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No México, busca-se por voluntários obesos, diabéticos e afetados por câncer ou outras doenças para análise de seus genes
Por Diego Cevallos
México, 18 de maio (Terramérica) - No México, busca-se por voluntários obesos, diabéticos e afetados por câncer ou outras doenças para análise de seus genes. É o passo que darão os cientistas após traçarem o mapa genético da população deste país. A ciência genética promete contribuir para a definição exata dos remédios e das doses mais efetivas para tratar uma pessoa ou grupo, das estratégias epidemiológicas mais adequadas e da melhor prevenção das doenças, inclusive permitindo a manipulação de determinados genes.
O mapa genético mexicano, apresentado no dia 11 de maio, consumiu quatro anos e cerca de US$ 21,5 milhões, e é parte central de um projeto que objetiva melhorar a saúde pública nacional, que também gera dúvidas éticas em um terreno com pouca ou nenhuma legislação, alertam especialistas. Sua descoberta central é que a genética mexicana difere da de outras populações já estudadas do mundo. Em quatro ou cinco mais, após comparar os genes de mexicanos sãos e doentes e contextualizar esses dados com o mapa genético, será possível definir quais genes predispõem a determinadas doenças, disse ao Terramérica Gerardo Jiménez, diretor do Instituto Nacional de Medicina Genômica (Inmegen), criado em 2004.
Eduardo Rodríguez, coordenador de projetos da Unidade de Biomédica da Organização Pan-Americana de Saúde e da Organização Mundial da Saúde, com sede na Universidade do Chile, felicitou o México por este feito, que o coloca como “líder em genômica no mundo em desenvolvimento”. Contar com um mapeamento abre as portas para solucionar muitos problemas de saúde pública, “porém, tampouco é panacéia”, disse Rodríguez ao Terramérica, de seu escritório em Santiago. A informação genética pode levar ao estigma de que algumas populações estão vinculadas a certas doenças e dar lugar a uma nova discriminação. “Além disso, há uma série de outros problemas éticos e práticos que vão surgindo e que não são legislados em quase nenhum país latino-americano”, acrescentou.
O mapa genético do México, com mais de 107 milhões de habitantes, é uma análise de amostras oferecidas voluntariamente por 300 pessoas mestiças de seis regiões do país e de 20 indígenas zapotecas do Estado de Oaxaca. “O fato de nosso mapa ser basicamente de mestiços nos permite pensar que também seja assim o de outras populações latino-americanas, pois temos uma origem semelhante; indígenas, espanhóis e um pouquinho de africanos. Nesse sentido, o mapa mexicano tem um impacto regional”, disse Jiménez.
As diferenças encontradas entre estes mestiços e outras populações das quais se tem informação sobre o genoma, como asiáticas, africanas e européias, explicariam a causa de os mexicanos sofrerem com maior frequência de diabete, câncer ou obesidade mórbida. Também poderiam fornecer dados que revelem o motivo do aparente maior risco de morte dos mexicanos que se contagiam com o novo vírus A/H1N1, da gripe suína. Mas, ainda não está pronto para se tirar conclusões.
“O que apresentamos é um catálogo de variações genéticas frequentes na população mexicana, mas não está associado com doenças específicas. O passo seguinte é descobrir essas relações”, explicou o diretor da Inmegen. Por volta de 2014, o Inmegen fornecerá dados que ajudarão a “tomar decisões coletivas e individuais” em matéria de saúde, afirmou Jiménez, pediatra doutorado em Genética Molecular e com pós-doutorado em Medicina Genômica pela Universidade Johns Hopkins, Estados Unidos.
Desde o fim dos anos 90, organizações públicas e privadas do mundo realizam projetos para obter o mapa genético de certas populações. Em abril de 2003, o Projeto Genoma Humano, liderado pelos Estados Unidos, apresentou a sequência completa do DNA (ácido desoxirribonoclueico) do ser humano. Na América Latina, somente os ricos tiram proveito da medicina genômica, e nada indica que isso mudará no futuro, pois “estamos em uma região de muita desigualdade social”, disse Rodríguez.
O estudo “O problema do manejo da informação genética na América Latina”, da Unidade de Bioética e do qual Rodríguez é coautor, alerta que, sem uma regulamentação efetiva desta nova medicina, haverá “consequências sociais negativas”. A região “não tem legislação adequada. Brasil, Chile e México contam com algo recente, mas, em geral, há muito por fazer, e é urgente”, ressaltou.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) promulgou, em novembro de 1997, a Declaração Universal sobre o Genoma Humano e os Direitos Humanos, que estabeleceu, de forma não vinculante, os direitos das pessoas à não discriminação por causa de seus genes e à confidencialidade dessa informação. O “Panorama sobre a legislação em matéria de genoma humano na América Latina e no Caribe”, realizado em 2006 pela Universidade Nacional Autônoma do México e pela Rede Latino-Americana e do Caribe de Bioética, da Unesco, constatou pouquíssimos avanços na matéria.
A Argentina, por exemplo, “carece de uma legislação integral adequada que contemple os problemas criados pelo espetacular avanço científico”, afirma esse estudo. Sobre Bolívia, Cuba e Chile, destaca falta de leis e jurisprudência, embora no terceiro caso se deva ao limitado desenvolvimento das pesquisas. Nem no Paraguai, nem no Uruguai há leis ou regulamentações que mencionem o genoma humano, acrescenta o Panorama.
Jiménez concorda com este diagnóstico, inclusive para o México, que embarcou completamente no desenvolvimento genômico. Entretanto, na edição do dia 7 de maio da revista médica norte-americana The New England Journal of Medicine, alguns cientistas indicam que os processos de comparação entre genomas de pacientes sãos e enfermos, que o México pretende realizar, podem ser decepcionantes. Segundo o artigo, doenças como câncer ou diabete parecem não ser detonadas por um gene especifico, mas por uma série de combinações genéticas ainda difíceis de precisar. Além disso, diante das mesmas variações genéticas, os riscos de se manifestar uma doença dependem do fato de terem sido herdadas do pai ou da mãe.
* O autor é correspondente da IPS.
Crédito da imagem: Photo Stock
Legenda: Pesquisando a sequência do DNA.
LINKS
Livre arbítrio para os biobancos
http://www.tierramerica.info/nota.php?lang=port&idnews=2893
México e Brasil não querem perder o trem do genoma
http://www.tierramerica.info/nota.php?lang=port&idnews=1963
Descifrado o genoma ambiental
http://www.tierramerica.info/nota.php?lang=port&idnews=1769
Instituto Nacional de Medicina Genômica
http://www.inmegen.org.mx/
Unidade de Bioética OPAS-OMS
http://www.paho.org/Spanish/BIO/acerca.htm
Projeto Genoma Humano, em inglês
http://www.ornl.gov/sci/techresources/Human_Genome/home.shtml
Informe “O problema do manejo da informação genética na América Latina”, em pdf
http://www.bioetica.uchile.cl/doc/problema.pdf
Declaração Universal sobre o Genoma Humano e os Direitos Humanos, em pdf
http://portal.unesco.org/shs/en/files/2516/10596645521declaration_-_espagnol..pdf/declaration%2B-%2Bespagnol.pdf
Panorama da legislação sobre genoma humano na América Latina e Caribe
http://portal.iner.gob.mx/bioetica/macros/GenericDocumentWithPhoto.jsp?contentid=3031&version=1&channelid=1
The New England Journal of Medicine, em inglês
http://content.nejm.org/>http://content.nejm.org/
Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.
(Envolverde/Terramérica)