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O candidato da Frente de Esquerda rompeu o silêncio e diz que os primeiros cem dias da presidência de François Hollande serviram para "quase nada". "Hollande é um social-liberal igual aos que já conduziram aos desastres grego, espanhol e português"
Por Esquerda.net
[caption id="attachment_18353" align="alignright" width="300" caption=""A repressão ou o status quo: é essa a única alternativa?" (Place au Peuple/Flickr)"][/caption]
Recebeu quatro milhões de votos no pleito presidencial e quis estar na primeira linha do combate nas legislativas de junho, concorrendo contra Marine Le Pen num círculo difícil. Acabou fora do segundo turno e remeteu-se ao silêncio até este fim de semana, em entrevista ao Journal du Dimanche. "Fui para a Venezuela para ganhar forças. E cá estou!", apresenta-se Jean-Luc Mélenchon ao jornalista, depois de várias semanas a acompanhar a pré-campanha para as eleições de outubro.
Olhando para os primeiros cem dias do mandato de François Hollande, diz que foram "cem dias para quase nada". "Hollande desarmou o conteúdo insurrecional do voto nas presidenciais", diz o ex-candidato da Frente de Esquerda. "Dez anos depois, a esquerda regressa ao poder e tudo o que tinha urgência em fazer era um orçamento retificativo e uma lei sobre assédio sexual?", pergunta Mélenchon, criticando terem sido deixadas de lado as leis contra as demissões e para conter o poder dos bancos. "Foi para isso que derrotámos Sarkozy", argumenta.
"Quando olho para estes cem dias e vejo a multiplicação das comissões, concluo que estávamos melhor preparados que os socialistas para exercer o poder. Trazíamos propostas de lei nos nossos caixotes", prossegue Mélenchon, olhando agora para as próximas batalhas políticas, como a do referendo ao tratado orçamental europeu, que apelida de "tratado Merkozy". "A austeridade para sempre? É uma contradição econômica", exclama, antes de afirmar que "Hollande é um social-liberal igual aos que já conduziram aos desastres grego, espanhol e português".
"Não é porque François Hollande quer parecer normal que a situação irá normalizar. Alguém já o avisou que o capitalismo está em crise? Ou que o ecossistema está entrando em turbulência? A Europa está no vermelho e caminha para o desastre. Acordem!", volta a apelar Mélenchon, que também critica o despejo violento dos acampamentos de ciganos nas últimas semanas. "A repressão ou o status quo: é essa a única alternativa?", questiona.
Mélenchon diz estar disponível para a Frente de Esquerda, "mas não na qualidade de jarra". "Eu sou como sou e não tenho intenções de mudar. A minha palavra é livre", lembra o antigo candidato que se diz agora confiante para as iniciativas políticas da Frente de Esquerda sobre o referendo e a luta contra as demissões.
Da sua viagem à Venezuela nos últimos meses, Mélenchon diz que não vê Hugo Chávez como um modelo, mas como "fonte de inspiração": "Ele prestou dois enormes serviços à luta socialista: ganhou doze eleições em treze e mostrou assim que um processo de revolução democrática passa pelas eleições. Abriu assim o caminho ao socialismo do século XXI, que é democrático, pluralista e sem partido único. E o segundo serviço: perdeu um referendo e respeitou o resultado. Quando são os outros a perder, como aconteceu na França em 2005 com o referendo da Constituição Europeia, não o respeitam", sublinhou Mélenchon, antes de explicar que tem algumas divergências com Chávez, em particular no alinhamento com o Irã.