Jogos Olímpicos de Moscou, 1980. Ainda no auge na Guerra Fria, que opunha os chamados países da Cortina de Ferro aos aliados da OTAN.
A imagem dos soviéticos divulgada no Ocidente era de gente perigosa, espiões que matavam friamente e eram perseguidos por ninguém menos do que 007, Bond, James Bond.
Os russos queriam espalhar o comunismo pelo mundo, raptar nossas crianças para devorá-las, porque todos sabíamos que eram "comedores de crianças".
Viviam de cara emburrada e de mal com a vida, pois a ditadura os impedia até de sorrir.
Era assim que o Ocidente imaginava a União Soviética, quando Moscou foi escolhida sede dos Jogos Olímpicos de 1980.
Os Estados Unidos fizeram seu papel e trataram de boicotar os Jogos e incentivar os aliados a fazerem o mesmo. A alegação: os malvados russos haviam invadido o Afeganistão.
Nada falavam das guerras da Coreia e do Vietnã, em que os Estados Unidos lançavam napalm e agente laranja sobre a população civil.
69 países aderiram ao boicote e não compareceram a Moscou. Outros liberaram seus atletas, mas eles competiam sem representar seus países.
Ainda assim as Olimpíadas foram um sucesso. Mesmo diante do receio de atentados, que não aconteceram.
E no final, na Cerimônia de Encerramento, uma imagem formada na arquibancada do estádio emocionou o mundo, que assistia pela televisão: o choro de despedida do ursinho Misha, mascote das Olimpíadas.
O uso do ursinho nas cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos, transmitidas pela televisão, emocionou o mundo. Misha aparecia em movimentos produzidos por um enorme mosaico de coreógrafos carregando placas coloridas, que eram levantadas e abaixadas segundo um movimento perfeitamente sincronizado pelas pessoas nas arquibancadas do estádio. Um momento especificamente marcante ocorreu durante a cerimônia de encerramento, quando uma coreografia simulou a queda de uma lágrima do olho do ursinho, fazendo Misha chorar.
É impossível descrever hoje o impacto que o choro de Misha teve no Ocidente, tão cercado de preconceitos contra os "malvados" soviéticos. Foi uma quebra de expectativas que levou o mundo a chorar junto com Misha.
Só aí talvez as pessoas puderam perceber que aquele país que nos diziam formado por malvados era o país de Dostoiévski, Tolstói, Pushkin, Tcheckov, Maiakovski, Tchaikovsky, Stravinski, Rakhmaninov...
O choro do ursinho Misha nos conectou todos.