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Eleições de domingo marcam o regresso ao poder do Partido Liberal Democrático, que dirigiu o país por décadas e que, em aliança com o Novo Komeito, terá mais de dois terços do Parlamento
Por Tomi Mori, no Esquerda.net
Nas eleições para a câmara baixa do parlamento japonês, realizadas no domingo, o governo do primeiro-ministro Noda foi o grande derrotado, encerrando, por hora, o curto e turbulento reinado do Partido Democrático do Japão.
O partido do governo conseguiu apenas 57 cadeiras, tendo a sua bancada reduzida. O conservador eleitorado japonês permitiu a volta do reacionário Partido Liberal Democrático que, em aliança com o partido Novo Komeito, terá 325 representantes de um total de 480, garantindo assim uma maioria de mais de dois terços, o que lhe permitirá aprovar tudo o que quiser. O novo primeiro-ministro, que tomará posse nos próximos dias, será Shinzo Abe, que ocupará o cargo pela segunda vez.
Os comunistas elegeram apenas 8 representantes, demonstrando com esse resultado a sua insignificância política. Os demais partidos, alguns deles novos e pequenos, elegeram os cargos restantes.
[caption id="attachment_20231" align="alignright" width="300"] (Foto de Mullenkedheim)[/caption]
Por que, mesmo com a crise, o PLD voltou ao poder?
O PLD foi o partido que dirigiu o Japão por várias décadas e é o responsável principal pela atual crise que vive o país. Fora sido penalizado nas urnas, o que permitiu a subida do PDJ ao governo, mas com o fracasso completo de todos os gabinetes formados pelo PDJ, os eleitores castigaram a traição e a incompetência desse partido no último domingo. Basta lembrar a mediocridade de Yukio Hatoyama e as trapalhadas do seu sucessor, o ex-primeiro ministro Naoto Kan, principalmente na crise do ano passado, quando o país foi abalado pelo tsunami e pela crise nuclear de Fukushima.
O outro elemento que explica a volta do PLD ao governo é a falência completa em que se encontra a esquerda japonesa, sejam social-democratas, comunistas ou outras vertentes aparentemente mais à esquerda do espectro político.
O resultado de domingo mostra que a crise não leva necessariamente os trabalhadores a votarem na esquerda. Isso foi comum na história do século passado e também o será, se deixarmos, durante este século. Vimos um fenômeno similar, anteriormente, na Espanha. Ocorre em várias eleições locais no Brasil e ocorreu, de certa forma, na Grécia, já que a esquerda não conseguiu unificar-se e saiu divida nas ultimas eleições.
A Crise Japonesa e a Crise Europeia
O resultado de domingo, infelizmente, aponta para a deterioração de uma situação já bastante grave. O Japão desce a ladeira econômica há duas décadas e, com isso, tem a sua parcela de responsabilidade na atual crise que atravessa a economia mundial. O novo primeiro-ministro, Shinzo Abe, promete uma política de estímulo para modificar o declínio econômico japonês. Traduzindo-se para o português, isso significa que o novo governo irá ampliar o endividamento público. Uma criança japonesa, ao nascer, já tem a maior dívida entre todas as crianças do mundo. O que Abe pretende fazer é continuar a entregar, através do orçamento público, dinheiro para as empresas e bancos. Mas esse endividamento terá de ser pago não só a curto e médio prazo, como também pelas gerações mais jovens.
Aliada a essa questão, o Japão vive uma crise energética profunda, depois de Fukushima. Está envolvido em conflitos regionais, particularmente com a China, o que tem provocado toda uma séria de choques com esse país. Além disso, tem uma população das mais velhas do globo e um empresariado que, sistematicamente, recua no mercado mundial. Um exemplo disso é o avanço da coreana Samsung na área eletrônica, antigo feudo japonês, e o outro a bancarrota de uma marca renomada como a Sharp, entre outros.
Essa situação, de crise do imperialismo japonês, contribui para que a grave crise econômica europeia, americana e chinesa também se aprofunde e vice-versa. A deterioração brutal da economia mundial é uma realidade que já bateu às nossas portas, mas, fazemos de tudo para não a ver.