O Brasil perdeu Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé, no último dia 29 de dezembro, aos 82 anos em São Paulo. Seu velório, ocorrido ao longo das últimas 24 horas na Vila Belmiro, estádio do Santos, foi marcado pela presença em massa do público, com quase 230 mil pessoas despedindo-se do ídolo máximo do futebol brasileiro, ao mesmo tempo em que registrou a ausência de jogadores importantes para o futebol brasileiro, como os que foram campeões das Copas do Mundo de 2002 e 1994.
“O Pelé é ídolo do mundo. Só que nosso país é sem cultura, sem educação. É um país que os pentacampeões não vieram, os tetracampeões não vieram, o treinador da Seleção não veio. Mas o mais importante é as pessoas virem. O Pelé é eternizado. As pessoas têm que entender que o Edson Arantes do Nascimento era uma pessoa como todos nós, que comete equívocos, que erra. O Pelé, não”, disparou o ex-jogador Neto, no programa Os Donos da Bola, na TV Bandeirantes.
No entanto, apesar de lamentável, a ausência de craques em velórios de ídolos que partem não é algo novo no futebol brasileiro. Exatamente quatro décadas atrás, em janeiro de 1983, o Brasil perdia Manoel Francisco dos Santos, o Mané Garrincha, aos 49 anos. Em seu velório, também foi notada a ausência de importantes jogadores da época, incluindo o próprio Pelé.
“Infelizmente o futebol brasileiro, por seus grandes ídolos, está dando um mau exemplo ao mundo. Mas o povão está aí. Olha como tem gente. Isso prova que o povão não esqueceu seus ídolos”, declarou na ocasião o zagueiro Belini, capitão da seleção brasileira na Copa de 1958, ao jornal O Globo. Belini havia chegado de São Paulo ao Rio de Janeiro naquela madrugada de 1983 para despedir-se do amigo e colega de seleção.
Já seu companheiro Brito, também zagueiro e campeão do mundo em 1970, no México, mostrou revolta com a ausência dos colegas. “Que não venham com desculpas de treino. Durante a noite, só não foi ao Maracanã quem não quis. Isso prova que o jogador brasileiro não tem sentido de classe. Até os clubes me decepcionaram. Deveriam ter obrigado seus jogadores a comparecerem, em forma de delegação. Afinal, Garrincha foi o maior ídolo do nosso futebol”, desabafou.
“Se hoje temos jogadores com altos salários, em parte, isso é devido ao Mané. Infelizmente as pessoas esquecem tudo muito depressa. Ou não dão valor”, completou Nilton Santos, campeão pela seleção que hoje dá nome ao estádio do Botafogo. O recorte do jornal onde é possível ler as declarações foi resgatado e viralizou nas redes sociais nesta terça-feira (3).
Assim como Pelé, velado na Vila Belmiro, Garrincha foi levado no Maracanã, que encheu-se de fãs do jogador. Relatos dão conta que os presentes saudavam com gritos de “Garrincha é o nosso rei” e “Está chegando a hora”. A confusão foi tanta que a missa programada para o dia seguinte ao velório na igreja de Pau Grande, bairro onde o jogador nasceu, teve de ser cancelada. Na ocasião o povo venceu a polícia e se apoderou do caixão de Mané, passando-o de mão em mão até chegar ao cemitério de Inhomirim, em Magé (RJ), onde seria enterrado. No local, o corpo foi recebido por milhares de pessoas, muitas aglomeradas sobre outros túmulos.
Ao contrário de Pelé, que morreu com a vida encaminhada, sob cuidados médicos e ao lado da família, Garrincha nos deixou repleto de problemas. Sofrendo de alcoolismo, o craque teve seus últimos anos marcados por problemas com a polícia, sobretudo em relação a agressões que teria feito contra a cantora Elza Soares, com quem era casado. Além disso, sem dinheiro, também acumulou tentativas frustradas de voltar aos gramados.
O velório do ídolo foi custeado pelo cantor Agnaldo Timóteo, falecido em 2021. Botafoguense, ele precisou ser consolado por Nilton Santos durante o velório de Garrincha. Juntos, Pelé e Garrincha jamais perderam um jogo pela Seleção Brasileira e foram campeões das Copas de 1958 e 1962, jogadas na Suécia e no Chile.
*Com informações de O Globo.