Eleições e cenário político na Colômbia mostram as dificuldades das mulheres no jogo institucional e também a dificuldade de se priorizar a questão de gênero
Por Constanza Vieira
Noemi Sanín, candidata à presidência da Colômbia pelo Partido Conservador, e segunda colocada nas pesquisas, tem três habilidades em relação ao seu principal adversário, o diretista Juan Manuel Santos: manejo de relações internacionais e de programas para famílias em extrema pobreza e para a infância.
Mas Santos é visto como mais capaz para resolver os assuntos prioritários para os eleitores, como o mais alto desemprego latino-americano, a melhoria do sistema de saúde e educação ou o combate à corrupção e à guerrilha, e tem 34,2% das intenções de votos, segundo pesquisa Gallup divulgada no dia 24.
Sanín foi chanceler e embaixadora, entre outros cargos, e esta é sua terceira candidatura presidencial depois das tentativas de 1998 e 2002. Para as eleições de 30 de maio, a pesquisa aponta uma 23,3% de inteções de voto para ela.
Santos foi ministro do Comércio Exterior e da Fazenda, mas fez sua fama como ministro da Defesa de Álvaro Uribe, entre 2006 e 2009, e é visto como seu forçado sucessor, já que o Tribunal Constitucional bloqueou a aspiração do presidente direitista de ser reeleito para um terceiro mandato de quatro anos.
Segundo o Instituto Gallup, o eleitorado atribui à candidata mulher melhor capacidade para aquilo no que tem experiência (a diplomacia) e para atender família e infância.
Amostra de uma visão patriarcal sobre o papel da mulher? Ou Sanín é vista como mais fraca diante do controvertido Santos, que vende uma imagem baseada na fortaleza? As respostas estão pendentes.
Olga Amparo Sánchez, diretora do centro feminista Casa da Mulher, não crê que as mulheres devam “votar em mulher” pelo simples fato de ser mulher. “As mulheres devem votar e eleger como sujeitos de direitos: naquelas propostas que considerarmos que nos convocam, por suas interpretações do país e pelas soluções para os problemas que apresentarem”, disse à IPS.
Contudo, “considero importante que existam mulheres como Noemí Sanín. É positivo que cheguem a esses cargos porque vão construindo simbologia. Permitem colocar a mulher em outro lugar”, acrescentou.
A ex-senadora liberal Cecilia López não acredita que existam na Colômbia condições para a eleição de uma presidente. “Quando o Congresso estiver formado por 45% de mulheres, será possível que uma mulher seja presidente. Olhem a Costa Rica. Entretanto, quando esta representação é de apenas 8% ou 10%, como na Colômbia, as possibilidades são nulas”, afirmou.
A Colômbia está no posto 111 entre 187 países em participação parlamentar feminina e em último na América Latina, segundo a União Interparlamentar Mundial.
A lei de cotas fixa em 30% a participação feminina em cargos públicos, mas não é cumprida e o parlamento, que está em fim de legislatura, rejeitou criar uma cota mínima de mulheres nas candidaturas a órgãos colegiados.
O novo Congresso legislativo, que começará a funcionar em julho, terá 38 mulheres em um total de 268 parlamentares, segundo dados ainda não definitivos, 20 na Câmara de Representantes e 18 no Senado.
Poucas, é verdade. Mas seis dos oito parlamentares mais votados nas eleições legislativas de 14 deste mês são mulheres. A revista Semana cunhou o termo “baronesas eleitorais”.
Isto “quebra um padrão cultural”, comemorou Sánchez, mas pede que se observe “qual é a proposta de sociedade e em termos de melhoria de vida das mulheres. Creio que aí há uma pobreza muito grande no que nos espera, por conta das mulheres eleitas”.
“Chegaram menos mulheres comprometidas com a situação da mulher, em relação às que havia antes”, afirmou. Segundo suas contas, “apenas duas ou três”.
Entre as reeleitas estão as senadoras Dilian Toro, do oficialista Partido do U, e Piedad Córdoba, do opositor Partido Liberal, que na atual legislatura integraram uma Bancada de Mulheres que impôs a aprovação de uma lei contra a violência sexista. Mais não conseguiu.
Por outro lado, não conseguiram convencer seus colegas homens a fixar em 30% a participação das mulheres em corpos colegiados, um dos compromissos da Colômbia para 2015, dentro dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.
A senadora eleita Gloria Ramírez, do esquerdista Polo Democrático Alternativo, disse que a escassez de mulheres parlamentares torna invisível a agenda de gênero, mas destacou que tampouco o número é uma garantia, “mas sim mulheres e homens comprometidos com o tema”.
Para Sánchez, algumas legisladoras eleitas chegam com propostas que não ampliam, mas contribuem para restringir a democracia. Um exemplo é a senadora Gilma Jiménez, a mulher mais votada do Partido Verde. Foi quem propôs introduzir, por referendo, a pena de morte para violadores de crianças. Finalmente, será proposto estabelecer a prisão perpétua, que tampouco existe na Colômbia, em uma consulta ainda pendente.
Outras legisladoras escalaram posições e conseguiram votos ao estilo clientelista tradicional. Outras são mulheres ou irmãs de parlamentares enredados judicialmente na parapolítica, como se define a aliança entre políticos e esquadrões da morte de ultradireita ligados ao narcotráfico.
Como a política nas regiões costuma funcionar como um negócio familiar, elas “herdaram” os votos de homens que acabaram na prisão, explicam analistas e feministas.
E também há o poder atrás do poder.
“La Gata” Enilce López, ligada ao chefão da droga Gonzalo Rodríguez Gacha, morto em 1989, presa em 2006 por lavagem de dinheiro e em prisão domiciliar por alegados problemas de saúde desde 2008, conseguiu eleger quatro legisladores, todos homens, dentro do questionado Partido de Integração Nacional.
Segundo a imprensa, a também acusada de ligações com paramilitares pagou US$ 100 para cada voto.
Por IPS/Envolverde.