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Rascunho de resolução votado nesta segunda-feira, 13, tem resistência de funcionários da entidade
Por Mithre J. Sandrasagra, da IPS
Os funcionários da Organização das Nações Unidas pediram ao secretário-geral, Ban Ki-moon, que se abstenha de enviar pessoal adicional ao Iraque, como solicitam os Estados Unidos em um rascunho de resolução que será votado hoje pelo Conselho de Segurança. Além disso, exigiram que retire os que já estão cumprindo missões em Bagdá. O Conselho de Funcionários da ONU, que representa as 25 mil pessoas que trabalham nesse organismo, aprovou por unanimidade uma resolução onde menciona “o inaceitável alto nível de risco para a segurança do pessoal” atualmente em serviço no Iraque, por isso solicitaram sua remoção.
O texto aprovado terça-feira destaca que “a quebra da lei e da ordem no Iraque criou um ambiente em que os socorristas se converteram em alvos e peões. A insegurança aumenta diariamente”, disse à IPS o primeiro-vice-presidente do sindicato dos empregados da ONU, Emad Hassanin. Com este pano de fundo, Estados Unidos e Grã-Bretanha estão impulsionando uma resolução para expandir a Missão de Assistência da ONU no Iraque (Unami). A votação da proposta estava prevista para ontem, mas foi adiada por um dia.
Um pequeno contingente permaneceu no Iraque desde 2004, depois que o ex-secretário da ONU Kofi Annan decidu retirar todo o pessoal, em outubro de 2003, após dois ataques com carros-bomba contra a sede das Nações Unidas em Bagdá, que causaram a morte de 22 integrantes da missão. Annan divulgou um informe de situação após os atentados e o mesmo fez Ban em junho passado. “De acordo com essas avaliações, a situação atual é pior. Nada se fez para melhorar as condições de segurança do pessoal desde 2003”, afirmou Hassanin.
De fato, um projétil de morteiro explodiu na bem fortificada Zona Verde de Bagdá em março, durante uma entrevista coletiva televisada de Ban e o primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki. “A ONU deve ter um papel mais importante para ajudar os iraquianos neste momento”, disse aos jornalistas o embaixador dos Estados Unidos junto às Nações Unidas, Zalmay Khalilzad. “É uma questão muito importante para a região, para o país e para o mundo. Portanto, a ONU tem de fazer mais para ajudar o Iraque”, acrescentou.
“Uma das vantagens da ONU é que pode manter contato com grupos que não aceitam falar com outros atores externos mas estão dispostos a dialogar com as Nações Unidas”, disse Khalilzad. Deu como exemplo que o “aitolá Sistani, uma das figuras influentes no Iraque”, não aceita falar com representantes dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, mas o faz com funcionários da ONU. “Realizamos um grande esforço para aumentar o número de nosso pessoal no Iraque”, disse o subsecretário-geral pra assuntos políticos das Nações Unidas, B. Lynne Pascoe. “O limite atual é de 65. Creio que para outubro teremos aumentado esse número para 95”, acrescentou.
Khalilzad descartou uma rápida retirada dos Estados Unidos do Iraque quando perguntado se o retorno das tropas estaria de mãos dadas com uma presença maior da ONU nesse país. “Entendemos que a presença das forças da coalizão é um tema no qual os iraquianos não coincidem. Mas também estou consciente, e todos sabem que estive ali durante quase dois anos, que nenhuma comunidade no Iraque quer uma retirada precipitada dos Estados Unidos”, afirmou Khalilzad. Entretanto, Hassanin disse não entender “a lógica de sacrificar as vidas de pessoal civil da ONU para que alguns países poderosos possam salvar a cara”.
O projeto de resolução que busca ampliar o mandato da Unami “é uma estratégia de saída para uns poucos países-membros”, acrescentou Hassanin, dizendo que se a situação no Iraque melhorar poderia haver maior presença da ONU. “Os Estados Unidos falaram sobre um ‘novo e importante’ papel das Nações Unidas no Iraque, como parte de uma campanha de relações públicas para mostrar que a situação melhora e a estabilização do país já está na esquina”, disse à IPS o diretor-executivo do Fórum de Política Global, com sede em Nova York, James Paul. Mas a realidade indica que “a segurança se deteriora e que o pessoal da ONU não pode agir de maneira efetiva e sem riscos”, acrescentou Paul.
“Entretanto, a força multinacional, sob mandato do Conselho de Segurança da ONU, continua violando diariamente os direitos humanos e as leis humanitárias, em uma ocupação do país que 75% dos iraquianos rechaçam”, disse Paul. “O Conselho de Segurança fecha os olhos para a crise humanitária mais séria do planeta”, acrescentou. O conflito gerou quatro milhões de refugiados e muitos outros que se viram forçados a deixar suas casas devido à violência. A ONU estima que cem mil iraquianos deixem o país todo mês.
O projeto de resolução ignora “o problema de espaço humanitário devido à estreita identificação da Unami com a força multinacional”, disse Paul. O urgente problema do acesso à comida e ao sistema público de distribuição também está sendo ignorado, bem como a necessidade de fundos para assistência de emergência, especialmente para os refugiados que vivem fora do Iraque, afirmou Paul.
Envolverde/ IPS