POVOS INDÍGENAS

Sonia Guajajara vai para cima de Abel Ferreira por fala racista; técnico português pede desculpas

Treinador do Palmeiras havia afirmado que sua equipe não é de "índios" e ministra dos Povos Indígenas o convidou para conhecer "a história de colonização de Portugal com relação ao Brasil"

Sonia Guajajara critica Abel Ferreira após fala racista sobre indígenas; técnico pede desculpas.Créditos: Washington Costa/MPI/Reprodução/Instagram
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A ministra dos Povos Indígenas do governo Lula, Sonia Guajajara, foi para cima do técnico do Palmeiras, Abel Ferreira, após o treinador português proferir uma frase racista para se referir ao seu time. 

Na última quinta-feira (11), depois da vitória sobre o Atlético Clube Goianiense por 3 a 1, pelo Brasileirão, Ferreira afirmou que seu time “não é uma equipe de índios”. A expressão foi usada para dizer que o time não seria "desorganizado", disparando preconceito contra os povos indígenas

Através das redes sociais, Sonia Guajajara protestou e relembrou a história de colonização de Portugal sobre o Brasil, quando milhões de indígenas foram assassinados e escravizados. Segundo a ministra, a fala de Abel Ferreira é "inadmissível". 

"O técnico do Palmeiras errou, e muito, na sua declaração. Gostaria de convidá-lo a conhecer a história dos povos indígenas do Brasil. E também conhecer a história de colonização de Portugal, seu país de origem, em relação ao Brasil e como estamos trabalhando para rever isso", escreveu. 

"O próprio presidente de Portugal, recentemente, admitiu que o país foi responsável por uma série de crimes contra escravos e indígenas no Brasil. Uma declaração muito importante porque o reconhecimento de tais crimes é o 1º passo para ações concretas de reparação. Seu posicionamento, naquele momento, trouxe para o debate público a relevância inadiável de avançarmos numa agenda de igualdade étnico racial como premissa para a cidadania, com o resgate, a preservação e a valorização da história e dos saberes da cultura afro-indígena do BR", prosseguiu a ministra. 

Neste sábado (13), Sonia Guajajara informou que foi procurada pelo Palmeiras e informada que o técnico Abel Ferreira pediu desculpas pela declaração. 

"A assessoria do Palmeiras entrou em contato com nosso gabinete para informar sobre o posicionamento do técnico Abel Ferreira, após sua fala. Importante o reconhecimento do erro e o pedido de desculpas às comunidades indígenas do Brasil", publicou a ministra. 

O pedido de desculpas do treinador português foi postado em seus perfis nas redes sociais. 

“Repudio toda e qualquer forma de preconceito e discriminação. Infelizmente, há expressões que continuamos a perpetuar sem que nos debrucemos sobre o seu conteúdo. Errei ao usar uma dessas expressões na coletiva de imprensa. Reconheço que palavras têm poder e impacto, independentemente da intenção. Devemos todos questionar, pensar e melhorar todos os dias. Peço desculpa a todos e, em especial, às comunidades indígenas”, diz a nota do técnico. 

Por que utilizar o termo "índio" é errado e preconceituoso 

No dia 19 de abril é celebrada a cultura e luta dos povos originários brasileiros. A data foi instituída em 1943, através de decreto, pelo presidente Getúlio Vargas, com o nome de "Dia do Índio". O termo, no entanto, é retrógado e preconceituoso, pois limita o indígena brasileiro a uma figura estereotipada, em detrimento de toda a diversidade cultural desses povos. 

Quem faz o alerta são os próprios indígenas. O país já uma lei aprovada no Congresso Nacional, a partir de um projeto de Joenia Wapichana (Rede-RR), primeira e única parlamentar mulher indígena do Congresso Nacional, que muda o nome da data para Dia dos Povos Indígenas.

Em entrevista ao programa Fórum Onze e Meia em 19 de abril de 2022, Marize Guarani, presidenta da Associação Indígena Aldeia Maracanã (AIAM), explicou o motivo pelo qual usar "Dia do Índio" é preconceituoso e o nome correto para a data deve ser Dia dos Povos Indígenas. 

"'Índio' não cabe para 305 povos, 305 culturas, 274 línguas. Nós somos o segundo país com maior número de línguas faladas o território nacional. Precisamos fazer com que elas não despareçam, apesar de sabermos que no português estamos recheados Tupi-guarani. As pessoas falam Tupi-guarani e não conseguem nem entender isso, tamanha nossa invisibilidade", pontua Marize. 

Segundo Marize, dizer "índio" para se referir aos povos originários brasileiros alimenta o preconceito e a discriminação. "É tentar colocar a gente numa caixinha, e quem não se enquadra congelado no século 16 não é indígena. Para que a gente acabe com esse preconceito, estereótipos e dicriminação, é 'Dia dos Povos Indígenas'. Somos 305 povos nesse país", reforça.  

Assista à entrevista com Marize Guarani a partir dos 9 minutos e 19 segundos do vídeo abaixo: