JUSTIÇA

Advogada da vítima de Daniel Alves revela qual o objetivo principal de sua cliente

Ester García López relatou que a jovem não consegue dormir desde a agressão sexual e que ela está recebendo apoio psicológico de uma entidade pública

Daniel Alves pode ficar preso por um ano antes do julgamento.Créditos: Reprodução/Instagram Daniel Alves
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A jovem, de 23 anos, que acusa Daniel Alves de agressão sexual em uma boate em Barcelona, na Espanha, não consegue dormir desde o dia em que ocorreu o fato. O brasileiro está preso, preventivamente, sem direito à fiança, desde o dia 20 de janeiro, na capital da Catalunha.

Ester García López, advogada da vítima, relatou que sua cliente está recebendo apoio psicológico de uma entidade pública e que ela tem um objetivo muito claro diante do que sofreu: a prisão de Daniel Alves.

“Estou farta de que digam que é uma estratégia, para que ela tenha mais credibilidade como denunciante. Eu fiquei impactada, porque eu dou assessoramento jurídico gratuito e, logo na primeira visita, eu disse tudo a que ela tinha direito, os procedimentos, e a indenização. Ela me olhou e disse: Ester, eu tenho a sorte de ter boas condições de vida e não quero indenização, quero prisão’. Eu disse que ela tinha direito, apesar de não querer, mas ela permaneceu contundente. ‘Se tiver dinheiro de indenização envolvido, eu não vou contratar você’”, declarou a advogada, em entrevista exclusiva a Talyta Vespa e Thiago Arantes, no UOL.

“Ela está recebendo apoio psicológico através de uma entidade pública, especializada em tratar vítimas de violência. O Hospital Clínic prescreveu todo um tratamento dirigido a evitar qualquer tipo de doença infectocontagiosa, porque não foi utilizado nenhum preservativo. Ela também tem um tratamento farmacológico com ansiolíticos para poder dormir, mas me disse que não consegue dormir desde o depoimento. Estamos tentando, também, que ela fique, mais afastada possível, de meios de comunicação, que não veja TV ou escute nada, para não se abalar, mas é difícil. O caso está em todas as TVs por ele ser o personagem que é. Há estupros toda semana, mas não tem essa repercussão. O medo dela é ser identificada em algum momento. Isso ela quer evitar a todo custo”, contou Ester.

A advogado destacou que alguns fatores levaram à decretação da prisão provisória de Daniel Alves: “A existência de indícios, que permitiriam atribuir um suposto delito de agressão sexual, com pena de até 12 anos de prisão. A existência desses indícios corrobora a investigação, que foi efetuada por uma unidade que aqui se chama UCAS (Unidade Central de Agressão Sexual). Além das contradições que apresentavam os depoimentos do senhor Alves. O depoimento de nossa cliente não tinha nenhuma falha. Já o dele tinha várias. O segundo motivo foi o risco de fuga. Ele é uma pessoa com capacidade financeira grande, que não residia na Espanha e que tem dupla nacionalidade. Haveria muita dificuldade de extradição para a Espanha caso ele pisasse em território brasileiro. O terceiro motivo foi proteger os bens pessoais da nossa cliente. Preservar a sua identidade e que não houvesse uma obstrução à Justiça”.

Rapidez no protocolo contra agressões sexuais foi fundamental

A representante da vítima ressaltou, ainda, que a rapidez no início do protocolo No Callem (Não se cale) foi essencial. Trata-se de um conjunto de ações para casos de agressão sexual em lugares de lazer.

“Tudo aconteceu naquela mesma madrugada: um segurança, ao ver o estado em que minha cliente estava, perguntou o que tinha acontecido, a levou para uma sala separada e foi nesse espaço que ela explicou o que aconteceu. Por ela apresentar algumas lesões, chamaram a ambulância e a polícia, ela foi conduzida ao Hospital Clínic, referência no atendimento de agressões sexuais em Barcelona, e a polícia já começou a fazer investigações, a interrogar profissionais da discoteca, a recolher provas dentro do local, a pegar a imagens das câmeras do circuito de segurança. Essa ação imediata foi o que levou a investigação a ter indícios contundentes de uma maneira muito rápida. É isso que deve acontecer: quando uma mulher é agredida, a ação deve ser imediata”.

Ester considera que o fato de a situação envolver uma pessoa famosa, como Daniel Alves, será um divisor de águas nos casos de agressão sexual.

Independentemente de como acabe o caso, para mim já é um caso exemplar por como começou. Há alguns personagens públicos que se acham acima do bem e do mal, que acham que nunca acreditariam em uma garota como minha cliente. Há muitas mulheres que não denunciam quando se trata de um personagem público por causa da dificuldade em nível emocional e judicial. Mas acho que, neste caso, acabe como acabar - espero que acabe com uma condenação -, a prisão sem fiança já é exemplar”, avaliou.

Em relação aos próximos passos, a advogada esclareceu que aguarda a apresentação do recurso por parte da defesa de Daniel. “Vão transferi-lo a mim e ao Ministério Público, que, obviamente, vamos nos opor a ele, e solicitaremos a manutenção da situação de prisão preventiva. Esses pedidos serão levados à Audiência Provincial de Barcelona, que é quem vai decidir em que situação o senhor Alves ficará. Paralelamente, as investigações continuam. Até agora prestaram depoimento o senhor Alves, um amigo dele, a parte prejudicada, mas há muito mais pessoas para prestarem depoimento: trabalhadores da discoteca, por exemplo. Terão de ser feitos exames biológicos, alguns de impressão digital. Ou seja, paralelamente ao trabalho da defesa para colocá-lo em liberdade ou tentar, as investigações continuarão”.

Daniel Alves pode ficar preso por um ano antes do julgamento

Ester acrescentou que Daniel Alves pode ficar preso por um período de um ano antes do julgamento. Este é o prazo máximo das investigações, mas pode ser prorrogado.

“Se ele continuar em prisão preventiva, entende-se que é uma causa preferencial. Por isso, costuma andar mais rápido, quando o investigado está privado de liberdade. Mas, neste momento, abre-se uma fase de coletar provas. Quem acusa é quem tem a tarefa de fornecer as provas. Portanto, continuaremos pedindo provas para apresentar à juíza de instrução”.