VIOLÊNCIA POLICIAL

Goleiro que levou tiro de PM sangrou muito e desmaiou em campo; governo Lula se manifesta

Ramón Souza, baleado por um policial militar durante partida entre Grêmio Anápolis e Centro Oeste, não deve mais voltar a jogar este ano

Goleiro é alvo de tiro da PM durante jogo em Goiás.Créditos: Reprodução
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O goleiro Ramón Souza, do Grêmio Anápolis, chegou a desmaiar em campo devido a grande perda de sangue após ser alvo de um tiro de bala de borracha disparado por um policial militar ao final da partida de seu clube contra o Centro Oeste pela 12ª rodada da série B do Campeonato Goiano, na noite desta segunda-feira (10). 

Logo após o apito final, durante uma discussão entre os atletas em campo, agentes da Companhia de Policiamento Especializado (CPE) da PM interviram e, em determinado momento, um deles efetuou o disparo, que atingiu a perna de Ramón Souza. O jogador recebeu os primeiros-socorros dentro de uma ambulância com UTI móvel no estádio. 

Veja vídeo [ATENÇÃO, IMAGENS FORTES]: 

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, a mãe de Ramón Souza, Carliane Alves de Souza, afirmou que seu filho não deve mais jogar este ano

"Ele sangrou muito e desmaiou em campo. Ele disse que queimava muito, doía muito, perdeu as forças. A ambulância demorou bastante para fazer o socorro, mas, graças a Deus, ainda assim foi um grande livramento. Eu não consegui pregar o olho e fico imaginando se fosse em outro lugar, se esse policial atira na barriga dele, coisa assim, poderia ter causado algo muito mais sério", declarou. 

"Esse homem que usa a farda jamais pode ser chamado de policial goiano. Aquele homem é um despreparado. Ele não poderia jamais ter disparado aquele tiro, porque não havia necessidade. Atrapalhou meu menino, tirou ele do campeonato. Ele não joga mais esse ano. Em vez de estar treinando, está andando de delegacia em delegacia. A história da vida dele mudou dentro de alguns segundos. Se a gente ficar calado, isso vai acontecer com outros", disse ainda. 

O médico do Grêmio Anápolis, Diego Bento, por sua vez, disse em entrevista ao "Globo Esporte", da TV Globo, que o goleiro não corre risco de vida e que a ferida causada pelo disparo será tratada para evitar necrose. Segundo ele, o jogador não precisará amputar a perna. 

"Ele teve uma lesão na face anterior da coxa e perdeu um pouco de pele. Tem um pouco de lesão muscular também. Além de uma perda de pele central, ele também teve pele desvitalizada por temperatura, com queimadura de terceiro grau no entorno da lesão. Fizemos uma limpeza meticulosa da ferida, lavamos com bastante soro e tiramos as fagulhas de borracha. - Tiramos os tecidos que estavam desvitalizados e não há risco de morte ou de perder a perna porque não feriu nenhum vaso grande. A lesão tem uma extensão de 3cm a 4cm. Agora é aguardar os próximos dias para ver se ele vai evoluir bem, vamos fazer curativo diariamente para ver se não evolui para infecção e nem necrose desse tecido", detalhou. 

Governo Lula se manifesta 

O governo Lula se manifestou sobre o ocorrido através de nota de repúdio assinada pelo Ministério dos Esportes. 

"A ação desproporcional e violenta por parte da Polícia Militar, que culminou no disparo de uma bala de borracha contra o goleiro Ramón Souza, é inaceitável e deve ser veementemente repudiada. Este tipo de conduta vai contra os princípios básicos de segurança e integridade física que devem ser garantidos a todos os envolvidos no esporte", diz trecho do comunicado. 

Leia abaixo a íntegra: 

"É com grande consternação que o Ministério do Esporte tomou conhecimento dos lamentáveis acontecimentos ocorridos durante a partida de futebol entre Grêmio Anápolis e Centro Oeste, pela 12ª rodada da Divisão de Acesso do Campeonato Goiano. A ação desproporcional e violenta por parte da Polícia Militar, que culminou no disparo de uma bala de borracha contra o goleiro Ramón Souza, é inaceitável e deve ser veementemente repudiada. Este tipo de conduta vai contra os princípios básicos de segurança e integridade física que devem ser garantidos a todos os envolvidos no esporte.

Nos solidarizamos com o jogador, vítima desta ação desmedida, e com toda a equipe do Grêmio Anápolis, que presenciou e sofreu os impactos deste ato de violência. É inadmissível que profissionais do esporte, que dedicam suas vidas à prática e promoção do futebol, sejam expostos a situações de tamanha agressividade. Este episódio reforça a necessidade urgente de uma revisão nos procedimentos, garantindo que a atuação policial seja sempre pautada pelo respeito aos direitos humanos e pela proteção dos indivíduos.

Reiteramos nossa confiança na capacidade das autoridades competentes em conduzir uma investigação rigorosa e transparente, que leve à responsabilização dos envolvidos e à implementação de medidas que impeçam a repetição de tais fatos. É imperativo que se restabeleça a confiança na atuação policial, assegurando que episódios de violência não se tornem uma constante nos campos de futebol.

Por fim, destacamos nosso compromisso com a promoção de um ambiente seguro e justo para todos os profissionais e amantes do esporte. Continuaremos lutando por um futebol onde o respeito, a segurança e a integridade física e moral de todos sejam prioridades absolutas, reafirmando nossa posição contra qualquer forma de violência e abuso.

Ministério do Esporte". 

O que diz a Polícia Militar

Em nota, a Polícia Militar de Goiás informou que "foi determinada imediatamente a abertura de procedimento administrativo para apurar os fatos com o devido rigor" e que "reafirma o compromisso com o cumprimento da lei, e reitera que não compactua com qualquer desvio de conduta praticado por seus membros".

Grêmio Anápolis quer punição do policial 

O Grêmio Anápolis emitiu uma nota de repúdio em que classifica o ocorrido como um "ato horrível, inacreditável e criminoso", anunciando que buscará a punição do responsável pelo disparo. 

"O dia 10 de julho fica marcado por um ato violento, sujo e horrível contra um de nossos jogadores, o que jamais será esquecido. O GEA informa que entrará com medidas cabíveis, para que o responsável seja punido e que a justiça seja feita, para que este ato CRIMINOSO, não fique impune", diz o comunicado. 

Confira: