A Seleção do Irã chega a Copa do Mundo do Catar 2022 com o objetivo de superar suas outras cinco participações; em todas foi eliminado na primeira fase. Mas a tarefa não será simples, a seleção iraniana abre o Grupo B do mundial contra a forte seleção da Inglaterra e ainda terá pela frente os Estados Unidos e o País de Gales que apesar de não serem potências no mundo do futebol, são equipes organizadas. Não será fácil a vida dos persas no Catar.
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O futebol chegou ao país durante a Primeira Guerra Mundial, trazido por funcionários de embaixadas estrangeiras. A primeira partida da seleção iraniana foi um empate em 0 a 0 com o Afeganistão em 1941. Quase trinta anos depois o Irã ganhou sua primeira Copa da Ásia, em 1968. As duas copas da Ásia seguintes, 1972 e 1976, também foram vencidas pela seleção persa e esses são os títulos que a seleção conquistou em toda sua história. A geração dos anos 70 acabou coroada com a primeira participação do país em uma Copa do Mundo, na Argentina, em 1978. No entanto, após perder para a Holanda por 3 a 0 e para o Peru por 4 a 1, os iranianos já estavam praticamente eliminados quando conseguiram empatar com a Escócia em 1 a 1 no jogo derradeiro.
Após a Revolução de 1979 que instalou um regime teocrático no país o futebol foi deixado de lado. A própria liga local parou de funcionar por dez anos, voltando em 1989. Obviamente a seleção do país também esteve longe dos holofotes nesse período. Mas nos anos 90 voltou. E após os insucessos para classificar-se às copas de 90 e 94, o Irã finalmente voltou ao mundial em 1998, na França. Na ocasião perdeu para a Iugoslávia por 1 a 0 e para a Alemanha por 2 a 0. No entanto, no meio do caminho, conquistou sua primeira vitória em copas do mundo, batendo por 2 a 1 os Estados Unidos, país com o qual suas relações fora de campo não são exatamente as melhores. As outras participações iranianas foram na Alemanha (2006), Brasil (2014) e Rússia (2018).
Neste ano o Irã estreia contra a seleção da Inglaterra em 21 de novembro (segunda-feira) às 10h de Brasília no estádio Internacional Khalifa. Na sexta-feira seguinte (25), o Irã encara o País de Gales no estádio Ahmad bin Ali, às 7h. O último jogo da equipe persa previsto pelo Grupo B da Copa do Mundo do Catar será contra os Estados Unidos, no estádio Al Thumama, às 16h de 29 de novembro (terça-feira).
O que você precisa saber sobre a política no Irã
O sistema político do Irã é baseado na Constituição de 1979 que declarou o país como uma república islâmica. Todas as relações políticas, econômicas, sociais e culturais iranianas devem estar de acordo com o Islã. O país é governado por um braço político representado pelo presidente Ebrahim Raisi, e por um braço religioso que tem à cabeça Ali Khamenei, intitulado como Líder Supremo do Irã. Ele ocupa o cargo desde 1989 e seu mandato é vitalício.
O Líder Supremo exerce funções de chefe das Forças Armadas e do Judiciário, além de dar a linha para a imprensa, televisão, atividades religiosas e segurança interna do país. Pode demitir o presidente caso julgue que este não seja capaz de seguir a Constituição de 1979. Já o presidente, eleito por sufrágio universal para mandatos de quatro anos, é apenas a segunda figura executiva do país. É o presidente quem nomeia os ministérios, faz a gestão das pastas e representa o país internacionalmente.
O Irã tem sérias dificuldades, por conta da influência radical religiosa em seu sistema político, de lidar com questões de direitos humanos e de minorias. Em setembro passado uma jovem foi detida pela polícia no Irã por utilizar o véu em desacordo com as leis religiosas que vigoram no país e acabou morta. Desde então o país vive uma onda de revoltas contra o que convencionou-se chamar de “polícia da moralidade”, que deixou dezenas de manifestantes mortos.
Entre as pautas das manifestações que tomaram o país está o fim das leis religiosas baseadas na Charia, uma corrente interpretativa do Corão que limita muitos direitos femininos e justifica no país os códigos rígidos de vestimenta a que as mulheres estão submetidas, por exemplo. Além disso, uma forte revolta contra as forças de segurança do país, tanto pela repressão cotidiana, como pelo caso pontual, foi possível de ser notada. Segundo informações da imprensa iraniana, todas as mortes em protestos ocorreram por tiros ou esfaqueamento em contexto de confrontos entre manifestantes e forças de segurança em diversas regiões do país.
Os próprios atletas iranianos pediram, no último dia 25 de outubro, que sua seleção fosse desclassificada da Copa do Mundo do Catar alegando que a Federação Iraniana fortalece a perseguição às mulheres. O pedido foi assinado pelo advogado Juan Dios Crespo, famoso no direito desportivo internacional, sobretudo em casos ligados ao futebol. “Enquanto o governo nega a responsabilidade dos seus homens armados nos eventos fatais, a revolta das mulheres e dos setores contrários à lei religiosa como um todo devem crescer. O mundo observa com atenção os acontecimentos”, diz trecho do documento que ganhou o apoio de Ali Daei, o principal ídolo do futebol iraniano, autor de um dos gols da vitória sobre os Estados Unidos em 1998.
O que você precisa saber sobre a história do Irã
Um dos países mais antigos do mundo, o Irã é o berço do antigo Império Persa, que durou até meados da idade média com nomes diferentes. No século VII, povos árabes conquistaram o Império Sassânida, como era chamado o império persa naquele momento. A conquista abriu caminho para invasões posteriores por diversos povos. Mas as características atuais do país começaram a ser delimitadas entre 1501 e 1736 quando o Irã esteve sob o domínio dos Safávidas. Nesse período o islamismo xiita foi consolidado como a religião oficial do país e a dinastia reinante se formou.
Entre 1736 e 1979 o país viveu o que se conhece como período dinástico, sob os governos dos “xás”. O país ainda se chamava ‘Pérsia’. Entre 1905 e 1921, sobretudo após a descoberta de poços de petróleo, o Irã viveu a Revolução Constitucional, que buscava trazer à superfície as aspirações de modernização de setores da sociedade local e, com isso, derrubou a dinastia Cajar fazendo subir ao poder Reza Pahlavi. A partir desse momento que o país abandonou o nome “Pérsia” e passou a se chamar “Irã”.
Durante a Segunda Guerra Mundial o Irã foi invadido por Reino Unido e União Soviética, que estavam de olho nas suas reservas de petróleo. Após a guerra os Aliados forçaram o xá a abdicar do trono em favor do seu filho, Mohammad Reza Pahlavi, que em troca facilitou a entrada da Anglo-American Oil Company no país a partir de 1953. A presença ocidental gerou uma revolta e o governo do xá, apoiado por americanos e britânicos, foi escalando em autoritarismo, impondo políticas de modernização sem consultar a oposição “de direita” do clero xiita, ou a “de esquerda” [novamente, utilizando os jargões brasileiros para ilustrar] dos defensores da democracia e das liberdades.
Ao final dos anos 70 as tensões tornaram-se insustentáveis e a “bomba” explodiu. Com grandes manifestações contrárias ao xá iniciadas em 1978, no ano seguinte se consolidou a Revolução Islâmica, que depôs o xá e instalou um governo encabeçado pela então oposição clerical. Mohammad Reza Pahlavi fugiu para os Estados Unidos enquanto Ruhollah Khomeini voltava para Teerã do exílio para assumir a nova república islâmica.
O que você precisa saber sobre a economia do Irã
Com cerca de 85 milhões de habitantes segundo estimativas de 2021, o Irã apresentou no mesmo ano um PIB de 232 bilhões de dólares e uma renda per capita de 2,8 mil dólares. O país mistura um planejamento da economia centralizado pelo Estado que conta, em grande medida, com a propriedade estatal do petróleo agregado a algumas empresas nacionais. A agricultura é produzida nas aldeias do interior do país e serve basicamente para abastecer o mercado interno.
Quase metade do orçamento do país provém de receitas obtidas com exportação de petróleo bruto e gás natural. Outros 30%, em média, é decorrente do pagamento de impostos e taxas. Desde 2010 o país busca diversificar sua economia uma vez que os recursos advindos da indústria petroleira são limitados e cada vez menos festejados na comunidade global. Desde então o Irã desenvolveu uma forte indústria automobilística, de eletrodomésticos, armamentos, farmacêutica e de biotecnologia e nanotecnologia.
No entanto as sanções econômicas que o país sofre, como o embargo ao petróleo bruto iraniano, dificultam o desempenho do país na economia. Em 2015 o Irã tinha chegado a um Acordo Nuclear com os Estados Unidos no qual limitaria seu enriquecimento de urânio em troca do fim das sanções. Enquanto durou a economia do país melhorou um pouco. No entanto, com a chegada de Donald Trump à Casa Branca, em 2017, as conversas acabaram sabotadas.
O que você precisa saber sobre a Cultura do Irã
O Irã é um país muito rico culturalmente. Sua trajetória histórica por exemplo agrega enorme valor à arquitetura local, e o país também tem literatura, artes plásticas, música e culinária de excelente qualidade. No entanto, é no cinema que o país se fez famoso mundialmente nas últimas décadas, sobretudo pela qualidade e olhar crítico dos seus diretores e atores.
A sétima arte chegou ao país, como a todo o planeta, no início do século XX. Na década de 30 havia 15 salas de cinema em Teerã e outras 11 espalhadas pelo interior do país. Trinta anos depois o país vivia a sua primeira década de ouro no cinema, tendo produzido por ano 25 filmes comerciais que retratavam o cotidiano e a cultura do país. Os gêneros favoritos eram o melodrama e o suspense.
Após a Revolução Cultural, realizada entre 1980 e 1987 que submeteu os acadêmicos e intelectuais aos preceitos religiosos que norteiam o Estado, o cinema iraniano teve de se associar a produtoras estrangeiras para sobreviver com alguma liberdade. Surgiram diretores como Abbas Kiarostami e Jafar Panani. O primeiro dirigiu o filme O Gosto de Cereja (1997) em parceria com produtora francesa que praticamente colocou o país no mapa do cinema global ao ganhar a Palma de Ouro. A partir de então filmes iranianos começaram a ter presença garantida nos festivais mais respeitados mundo afora, como o Festival de Cinema de Cannes, de Veneza e de Berlim.
A seleção do Irã: Os jogadores que vão participar da Copa
Com uma equipe bastante humilde, com poucos jogadores que atuam em grandes mercados, o Irã terá muita dificuldade para ir pela primeira vez em sua história às oitavas de final da Copa do Mundo. O técnico croata Dragan Skocic conta com dois grandes destaques da seleção para tentar a façanha: Mehdi Taremi e Sardar Azmoun.
O atacante Mehdi Taremi nasceu em 1992 e já jogou 58 partidas pela seleção do Irã, nos quais balançou as redes por 28 vezes. Para além dos gols, Taremi já conhece o país-sede. Após passagens por Shahin Busheir, Iranjavan e Persépolis, clubes de seu país, transferiu-se para o clube catari Al-Gharafa durante a temporada 2018-19. Em seguida foi para o Rio Ave, de Portugal, e desde 2020 atua pelo Porto, um dos maiores clubes portugueses ao lado de Benfica e Sporting. Em seu novo clube venceu o Campeonato Português e a Taça de Portugal na temporada que se encerrou na metade de 2022.
Já o atacante Sardar Azmoun, três anos mais novo que Taremi, jogou apenas duas temporadas no Sepahan e logo se transferiu para o Rubin Kazan, da Rússia. Entre Rubin Kazan, Zenit e Rostov, esteve até o meio deste ano no futebol russo. Recentemente acabou indo para o Bayer Leverkusen, da Alemanha. Azmoun é tetracampeão russo e já marcou, pela seleção do seu país, 40 gols em 63 jogos.