AUTOMOBILISMO

Corrida de Stock Car em BH pode afetar ratos de laboratório; entenda

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) alerta para impactos sonoros da prova em locais sensíveis do campus, como o Hospital Veterinário e os Biotérios

Pesquisas podem ser afetadas caso ratos e camundongos de laboratórios sofram impactos do barulhoCréditos: Foca Lisboa | UFMG
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A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) tem alertado para os impactos negativos da realização da prova de Stock Car, prevista para este fim de semana, em Belo Horizonte (MG). O circuito elaborado para a competição está localizado nos arredores do Estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão, e pode inclusive afetar animais e pesquisas científicas.

O Ministério Público Federal (MPF) havia requisitado a suspensão do evento e o monitoramento sonoro em áreas críticas próximas ao campus da universidade, com proibição de treinos até que medidas de mitigação acústica fossem implementadas pela organização. Mas a Justiça Federal, nesta quarta-feira (14), negou o pedido.

A reitora da Universidade, Sandra Goulart Almeida, concedeu entrevista coletiva na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta quarta e destacou que o Hospital Veterinário está a uma distância de 50 metros da pista. 

“Retiramos alguns animais, mas outros não podem ser deslocados, por causa dos enormes riscos para a saúde e para a vida deles. No Biotério Central e nos do Instituto de Ciências Biológicas, que são os locais apropriados para criação de roedores para pesquisa, o estresse causado pelo barulho muito acima do suportável pode causar mortes, abortos e mudanças que inviabilizam o prosseguimento de diversos estudos”, pontuou a reitora.

Pesquisas afetadas na UFMG

O Biotério Central da UFMG, criado em 2013, é uma das unidades em risco por conta dos impactos da corrida. Ali são criados ratos e camundongos para pesquisas científicas de alto nível, animais padronizados de nível internacional, do tipo Specific Pathogen Free (SPF), o que significa que estão livres de influências e agentes biológicos capazes de interferir nos experimentos, como conta matéria do site da universidade

Os animais são capazes de colaborar para a obtenção de resultados científicos que vão se transformar em vacinas, tratamentos e remédios novos. Contudo, eles não podem ter sua rotina modificada nem sofrer qualquer alteração muda que possa gerar uma variação indesejada em sua biologia. E o barulho tem o potencial de fomentar a produção excessiva de hormônios ligados ao estresse, já que os ratos e camundongos possuem uma alta sensibilidade auditiva.

“Os animais do Biotério são criados em condições sanitárias muito estritas, com controle rigoroso de temperatura, umidade, luminosidade, ruído. Todo o padrão sanitário deles é controlado nos mínimos detalhes. Não é possível movê-los de uma hora para outra; não é possível nem mesmo cogitar uma realocação, pois eles são criados em equipamentos especiais, em um sistema próprio de racks ventilados”, aponta a professora Adriana Abalen, coordenadora da unidade.

Ela conta ainda que inúmeras medidas foram tomadas para tentar reduzir os efeitos negativos, porém, o resultado é incerto. "Tomamos uma série de medidas para minimizar os impactos, mas não sabemos se serão suficientes. Na prática, não temos como fazer essa avaliação, pois não sabemos como o ruído e o quanto de ruído vai chegar. A rigor, não tivemos uma informação concreta do nível de ruído que vai chegar por aqui", explica.

“E, mesmo que fosse realizado esse isolamento, não teríamos como avaliar se seria suficiente, pois há também a questão da vibração provocada pelo som, que não sabemos como vai chegar. É tudo muito desesperador. Estamos no escuro”, relata.

Sem limites, nem contrapartidas

A deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT) destacou que duas audiências públicas foram realizadas na Assembleia Legislativa do estado sem representantes da organização.

"Nenhum estudo foi feito para a realização do evento em outro lugar. E antes da decisão por fazer a corrida no entorno da UFMG, seria preciso identificar, tecnicamente, limites e impactos. O evento está acontecendo sem limites nem contrapartidas", disse a parlamentar. A parlamentar afirmou que vai conduzir, na segunda-feira (19), uma nova visita técnica para apurar e relatar os danos para os animais e para as estruturas da UFMG.

Com informações da Universidade Federal de Minas Gerais