SÓ PODE SER BRINCADEIRA

Pedido de Neymar à Justiça mostra que ele, de fato, não tem limites

Jogador se sente como um deus que não pode ser contrariado, a quem todos devem fazer as vontades. A ação impetrada no fórum da Comarca de Santos mostra isso bem

Créditos: Reprodução/Instagram
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Não é novidade que Neymar se sente o dono do mundo e o jogador de futebol de 33 anos já deu várias provas disso ao longo da carreira. Lançado ao estrelato ainda muito jovem, ele acostumou-se a ter todas as vontades feitas por onde quer que tenha andado. Hoje, com um patrimônio bilionário e agindo como um ex-atleta, embora tenha contrato com o Santos Futebol Clube, em que pese o fato de viver contundido e quase nunca jogar, o boleiro parece ainda mais onipotente. Para provar isso, é só vermos a última ação judicial movida por ele e pelo pai homônimo.

Trata-se da tentativa de Neymar Jr. de retirar do ar um podcast investigativo sobre sua trajetória no futebol e os negócios conduzidos com seu pai, que foi rejeitada pela Justiça da Comarca de Santos, no litoral paulista. A iniciativa do jogador buscava bloquear a publicação de uma série documental em áudio que questiona os bastidores da ascensão meteórica do atleta, mas foi considerada incompatível com os princípios constitucionais da liberdade de expressão.

O programa em questão, lançado no YouTube em abril, leva o título “O Projeto Neymar deu certo?” e examina em profundidade a construção da imagem e do patrimônio do jogador, a partir de uma vasta investigação. Comandada pelos jornalistas Juca Kfouri e Pedro Lopes, a produção reúne mais de seis mil páginas de contratos e documentos confidenciais, além de 15 horas de entrevistas, compondo um panorama minucioso da influência de Neymar da Silva Santos, pai do jogador, nas decisões que moldaram a carreira do filho.

Logo no primeiro episódio, o podcast traça o perfil do pai como um empresário agressivo e influente no mundo esportivo, revelando episódios pouco conhecidos que prometem vir à tona ao longo dos próximos capítulos.

Juiz rejeita exigência de Neymar para ter acesso antecipado aos episódios

Na decisão, o juiz Eduardo Hipolito Haddad classificou como inaceitável um outro pedido do jogador. Ele queria que os autores da série fossem obrigados a compartilhar todo o conteúdo inédito antes da publicação. O magistrado ressaltou que essa exigência configuraria censura prévia, prática banida pela Constituição. O magistrado afirmou que a notoriedade de figuras públicas implica exposição, e que não há violação de direitos quando se retrata, com base documental, a vida de uma pessoa de relevância pública.

Ainda segundo o juiz, a legislação brasileira não condiciona a produção de obras biográficas ao consentimento dos biografados, sejam elas em formato literário ou audiovisual.

Coerência: quem apoiou um governo autoritário agora quer calar a imprensa

O episódio levanta uma questão crucial: como justificar o apelo à censura num país democrático por parte de quem já defendeu abertamente figuras antidemocráticas como o ex-presidente Jair Bolsonaro? Tanto Neymar quanto seu pai se alinharam politicamente ao ex-mandatário, cuja trajetória foi marcada por ataques reiterados à liberdade de imprensa. É inadmissível que justamente quem endossou esse projeto político agora busque controlar o trabalho jornalístico alheio com o mesmo tipo de comportamento que outrora aplaudiu.

Justiça ainda permite novo recurso

Apesar da derrota inicial, Neymar terá cinco dias para reformular seu pedido judicial. O jogador de 33 anos poderá apresentar um novo recurso, conforme autorizado pela decisão. No entanto, o entendimento da Justiça é claro: a tentativa de restringir previamente conteúdos jornalísticos não encontra respaldo legal no Brasil democrático.

Podcast convidou Neymar, mas ele optou pelo silêncio

De acordo com informações constantes no processo, a equipe de produção tentou ouvir Neymar antes da publicação, enviando ao menos um convite para que ele participasse da série. Não houve resposta. Essa ausência de manifestação reforça o caráter unilateral da tentativa de censura, sem que o jogador tenha buscado o diálogo no campo jornalístico antes de apelar ao Judiciário.

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