LOGO APÓS A ESTREIA

Xenofobia: Técnico iraniano deixa clube do Piauí após ser humilhado por jogadores e torcida; "Terrorista"

Koosha Delshad assumiu a equipe do Comercial, que vive crise e está na lanterna do campeonato piauiense, e foi rejeitado por parte dos torcedores e atletas logo no primeiro dia

O treinador de futebol Koosha Delshad.Créditos: Reprodução/Instagram
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Um triste episódio de xenofobia levou o técnico Koosha Delshad, que estava treinando o Comercial Atlético Clube, do Piauí, a renunciar ao cargo, apenas um dia após sua estreia. 

Delshad, que assumiu o comando da equipe no dia 31 de janeiro, sofreu ataques de parte da torcida e dos jogadores antes e depois de sua única partida pelo clube, que perdeu de 4 a 0 para o River-PI em confronto válido pela 6ª rodada do Campeonato Piauiense. 

O Comercial vive uma crise. O clube não tem marcado gols, sofre derrotas constantes e está na lanterna do torneio estadual. Delshad chegou à equipe com a meta de mudar esse cenário - algo que, naturalmente, não acontece apenas com um jogo. Parte dos torcedores, no entanto, humilhou o treinador com gritos de "terrorista" pouco antes e durante a partida. 

"Não acredito que um treinador que assuma um clube na zona de rebaixamento, que não pontua, não marca gols, com apenas dois dias de treinos faça milagre; nem que ele mereça xingamentos preconceituosos e xenofóbicos, como gritos: 'Hey, treinador terrorista!' e etc. É inacreditável que essas ações tenham começado um dia antes nas redes sociais e continuado desde o primeiro minuto de jogo pelos torcedores que estavam ao lado do banco de reserva", diz nota divulgada pelo iraniano. Ele adiciona, ainda, que foi apelidado de "técnico bomba" e ouviu gritos de que iria "explodir o estádio". 

"Mesmo tendo conhecimento da situação do clube, da falta de equipamentos necessários, assumi a parte técnica, mas não poderia imaginar que no dia do jogo três jogadores anunciariam que não entrariam no estádio! Foi quando percebi que eu não estava em clube profissional e sim em uma escolinha de futebol. Quero falar com torcedores que desde o aquecimento começaram a xingar, se vocês não gostam que eu esteja aí, ao menos gostem do clube", emendou o treinador. 

No comunicado, Delshad desabafou, afirmando que sua intenção era ajudar o clube. "Eu estava lá para ajudar o futebol da cidade, um clube tradicional que está vivendo uma situação anormal, mas percebi que não existe uma determinação por esse objetivo. Minha intenção foi ajudar, mas pela falta de apoio e pelos crimes de xenofobia durante os 90 minutos no estádio, eu renuncio ao cargo da parte técnica do Clube Comercial de Piauí. Tomara que um dia isso acabe no país do futebol", concluiu. 

Koosha Delshad vive no Brasil desde 2014. Ao longo dos anos, estudou e obteve sua licença da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para treinar clubes, inclusive, da Série A do Campeonato Brasileiro. 

Clube se manifesta 

Em nota oficial, o Comercial do Piauí informou que repudia a xenofobia encampada por parte da torcida e jogadores contra Koosha Delshad. 

"O Comercial Atlético Clube, De Campo Maior- PI não compactua e repudia veementemente as atitudes de torcedores que tiveram um comportamento incomum em relação às ofensas direcionadas ao ex-treinador, Koosha Delshad, ocorridas na data de ontem após a derrota no jogo contra o River pelo Campeonato Piauiense Série A 2023, reiterando que, apesar do resultado negativo, nada justifica tais atitudes", diz o comunicado.