A seleção de Marrocos derrotou a Espanha nos pênaltis pelas oitavas de final da Copa do Mundo do Catar 2022 nesta terça-feira (6) e avançou para uma inédita quarta de final. Após um empate sem gols no tempo normal e na prorrogação, os espanhóis não conseguiram converter nenhuma cobrança e ficou para os pés do lateral-direito marroquino, Achraf Hakimi, nascido em Madrid, decretar a classificação ao converter a quarta cobrança.
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Filho de imigrantes marroquinos e revelado pelo Real Madrid Castilla, o time B do Real Madrid, o atleta já viveu logo na sua primeira temporada, 2016/17, uma punição da FIFA que em certa medida reproduz um velho preconceito colonial espanhol em relação aos marroquinos. Hakimi chegou a ser banido do futebol por alguns meses.
À época o Real Madrid era acusado de realizar contratações irregulares de jogadores menores de idade em países estrangeiros, sobretudo nações menos privilegiadas economicamente. E foi justamente no âmbito de uma investigação da FIFA em torno desta questão que Hakimi acabou punido. Mas a punição não procedia, uma vez que o jogador, apesar de marroquino, é nascido e formado na Espanha. De qualquer maneira, valeu a “palavra da FIFA” e a punição foi aplicada durante alguns meses até ser revertida.
De acordo com Rabie Takassa, olheiro da Federação Marroquina na Espanha, a FIFA estaria procurando as supostas irregularidades madridistas nos nomes incomuns de imigrantes inscritos no clube ao invés de olhar seus locais de nascimento. Com cerca de um milhão de imigrantes marroquinos na Espanha, que colonizou o Marrocos entre os séculos XIX e XX, a Federação Marroquina faz um amplo trabalho no país a fim de resgatar talentos filhos da diáspora. Segundo o podcast Copa Além da Copa, Hakimi teria atraído a atenção de Takassa ainda em 2009, aos 11 anos de idade.
Após reverter a punição, Hakimi subiu ao time principal do Real Madrid na temporada 2017/18 a pedido do técnico Zinedine Zidane. Nas duas temporadas seguintes atuou pelo Borussia Dortmund, da Alemanha, e em 2020/21 jogou pela Inter de Milão, da Itália. Atualmente o lateral-direito marroquino está na sua segunda temporada jogando ao lado de Neymar, Mbappé e Messi, no Paris Saint-Germain. Hakimi foi campeão italiano (20/21), francês (21/22), das supercopas da França (22), Alemanha (19), Espanha (17) e UEFA (17), além da Liga dos Campeões e do Mundial de Clubes na temporada 2017/18.
A escolha pelo Marrocos
Nascido em Madrid de pais marroquinos, Hakimi teve a possibilidade de escolher qual seleção iria defender. Ele chegou a receber convites para visitar instalações da seleção espanhola, mas sentiu que ali não era a sua casa, conforme declaração dada ao jornal espanhol Marca.
Já para a revista Vogue Arábia, ele disse que por ser marroquino e pela cultura árabe, preferia o Marrocos. “Milhões e milhões de pessoas vão torcer por você porque você joga por eles. É como jogar pelo seu avô e pelo avô do seu avô. Você joga por muita gente”, declarou. A identificação com a cultura e os povos árabes chegou a render-lhe vaias em Tel Aviv, Israel, por dois anos seguidos, durante disputa da final da Supercopa Francesa no país. Hakimi, assim como amplos setores de torcedores marroquinos, costuma se posicionar a favor da Palestina.
Com informações do podcast Copa Além da Copa.