Apesar do consenso sobre a ruptura da democracia no país vizinho, Brasil não defende aplicação de sanções econômicas
Por Mario Henrique de Oliveira
Em um encontro realizado na manhã desta terça-feira, 27/06, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antônio Patriota, recebeu de diversos representantes de movimentos sociais uma moção de repúdio ao golpe de destituiu Fernando Lugo da presidência do Paraguai. O documento foi assinado ainda por alguns deputados e senadores. A reunião também serviu para cobrar ações políticas por parte do Brasil.
O ministro Patriota reafirmou a posição brasileira que entende a situação do país vizinho como uma clara ruptura do processo democrático no Paraguai. No entanto, evitou usar o termo “golpe”, que os movimentos utilizam para definir a ação no país vizinho. Patriota disse que o Paraguai já está preventivamente suspenso do Mercosul e Unasul, que não participará das reuniões dos blocos que começam nesta sexta-feira e que, por meio destes, será enviado também um documento para a Organização dos Estados Americanos (OEA).
Apesar de adotar uma postura contrária ao novo governo paraguaio, o Brasil não defende a aplicação de sanções econômicas ao país, por pensar que tais medidas afetariam diretamente a vida dos cidadãos do Paraguai. Patriota disse também que o Brasil deve enviar em breve uma missão ao país vizinho para analisar a situação política do local.
“Os movimentos sociais também querem que o governo brasileiro aja na adoção de medidas previstas pelo Mercosul e Unasul no que tange ao compromisso com a democracia, além de manifestar apoio às medidas de isolamento do governo golpista. É necessário ainda que os organismos internacionais investiguem as formas sobre como se deu a destituição de Lugo. Aqueles que insistem em escamotear o grave desrespeito ao povo paraguaio põem em risco toda a construção de um regime verdadeiramente democrático na América Latina e Caribe”, disse Alexandre Conceição, integrante da Via Campesina e membro da coordenação nacional do MST.
Durante a reunião, também foi ressaltada a maneira como se deu o impeachment de Lugo, sem permitir sequer que o presidente pudesse se defender. O processo todo levou menos de 30 horas. "O que aconteceu não trouxe soluções, mas dificuldades para o país, o aumento do isolamento político, e isso trará consequências políticas", disse Patriota.
Solidariedade a Lugo
Desde a destituição de Lugo, atos de solidariedade ao povo paraguaio já aconteceram em Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e até em Barcelona. Organizações de paraguaios que vivem no exterior também declararam a não aceitação da deposição do presidente democraticamente eleito e construíram o site Paraguai Resiste (http://paraguayresiste.com/).
Os movimentos sociais brasileiros declararam estar em contato direto com os paraguaios, que, segundo eles, “estão em mobilização permanente, mesmo nada sendo passado na grande mídia, nem paraguaia, nem brasileira”. Novas manifestações não estão marcadas, mas podem acontecer “assim que achem necessário mais pressão internacional”.
Patriota ainda fez um apelo aos movimentos sociais. "O Paraguai convive com estruturas fundiárias arcaicas, ologopólios e setores que não concordam com processos políticos mais plurais. Os movimentos sociais podem ajudar no compartilhamento da experiência brasileira de desenvolvimento econômico e social."
A reunião terminou com um saldo positivo de acordo com representantes dos movimentos. Patriota embarca ainda hoje para Mendoza, na Argentina, onde acontece o encontro do Mercosul e da Unasul.