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Carente de figuras carismáticas, de forte personalidade ou mesmo de um discurso aglutinador, atualmente a esquerda na Colômbia, que reúne o Pólo Democrático, partidos menores e setores do Partido Liberal, sequer conseguiu unificar-se
Por Vinicius Souza
Diferentemente do Brasil, onde até José Serra se diz “de esquerda”, na Colômbia, associar uma candidatura a expressões como socialismo, movimento social, sindicato e até direitos humanos, leva automaticamente a imagem do candidato a ser identificada com as guerrilhas como as Farc e o ELN, o terrorismo, o crime e o narcotráfico. Essa é a principal herança dos dois mandatos como presidente de Álvaro Uribe Vélez: colocar todos que tenham qualquer crítica à sua política de “segurança democrática”, essencialmente a vitória militar a qualquer custo sobre as guerrilhas, como inimigos da Colômbia e da democracia.
Ainda assim, esse discurso que lhe deu a vitória no primeiro turno em 2002 e permitiu a mudança na Constituição do país para lhe garantir um segundo mandato em 2006, talvez tenha finalmente se esgotado. Tudo vai depender da capacidade de Uribe em eleger, no pleito que se inicia nesse domingo, 30 de maio, seu ex-ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, como próximo presidente da Colômbia.
Contudo, a eleição de Santos, que seria a continuação natural para um governo com elevados índices de aprovação, segundo as pesquisas, acima dos de Lula no Brasil, tornou-se um pesadelo para Uribe e seu Partido de la U. Afinal, os mesmos institutos de pesquisa que atestam a popularidade do presidente, afirmam que o candidato está empatado na faixa dos 30% com Antanas Mockus, o filósofo e matemático de centro-direita que foi duas vezes prefeito de Bogotá com um discurso calcado em educação e moralidade, mas pertence ao pequeno Partido Verde cujo maior expoente é a ex-refém das Farc Íngrid Betancourt. O restante dos votos divide-se entre Noemí Sanín (do Partido Conservador, de extrema direita), Gustavo Petro (do Pólo Democrático, esquerda), Germán Vargas Lleras (do Partido Cambio Radical, direita) e Rafael Pardo (do Partido Liberal, centro). Uma coisa, no entanto, é certa: qualquer que seja o resultado de amanhã ou mesmo de um eventual segundo turno, o pêndulo político se manterá longe da esquerda.
Carente de figuras carismáticas, de forte personalidade ou mesmo de um discurso aglutinador, atualmente a esquerda na Colômbia, que reúne o Pólo Democrático, partidos menores e setores do Partido Liberal, sequer conseguiu unificar-se em torno de Gustavo Petro. Muitos socialistas seguem preferindo o nome de Carlos Gaviria, que conquistou 22% dos votos em 2006 contra Uribe, a maior votação da esquerda na história do país, mas perdeu as prévias desse ano para Petro.
O candidato do Pólo, aliás, chegou a afirmar no início de campanha que iria “manter o que há de bom na política de ‘segurança democrática’ ” e resolver os problemas como os ‘falsos positivos’, quando policiais ou militares apresentam corpos de civis, jornalistas e ativistas humanitários como “mortos em conflito com a guerrilha” para receberem prêmios e bonificações. Algo como Serra dizendo que “pode mais” com programas de alta popularidade como o Bolsa Família.
Com isso, personagens importantes na Colômbia, como o escritor e prêmio Nobel Gabriel García Márquez, seguem sem apoiar qualquer candidato à presidência. Do mesmo modo, os movimentos sociais têm avaliado pontos interessantes em algumas candidaturas (como a de Rafael Pardo, o único a falar abertamente em negociações de paz com as Farc e por uma reforma agrária, apesar de ser de família de latifundiários) e apontado para Santos, Sanín e Vargas Lleras como representantes do “projeto de Uribe de guerra e morte”, mas sem tomar qualquer posição oficial de apoio e nem orientado o voto de seus militantes para Petro, Pardo ou outro minoritário. Assim, situações como o Tratado de Livre Comércio com os EUA, a presença das tropas estadunidenses na Colômbia e a continuidade da “guerra contra as drogas”, devem seguir nas manchetes dos jornais país ainda por um bom tempo...