho certo.”
A ONU e o Fórum
A Palestina pediu, na Assembleia Geral da ONU, o reconhecimento como “Estado observador”, o que permitiria confrontar Israel nos tribunais internacionais. Haneen apoia e pede que o presidente palestino Mahmoud Abbas não recue. “Israel, agora, começa a falar em abrir negociações, mas esses períodos de negociações foram quando o sionismo mais avançou, não podemos voltar atrás.”
O encontro da deputada com jornalistas faz parte de uma série de eventos que vão ocorrer até dia 28 de novembro, quando acontecerá, em Porto Alegre (RS), o Fórum Mundial Palestina Livre, evento internacional para expressar a solidariedade de todos os povos com a causa palestina.