No universo ainda tão machista do futebol, um ex-goleiro de grandes clubes brasileiros, como Flamengo, Grêmio, Bahia e Vitória, ganhou os holofotes nesta sexta-feira (18) por ter assumido publicamente que é homossexual. Emerson, cujo sobrenome é Ferretti, atuou pelo rubros-negros carioca e baiano e pelos tricolores dos mesmos Estados desde o final dos anos 80 até 2007, conquistando títulos importantes. Ele jogou ainda no América-RJ, América-RN, Ituano, Bragantino e Juventude.
Ao podcast “Nos Armários dos Vestiários”, Emerson deu a seguinte declaração: “Eu parei de jogar com 35 anos, fui até o final, joguei em vários clubes. Sei que a fama me prejudicou bastante. Eu poderia até ter tido muito mais sucesso. Poderia ter feito muito mais coisas do que fiz, ter conquistado muito mais coisas. Eu acredito que é muito positiva (a carreira), principalmente por ter conseguido enfrentar tudo isso, ter sobrevivido até o final. O fato de ser gay não me parou, eu fui até o final. Mas sei de dirigentes que não me contrataram porque eu sou gay”.
O boleiro falou também sobre o expediente adotado por muitos jogadores gays que procuram se esconder em relação à própria orientação sexual, se enclausurando em casamentos heteronormativos, o que resulta, segundo ele, em ainda mais sofrimento.
“Lógico que existem gays no futebol, e muitos optam por casar. Dessa forma, eles se protegem, se enquadram num padrão que é aceito. Eles se protegem da suspeita de serem homossexuais e aí conseguem sobreviver. Só que normalmente, quando você faz isso, acaba levando uma vida infeliz, fazendo a outra pessoa infeliz. Eu optei por não casar. Optei por não enganar ninguém, por enfrentar tudo sozinho. Talvez aí também veio a fama, os comentários, porque eu nunca casei”, disse ainda o ex-goleiro.
Para Emerson, enfrentar o tal “problema” sobre sua sexualidade causou sofrimento, o que ficava ainda mais difícil quando se tem uma profissão em que a cobrança é muito alta e seu desempenho fica diante dos olhos de todos.
“Eu sofri bastante. Várias vezes eu pensei em desistir. Tive depressão, principalmente por conta da solidão. Eu não tinha com quem dividir isso e era um peso muito grande nas minhas costas. E ao mesmo tempo precisava entregar desempenho, porque no futebol, se você não entrega desempenho, se não joga bem, perde a sua posição, perde contratos”, contou.
Por fim, Emerson falou sobre suas vitórias e sobre a lição e a motivação que pretende deixar para aqueles que enfrentam a mesma situação.
“É possível ser gay, ídolo e ganhar títulos. Dá para ser um jogador talentoso. Dá para ter sucesso no futebol. Eu cumpri minhas obrigações dignamente. Fui profissional e entreguei desempenho, isso acaba me motivando para deixar um legado fora de campo também. Falar sobre o assunto, jogar luz sobre o assunto vai fazer, com certeza, primeiro, quebrar um pouco esse silêncio que existe, porque sempre existiu gay no futebol. Só que ninguém fala, todo mundo ignora isso, faz de conta que não tem”, falou esperançoso.
Nas redes sociais, dois de seus ex-clubes parabenizaram o goleiro e deixaram recados o homenageando.
“Um grande profissional dentro e fora de campo! Começou aqui, foi Campeão Gaúcho (89/90) e da Copa do Brasil (94), e também fez história em outros clubes pelo Brasil. Agora, novamente merece aplausos e nosso apoio pela luta justa contra o preconceito. Pelo direito de amar e viver!”, escreveu o perfil oficial do Grêmio, de Porto Alegre.
“Máximo respeito, Emerson. O recordista de jogos seguidos pelo clube está no Hall de Ídolos do Museu do Bahia, é bicampeão do Nordeste, melhor goleiro do Brasil em 2001 e agora se torna mais uma importante voz na luta contra o preconceito. O futebol, como a vida, tem lugar para todos”, tuitou o perfil do Bahia.