Na madrugada desta quarta-feira (29), o acidente que vitimou o time de futebol da Chapecoense completa sete anos. A equipe estava indo em direção à Colômbia, a bordo do voo 2933, da companhia aérea boliviana LaMia, para disputar a final da Copa Sul-Americana, quando o avião despencou dos céus.
Aquela seria a primeira final internacional da história do time catarinense, que tinha feito uma campanha histórica no ano de 2016. No avião, estavam não só jogadores, mas também jornalistas, de veículos nacionais e locais, e integrantes da comissão técnica, além da tripulação, totalizando 77 passageiros. Apenas seis sobreviveram.
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A equipe relembrou a tragédia em suas redes sociais, com a palavra de ordem “Para Sempre Lembrados”.
Pra Sempre Lembrados. ?? pic.twitter.com/jjW3fFnqUa
— Chapecoense (@ChapecoenseReal) November 28, 2023Te podría interesar
Como aconteceu o acidente com o voo da Chapecoense
Primeiro, os passageiros partiram de Guarulhos (SP) para a Bolívia em um voo comercial, pois, por conta dos acordos entre os serviços aéreos dos países, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) não permitiu que o avião da LaMia fizesse o trajeto completo.
Os jogadores só embarcaram no fatídico voo 2933 na cidade de Santa Cruz de La Sierra (Bolívia). O avião tinha como destino o aeroporto José María Cordova, na cidade de Rionegro, na Colômbia, para disputar a primeira partida da final contra o time colombiano do Atlético Nacional.
Por volta das 22h do dia 28, no horário local, e 1h do dia 29 no horário de Brasília, a aeronave perdeu o contato com a torre de controle, despencando a 35 km de seu destino final, na região que era conhecida como Cerro El Gordo, hoje batizada de Cerro Chapecoense, na cidade de Lá Unión.
Haviam 77 pessoas a bordo do voo: 22 jogadores, 25 membros da comissão técnica, 21 jornalistas e 9 tripulantes. Apenas seis pessoas sobreviveram: dois tripulantes, um jornalista e três jogadores.
O que causou o acidente
O acidente foi causado por uma pane seca, isto é, por falta de combustível, o que fez com os motores parassem de funcionar. A falha foi essencialmente humana, advinda de um plano de voo mal elaborado.
O relatório feito a partir da investigação da tragédia apurou que a aeronave voou com 2303 quilos de combustível abaixo do mínimo obrigatório. O trajeto total seria de 2975 km e o avião tinha combustível para 3 mil km, uma margem considerada baixíssima. Isso porque, pelas normas internacionais, um voo deve ter combustível para chegar ao aeroporto de destino e um alternativo, caso haja problemas, além de mais 30 minutos de reserva. No caso do voo que vitimou o time da Chapecoense, deveria haver 11.603 quilos de combustível abastecidos, mas a aeronave decolou com apenas 9.300 quilos.
Outro agravante, que poderia ter evitado a tragédia, é que a tripulação soube da falta de combustível 40 minutos antes do avião cair, mas o piloto Miguel Quiroga optou por não pousar em um aeroporto alternativo para abastecer.
O que aconteceu com os sobreviventes
Dos seis sobreviventes, três eram jogadores. O mais velho, o zagueiro Neto Zampier, hoje com 38 anos, foi o último sobrevivente encontrado, ficando cerca de sete horas nos escombros. Ele tentou retornar aos gramados, mas, por conta de muitas dores físicas decorrentes do acidente, não conseguiu reaver o preparo físico necessário.
O ex-jogador se aposentou em 2019, mas chegou a seguir na Chape, como superintendente de futebol. Hoje ele atua como palestrante.
Neto, que nunca conseguiu ter sua despedida dos gramados em um jogo oficial, fez uma partida de despedida este ano, no último dia 23 de setembro, realizada na Arena Condá, em Chapecó. Ele compartilhou em suas redes uma foto do momento, com o ex-jogador Ronaldinho Gaúcho, que participou do jogo.
O outro sobrevivente, e o que ficou com a maior sequela, foi o goleiro Jakson Follmann, de 31 anos. O ex-jogador teve parte de sua perna direita amputada, pela gravidade dos ferimentos, encerrando de imediato sua carreira, em 2016.
Ele chegou a atuar como embaixador da Chape após se recuperar de seus ferimentos, ficando quatro anos no cargo, até 2021. Ele também foi contratado para ser comentarista da Fox Sports em 2017, dá palestras e faz as vezes de cantor, tendo participado e vencido o reality de música “Popstar”, da Rede Globo, em 2019.
O terceiro jogador sobrevivente foi o lateral-esquerdo Alan Ruschel. Ele foi o único que conseguiu continuar jogando, após ser operado e se recuperar de uma lesão na coluna.
Ruschel voltou aos gramados em 2017, pela Chapecoense. Hoje, joga pelo Juventude e ajudou o time na conquista do acesso à série A do Campeonato Brasileiro em 2024.
Completam os sobreviventes dois tripulantes, Ximena Suárez e Erwin Tumiri, que seguem atuando no ramo da aviação, e o jornalista Rafael Henzel.
Henzel estava a bordo do voo 2933 para a rádio Oeste Capital. Em 2017, lançou o livro “Viva Como se Estivesse de Partida”, no qual fala sobre o acidente. O jornalista veio a falecer em 2019, aos 45 anos, por conta de um mal súbito.
Como ficou o time e as famílias das vítimas
A Chapecoense foi a campeã da Copa Sul-Americana de 2016, após uma solicitação do Atlético Nacional, com quem o time deveria jogar a final. A equipe conseguiu permanecer na Série A até 2019, quando foi rebaixada para a Série B, onde permanece até hoje.
As famílias das vítimas do acidente até hoje não receberam a indenização prometida pela companhia aérea LaMia. Elas deveriam ser pagas pela empresa Tokio Marine Kiln Limited, seguradora da LaMia, em um fundo humanitário de cerca de R$ 4,2 bilhões.
A Chapecoense entrou em Recuperação Judicial em fevereiro de 2022, com dívidas que ultrapassavam os R$ 100 milhões e, segundo o site Esporte Campeão, só aumentaram até hoje, chegando a quase R$ 300 milhões.
Mas familiares de vítimas da tragédia tentam barrar esse processo. Em 2020, a Chape se comprometeu a quitar 26 ações movidas contra o clube pelas famílias, a serem pagas em parcelas.
Sete casos foram quitados, mas, desde 2022, as outras famílias seguem sem receber as parcelas e, como retaliação, pediram que imagens dos atletas vitimados fossem retiradas do site e dos imóveis da instituição.
O sobrevivente Alan Ruschel é um dos que processa o ex-clube. O jogador reivindicou, em 2021, o pagamento de R$ 3.381.105,40 por danos morais pelo acidente, além de contestar o seguro recebido e verbas trabalhistas, como salários atrasados e direitos de imagem. Após lutar contra, em maio de 2022, a Chapecoense entrou em acordo para pagar R$ 2,3 milhões ao lateral em indenizações.