À época dos acontecimentos, em fevereiro de 2019, o Flamengo contratou um engenheiro para produzir laudo independente a respeito do incêndio no alojamento do Ninho do Urubu, que deixou 10 meninos da base do clube mortos. O tempo passou até que nesta segunda-feira (6) foi tornado público que o trabalho do profissional levanta uma nova acusação sobre a diretoria do clube: de que a cena do incêndio tenha sido adulterada a fim de atrapalhar as investigações.
José Augusto Bezerra é o engenheiro elétrico contratado pelo Flamengo. Sócio da Anexa Energia, foi chamado para fazer o laudo em 8 de fevereiro de 2019, a mesma data da tragédia. Dois dias depois estava trabalhando no local.
Ele afirmou para o Uol que naquele 10 de fevereiro viu o CEO do Flamengo, Reinaldo Belotti, ordenando a um funcionário que retirasse do local partes da instalação elétrica que causaram as chamas. Isso teria sido feito durante o período de investigações, uma vez que de acordo com o seu relato, também havia a presença de policiais horas depois naquele mesmo dia. Segundo o engenheiro, a retirada dessas instalações teria comprometido a perícia policial.
De acordo com o laudo da polícia, a causa do incêndio teria sido um defeito no sistema de ar condicionado dos alojamentos. O laudo do engenheiro por um lado está de acordo com o que foi apontado, mas agrega que, além do ar condicionado, a “má instalação da rede elétrica” também teve um papel importante na tragédia.
Por que só agora?
O Flamengo respondeu à acusação, por meio da imprensa, afirmando que Bezerra teria vazado informações sigilosas relacionadas ao contrato de produção do laudo, e de forma enviesada, mirando uma ação que move na Justiça contra o clube. Em 2020 ele processou o rubro-negro pela quebra de contrato de um serviço realizado meses após o laudo do incêndio.
Bezerra alega que o clube rescindiu contrato com sua empresa, após a negativa em pagar propinas a um diretor. Em sua defesa, o Flamengo afirma que pediu o ressarcimento de um serviço não realizado pela empresa e entrou na Justiça para que o engenheiro revele o nome do diretor que exigiu a propina.
O Flamengo se defende
Além de apontar que a acusação do engenheiro seria movida por interesse particular, o clube aponta contradições no discurso do engenheiro. A principal é de que em 10 de fevereiro, quando o profissional esteve no local, a polícia já teria finalizado a sua perícia. De acordo com a própria Polícia Civil, o argumento flamenguista estaria correto, uma vez que as perícias terminaram oficialmente no próprio dia 8 de fevereiro de 2019.
“Jamais o senhor Reinaldo Belotti pediu para adulterar a cena do local do incêndio, o que seria inútil haja vista a consumação imediata da perícia logo após o incêndio, bem antes dessa empresa e seu sócio surgirem no cenário. Não há em toda documentação produzida pelas autoridades públicas, qualquer elemento de prova que indique ou confirme a acusação leviana e caluniosa feita por este senhor”, afirmou o clube, em nota oficial enviada para a imprensa.