O lateral direito Daniel Alves está preso desde 20 de janeiro pela acusação de estupro contra uma jovem espanhola de 23 anos dentro do banheiro da boate Sutton, em Barcelona. Quase 6 meses após a noite de 30 de dezembro de 2022, quando os acontecimentos transcorreram, as autoridades espanholas anunciaram que as investigações foram concluídas, que todas as provas já estão na mesa do juiz e o julgamento está prestes a ser agendado para os próximos meses.
De acordo com as informações divulgadas pelo jornal espanhol El Periodico, o julgamento será marcado para o próximo outono, que naquele país ocorre entre os meses de outubro de novembro. Em outras palavras, uma decisão final da Justiça da Espanha sobre o caso será publicada ainda neste ano.
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Além disso, com diversos pedidos de liberdade provisória negados, o último na semana que passou, Daniel Alves irá aguardar ao julgamento, até sua decisão final, dentro da penitenciária Brians 2 no subúrbio de Barcelona.
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Por fim, as informações que chegam da Espanha ainda apontam que dificilmente haverá um adiamento, postergação ou pedido de vista no julgamento. De acordo com o El Periodico, as chances dos advogados de defesa e acusação pedirem novos exames ou revisão de provas são pequenas, assim como as chances do juiz conceder tais solicitações.
A última estratégia da defesa do jogador foi a de tentar desqualificar a vítima. Os advogados alegaram no fim de maio que, nas imagens gravadas, é possível observar “dois adultos desenvolvendo um jogo erótico preliminar ao coito”.
Um último recurso então foi apresentado pela defesa de Daniel e apontou que “observa-se na denunciante uma conduta abertamente sexualizada, própria de um galanteio sexual em fase de cortejo”. Uma outra alegação machista, em uma clara tentativa de inabilitar o depoimento da vítima, diz: “Em algum momento, se vê a jovem colocando-se de costas ao atleta, contorcendo-se e roçando os glúteos em movimento com a zona pélvica do denunciado ao ritmo da música”.
Câmeras de segurança contam outra história
As imagens das câmeras de segurança da boate Sutton foram obtidas no Brasil pelo portal Uol mas não foram divulgadas, apenas descritas, justamente para preservar a identidade da vítima. Nelas, é possível separar as interações entre Daniel Alves e a vítima em três momentos. Os primeiros minutos se deram com a interação entre ambos na área VIP da discoteca. A denunciante está na pista com uma amiga e uma prima, e as três dançam com o atleta e seu amigo Bruno Brasil. É nesse momento que a jovem se afasta do jogador após ser apalpada no traseiro por ele. Ela sai de sua presença para dançar com a prima, conforme contou no seu relato à Justiça.
No segundo momento, que se deu nos minutos anteriores da ida de Alves e da jovem ao lavabo da balada, as três jovens conversavam entre si, de costas para os dois homens. Em seguida, Daniel Alves entra no banheiro. A jovem então, durante a conversa com as amigas, olha por três vezes em direção à porta do lavabo antes de encontrar o atleta. De acordo com seu depoimento, o lateral direito fazia sinais para que ela o encontrasse ali, mas não sabia que se tratava de um banheiro.
Sem a presença de câmeras no interior do banheiro, por conta da privacidade de quem o utiliza para a real finalidade, o terceiro momento captado pelas câmeras de segurança ocorre após a saída de ambos do local. O primeiro a deixar o lavabo é Daniel Alves, que ao chegar à área VIP passa direto por Bruno Brasil e a prima da vítima, que conversavam em um sofá. Daniel Alves observa a boate quando um outro homem o aborda para tirar uma selfie.
Logo em seguida a vítima deixa o banheiro, troca algumas palavras com a prima e as duas deixam o local imediatamente. A prima se despede de Bruno Brasil com dois beijos no rosto, enquanto a vítima se limita a um aperto de mãos. Após a saída das duas, Daniel Alves olha para o amigo Bruno pela primeira vez desde que deixou o banheiro, lhe serve uma champanhe e os dois conversam.
No corredor de acesso à boate, as imagens mostram a vítima com dificuldades para caminhar enquanto tenta deixar o local. Ela chora e mostra o joelho ferido para a amiga. A seguir, ambas se abraçam por cerca de 1 minuto antes de contarem o ocorrido a um funcionário da casa e irem embora. O funcionário chama o gerente e a partir daí desencadeia o protocolo anti-abuso sexual que, quase um mês depois, levou o atleta à cadeia.
Enquanto a moça deixava o local, Daniel e Bruno também iam embora na companhia de um segurança particular. Os homens passam pelas moças e o atleta sequer troca olhares com a mulher com quem teria, segundo seu relato, tido "relações sexuais consensuais". A vítima saiu da boate diretamente para o Hospital Clinic de Barcelona, onde fez os primeiros exames relativos à ocorrência.
Detalhes do depoimento da jovem
Em 30 de maio o programa de TV En Boca de Todos, transmitido pela emissora espanhola Cuatro, divulgou trechos exclusivos do depoimento da mulher que acusa Daniel Alves de estupro. O fato ocorreu no dia 30 de dezembro de 2022, na boate Sutton, em Barcelona, e o brasileiro está preso há quatro meses.
Segundo o depoimento, a jovem de 23 anos estava com duas amigas (uma delas é prima) e, enquanto dançavam, um garçom disse a elas que um grupo de homens, de origem mexicana, as convidou a entrar na área VIP. Elas rejeitaram inicialmente, mas minutos depois o mesmo funcionário insistiu por ser “amigo da casa”. As três, então, concordaram.
“Ele (Daniel Alves) se aproximou de mim e disse: ‘Você não sabe quem eu sou?’. E eu, ‘não’. Ele me disse: ‘Meu nome é Dani’. E ele me disse: ‘Eu jogo petanca (esporte semelhante à bocha) em Hospitalet (cidade espanhola)’. Lembro que ele pegou minha mão e colocou em sua parte de baixo”, explicou ela.
“Ele disse para a gente sair e eu disse que não. Comecei a ter muito medo. E pensei: ‘E se ele colocar algo na minha bebida? E se ele fizer algo com minha amiga?’. Pensei em tudo em pouquíssimo tempo”, relatou.
A resolução do caso está diretamente ligada ao que ocorreu em seguida. A defesa do brasileiro alega que a relação sexual que ambos tiveram em um banheiro da boate foi consentida, enquanto a mulher garante que foi estupro.
Câmeras de segurança mostraram que Daniel foi o primeiro a entrar no banheiro e a jovem foi logo atrás.
“Lembro-me que ele fez um gesto para mim e foi quando eu disse à minha prima que não sabia se devia ir e (ela) me disse: ‘Bom, não tem problema’, e ela fez o gesto de ‘vai embora e pronto’”, disse a jovem.
A denunciante assegurou que não desconfiava do que estaria prestes a ocorrer. “Não, não sabia para onde estava indo. Lembro-me de ir até onde ele estava. Naquele momento, imaginei que era uma porta para a rua ou uma sala VIP ou outra zona da discoteca. Ele abriu a porta, eu me lembro, e eu entrei e quando entrei, vi para onde ia, vi que era uma pia minúscula, era muito, muito pequena, só tinha banheiro e lugar para lavar mãos. Naquele momento começou meu choque. Eu não entendi nada, fiz menção de me virar e ele já tinha fechado a porta".
Ambos ficaram 17 minutos no banheiro. “Ele levantou meu vestido e me fez sentar nele. Lembro-me de dizer a ele: ‘Não posso, não posso, tenho que ir, não quero’. E ele começou a me contar muitas coisas. Depois, me colocou no chão, fiquei em choque, não sabia o que fazer ali”, disse a jovem.
Sobre o uso de força, ela afirmou: “Ele não só agarrou meu cabelo e me fez ajoelhar na frente dele. Naquele momento, vi uma tatuagem, como um arco (Daniel tem uma tatuagem íntima). Eu pensei ‘esse cara vai me machucar muito’. Fiquei com muito medo, o rosto, a tatuagem e até hoje são cenas que não saem da minha mente”.
O portal espanhol El Periódico havia revelado, em janeiro, que a mulher garantiu que jogador a “obrigou a sentar em cima dele, jogou-a no chão, obrigou-a a fazer sexo oral nele. Ela tentou resistir, mas levou um tapa. Ele, então, levantou-a do chão e a penetrou até ejacular”. Nos trechos veiculados no programa En Boca de Todos, esse momento não foi divulgado em detalhes.
O canal de TV espanhol veiculou, ainda, trechos do depoimento das duas amigas da denunciante. Ambas confirmaram o depoimento da jovem e mencionaram o comportamento inadequado do brasileiro.
“Ele agarrou meu rosto e acariciou meus cabelos. Começou a tocar nas minhas costas e desceu na minha bunda”, comentou uma delas. A outra acrescentou: “É verdade que ele dançou conosco e ele tocou minhas partes íntimas enquanto dançávamos”.
Uma das amigas também falou sobre o que teria ocorrido no banheiro. “A prima dela (denunciante) veio e me disse: ‘Ele tocou no meu c*’. Ela estava lá e eu o vi caminhar em direção à porta. Foi quando os perdi completamente de vista”.
Por sua vez, a outra declarou: “Ela foi voluntariamente, pensou que eles iam conversar e eu disse a ela: ‘Vá e resolva isso’. Fiz o gesto com a mão. 15 ou 20 minutos se passaram. Dani voltou primeiro, ela estava com a cara feia”.
Na sequência, a denunciante pediu para deixar o local e perto de onde se guardam casacos, começou a chorar diante da prima e da amiga. Ela contou por alto o que havia ocorrido no banheiro, e imediatamente, o segurança da boate disse que não poderia sair, pois se o fato fosse verdade o estabelecimento teria de “ativar o protocolo”.
“Ela não quis denunciar. Comecei a chorar com ela. Os Mossos (d'Esquadra) chegaram e o protocolo foi ativado lá”, disse uma amiga.
"Lesões compatíveis com uma luta"
Os agentes de segurança da Catalunha foram ao local junto com uma ambulância, que encaminhou a jovem ao Hospital Clínic. Lá foram realizados exames, que, segundo fontes do portal El Periódico, mostraram que ela apresentava lesões “compatíveis com uma luta”.
Passadas 48 horas, a jovem compareceu a uma delegacia para apresentar queixa e entregou o relatório médico, juntamente com a roupa que vestia naquela noite, o que foi fundamental para confirmar que o sêmen era de Daniel Alves.