A polêmica de que o craque Lionel Messi, da seleção da Argentina, seja autista se estende desde 2013, apesar do próprio jogador ou de seus familiares nunca o terem declarado como uma pessoa com tal condição. Ao longo da Copa do Mundo do Catar 2022, a história voltou a circular na internet. Mas afinal, Messi é ou não é autista?
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A resposta é simples: Messi não é autista e nunca foi diagnosticado como tal. Mas de onde veio esse papo?
A história é uma genuína fake news brasileira, criada em 27 de agosto de 2013 pelo jornalista Roberto Amado, sobrinho do escritor Jorge Amado. Naquela altura, Amado publicou um texto em seu site, Poucas Palavras, com o título “Como o autismo de Messi ajudou-o a ser gênio”. Na publicação, ele afirma que Messi teria sido diagnosticado com Síndrome de Asperger, uma espécie de “versão mais leve” do autismo, aos 8 anos de idade quando ainda morava na Argentina.
De acordo com o jornalista, o craque argentino teria características que o colocariam no espectro do autismo, como a excessiva timidez para falar com a imprensa e a forma similar que utilizaria para driblar e finalizar a gol. Segundo Amado, seriam indícios de padrões repetitivos, comuns em “portadores” da síndrome. Mas conforme explicou o jornalista Francisco Paiva Jr., editor da Revista Autismo, até o termo “portador” estava errado no texto de Amado - a expressão não se aplica a pessoas com autismo.
“Após esse diagnóstico à distância do brasileiro, a história (como toda boa fake news), depois de publicada na internet, se alastrou e ganhou o planeta”, escreveu Paiva Jr em sua revista. E ele tinha razão, o próprio Romário compartilhou as informações de Amado em sua conta no Twitter cerca de 10 dias depois.
No mesmo mês, e incomodado com a narrativa falaciosa, Paiva Jr falou com Diego Schwarzstein, o médico que tratou do verdadeiro problema de saúde que Messi tinha na infância e se tratava de deficiência hormonal que atrapalhava seu crescimento. De acordo com o médico, que mora em Rosário, a cidade natal do craque, Messi nunca foi diagnosticado com Asperger. “Isso é bobagem”, disse.
O jornalista espanhol Guillem Balague, especialista em futebol e biografias de grandes jogadores, é autor do livro “Messi”, que traz uma biografia autorizada pelo craque. Quando perguntado sobre o suposto autismo de Messi, respondeu que a história seria “um lixo”. Ou seja, uma informação a ser descartada sumariamente.
Além deles, o psiquiatra Estevão Vadasz, coordenador do Programa de Transtornos do Espectro Autista do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, deu o seu parecer ao Uol. Para o especialista, é improvável que Messi esteja no espectro do autismo, ainda que da forma mais branda do Asperger.
“Outro fator que vai contra a ideia de que Messi é portador de Asperger é a coordenação motora. Na maior parte dos casos, as pessoas com a Síndrome têm baixa motricidade e tendem a não se dar bem em atividades em equipe. O Messi, ao contrário, tem um domínio motor sofisticado e joga muito bem em equipe” afirmou.
*Com informações de Revista Autismo e Uol.