Seis vítimas, além de testemunhas, prestaram depoimento contra o técnico e árbitro de vôlei, André Testa, à delegada Marcela Goto. Ele foi preso no dia 5 de agosto, suspeito de estupro e assédio sexual contra menores idade no Clube Terra Firme, em São José, Santa Catarina.
Uma das supostas vítimas, que preferiu manter o anonimato, revelou que desistiu de se profissionalizar no esporte por associar o vôlei à imagem de André, que também apitou jogos durante as Olimpíadas do Rio de Janeiro.
Hoje com 19 anos, ele revela que em determinada noite, André telefonou para ele e o chamou para jantar. O jovem aceitou, mas algumas horas antes do encontro, o técnico disse a ele que os outros atletas que iriam tinham desistido, e que seria apenas eles dois.
“Quando saímos do restaurante, achei que ele iria me levar para casa. Só que, sem nem me perguntar, ele me levou para a casa dele. Insistiu para que eu bebesse, mas eu não quis. Tinha 14 anos, não costumava beber. O André colocou um filme na TV, assistimos, conversamos e, depois de um tempo, ele começou a passar a mão em mim. Pedi que parasse. Não adiantou", relembra, em entrevista a Talyta Vespa, no UOL.
"Ele colocou um filme pornográfico no celular e me mostrou. Fiquei superconstrangido. Eu era muito pequeno, ainda era virgem, nerd mesmo. Não estava acostumado com nada disso, fiquei sem reação. Nunca sequer tinha beijado na boca. Então, ele começou a passar a mão em mim e, contra a minha vontade, forçou um sexo oral. Eu dizia que não queria, mas não adiantou. Depois disso, ele tentou fazer mais coisas, mas eu implorei que parasse”, revela.
O rapaz conta que André não o levou para casa naquela noite. "Passei a noite lá. De manhã, ele tentou fazer tudo de novo. Foi a pior noite da minha vida. Eu não entendia o que tinha acontecido, não entendia por que uma pessoa que agia como pai, que era próxima, tinha feito aquilo comigo. Me senti muito mal, não dormi. Fiquei com medo de que ele fizesse alguma coisa comigo enquanto eu dormia. Pela manhã, no dia seguinte, ele tentou. E forçou. Até que desistiu".
A vítima registrou boletim de ocorrência (BO) contra o técnico cinco anos depois, com a ajuda do pai de um colega de equipe. Com isso, outros rapazes se sentiram encorajadas para contar suas histórias.
Veja relato de mais uma vítima
Outro ex-jogador, hoje é maior de idade, também conta o que sofreu nas mãos de André, em entrevista à emissora catarinense NSC: “Ele foi comigo até um restaurante, comprou bebida alcoólica e forçadamente ficava insistindo para que eu tomasse mesmo eu não querendo. Ele insistiu e eu acabei cedendo. Eu estava completamente bêbado e quando a gente foi para o carro achei que a gente ia para Casa Atleta dormir, no outro dia treinar, só que aí ele tomou um rumo diferente. Ele foi para o motel. Só que eu só tenho um flash de memória, não tenho memória completa por conta de estar muito, muito bêbado. Não consegui resistir fisicamente. Ele só me levou para tomar um banho, me botou na cama pelado e me estuprou".
André Testa está sendo investigado por cinco crimes: estupro de vulnerável, importunação sexual, constrangimento de adolescentes, fornecimento de bebida alcoólica para adolescentes e coação no curso do processo.
A defesa do técnico não se pronunciou. Já o Clube Terra Firme, que, inclusive tinha André como sócio, divulgou uma nota para declarar que “não concorda com qualquer tipo de violência, abuso, discriminação ou falta de respeito com os atletas em qualquer instância; porém, não cabe a ela julgar os fatos, visto que existem órgãos especializados e competentes para esse tipo de situação”.