CRIME NA ITÁLIA

Robinho: entenda a situação do jogador condenado por estupro

Além dos novos áudios, um julgamento que pode ser retomado na semana que vem é o última etapa para que o atacante vá para cadeia; conheça o processo

Robinho em situação delicada.Créditos: Ivan Storti/Santos FC
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Áudios obtidos através de um grampo no carro do ex-jogador Robinho, usados pelo Ministério Público da Itália na acusação de estupro, foram revelados nesta quarta-feira (14) pelo podcast "Os grampos de Robinho", do site UOL. Nas conversas, é possível ouvir o jogador admitindo ter tido relações sexuais com a vítima e demonstrando receio de que o crime fosse divulgado pela mídia, além de outras falas estarrecedoras

Condenado a nove anos de prisão pela justiça italiana, o ex-atacante da seleção brasileira ainda não começou a cumprir a pena. Atualmente, ele aguarda o julgamento de um recurso no STJ. Se for negado, Robinho pode ir para a cadeia no Brasil, sem a necessidade de ser extraditado para a Itália. 

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Leia mais para saber como está a situação do jogador, como o crime foi investigado pela justiça da Itália e o que falta para o ex-jogador ir para a prisão. 

O crime 

O crime aconteceu na madrugada do dia 22 de janeiro de 2013, há mais de dez anos atrás. Além de Robinho, estiveram envolvidos outros quatro brasileiros e Ricardo Falco, amigo do jogador, que também foi condenado. 

Os envolvidos foram acusados de estuprarem coletivamente uma jovem albanesa de 23 anos durante uma festa na boate Sio Cafe, em Milão. Na época, Robinho residia na Itália e defendia o Milan. Ele confessou ter mantido relações sexuais com a vítima, que comemorava seu aniversário na noite do crime. 

No áudios obtidos através do grampo no carro, o jogador debocha ao saber da denúncia."É, eu sei, eu também, por isso que estou rindo. Não estou nem aí. A mina estava extremamente embriagada, não sabe nem quem eu sou", disse em conversa com Jairo Chagas, músico que tocava na boate naquela noite. O estupro aconteceu no camarim de Jairo.   

Processo até a condenação definitiva 

Em outubro de 2014, o jornal italiano Corriere della Sera noticiou o pedido de prisão preventiva de Robinho feito pelo Ministério Público da Itália. Naquela ocasião, a justiça negou o pedido, e o jogador respondeu ao processo em liberdade. 

A condenação em primeira instância aconteceu em 23 de novembro de 2017. Na sentença, a troca de mensagens e escutas nas quais o jogador falava sobre a noite do crime tiveram grande importância. O conteúdo dos áudios divulgado nesta quarta já era de conhecimento público, contudo é a primeira vez que as conversas podem ser ouvidas na íntegra. 

A Corte de Apelação, segunda instância competente para julgar o caso na justiça italiana, confirmou a condenação e manteve a pena de nove anos para Robinho e seu amigo, Ricardo Falo. Os outros brasileiros envolvidos não foram formalmente processados pelo poder judiciário da Itália, pois já haviam deixado o país quando as investigações foram concluídas.  

"[Foi] Uma investigação bem feita, de modo sério, com uma sentença de primeiro grau correta. Profissionalmente, estou muito satisfeito, principalmente pela vítima", disse Cuno Tarfusser, procurador do Ministério Público italiano, na ocasião. 

"A vítima foi humilhada e usada pelo jogador e seus amigos para satisfazer seus instintos sexuais. O fato é extremamente grave pela modalidade, número de pessoas envolvidas e o particular desprezo manifestado no confronto da vítima, que foi brutalmente humilhada e usada para o próprio prazer pessoal", escreveu a juíza italiana Francesca Vitale, que presidiu o julgamento em segunda instância.

A condenação definitiva só veio em janeiro de 2022, quando a Corte de Cassação de Roma negou o último recurso possível para os acusados. A sentença transitou em julgado e, desde então, Robinho e Ricardo Falo podem cumprir pena. Entenda o motivo pelo qual eles ainda não foram para a cadeia.

Cumprimento da pena no Brasil

A sentença foi definitiva, ou seja, não cabia mais recurso. Com isso, a justiça italiana poderia pedir a extradição de Robinho e Falco, mas a Constituição brasileira veda a extradição de brasileiros. 

Assim, outra possibilidade para que os condenados cumpram suas penas é a homologação da sentença italiana e a prisão deles no Brasil. Foi o que ocorreu em fevereiro deste ano, quando o governo da Itália solicitou à justiça brasileira que executasse penas. Os pedidos foram assinados pelo ministro da Justiça do país europeu, Carlo Nordio.

Após analisar os documentos, o Ministério Público Federal (MPF) encaminhou a solicitação ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), instância competente para julgar o reconhecimento de sentenças estrangeiras. O relator do caso é o ministro Francisco Falcão, que votou pelo cumprimento da pena no Brasil. 

A defesa de Robinho entrou com um recurso para ter acesso à íntegra do processo. Nesses casos, é de praxe que o governo do país estrangeiro encaminhe apenas a sentença que se pretende homologar. No julgamento do recurso, o ministro João Otávio de Noronha pediu vista, o que suspendeu o julgamento.

O prazo inicial de 60 dias para a vista do processo se encerra na próxima segunda-feira (19), fazendo com que o julgamento possa ser retomado. Contudo, a data-limite é prorrogável por mais 30 dias, o que pode atrasar ainda mais o desfecho do caso Robinho.

Trajetória do jogador

Natural de São Vicente, município do litoral de São Paulo, Robinho foi revelado pelo Santos. Após passar pelas categorias de base do clube, estreou no time principal em 2002, no extinto Torneio Rio-São Paulo. 

Da Baixada Santista, ele foi direto pra Europa. Passou pelo Real Madrid, Manchester City e Milan, onde jogava quando cometeu o crime de estupro coletivo. Após passagem pela China, no Guangzhou Evergrande, retornou ao Brasil para defender o Atlético Mineiro

Entre 2018 e 2020, jogou no futebol turco pelo Silvasspor e pelo Istanbul Basaksehir. Após esse período, foi anunciado seu retorno ao Santos. Com a forte oposição da opinião pública, motivada por sua condenação por estupro na justiça italiana, ele nem chegou a reestrear. 

Na seleção brasileira, atuou em três Copas do Mundo: 2006, 2010 e 2014, além de outras três Copas Américas. Ao todo foram 102 jogos e 29 gols. Desde julho de 2022, está aposentado. Na ocasião, ele disse que estava se aposentando por causa do crime cometido na Itália. 

Outros casos de violência contra a mulher no mundo do futebol 

Robinho é mais um jogador brasileiro acusado de agressões contra mulheres nos últimos anos. Há casos de agressão física e moral, estupro e feminicídio. 

O caso de Daniel Alves, por exemplo, tem grande repercussão. O ex-lateral está atualmente preso na Espanha, onde é acusado de abusar sexualmente de uma jovem de 23 anos. 

Outro exemplo antigo, mas que teve repercussões recentes é o caso do técnico Cuca. Ele foi acusado de participar de um estupro coletivo de uma garota de 13 anos em julho de 1987. Na época, ele era atacante do Grêmio e foi condenado junto com outros três jogadores pela Justiça da Suíça, onde o crime ocorreu. 

Recentemente, o técnico havia sido contratado pelo Corinthians. Após pressão popular, ele não chegou a comandar o clube. Cuca nunca foi preso pelo crime.