FÓRUM NA COPA

Marrocos fenomenal: Uma explicação técnica e real para o triunfo africano

Pela primeira vez uma seleção da África chega à semifinal de uma Copa do Mundo e alguns pontos revelam como isso foi possível. Entenda os últimos meses dos Leões do Atlas

Seleção do Marrocos comemorando a classificalção.Equipe é a primeira africana a chegar às semifinais de uma Copa do MundoCréditos: Twitter/Reprodução
Escrito en ESPORTE el

Até aqui já e histórico, mas pode tornar-se ainda mais. Pela primeira vez uma seleção africana está numa semifinal de Copa do Mundo e quem conseguiu a façanha não foi um time representante da África Subsaariana, já habituada a apresentar bons elencos nas últimas décadas, como Camarões, Nigéria, Gana ou Senegal, mas sim o Marrocos, um país árabe do Magreb.

Depois de vencer a Bélgica na primeira fase, eliminar a Espanha nas oitavas e Portugal nas quartas, uma pergunta passou a ser repetida por profissionais do mundo do futebol e por torcedores de todo o mundo: Como foi, e segue sendo possível, o triunfo do Marrocos no Mundial do Catar.

A história que precedeu a estreia dos chamados “Leões do Atlas” na competição mais importante do futebol foi conturbada, mas o seu treinador, Walid Regragui, contratado para a função três meses antes da Copa, foi fundamental e revolucionária.

Até agosto deste ano, o bósnio Vahid Halilhodzic comandava o Marrocos e colecionava uma penca de encrencas e brigas, contra jogadores e contra a lógica. Fazendo tipo estúpido e gratuitamente autoritário, Halilhodzic gritou para quem quisesse ouvir que não levaria, definitivamente, o lateral Noussair Mazraoui e o atacante Hakim Ziyech para o Catar. O problema é que esses dois atletas são os mais importantes da equipe, ídolos nacionais e estavam bem técnica e fisicamente.

Ziyech não foi convocado para a Copa Africana de Nações, realizada em janeiro e fevereiro deste ano, após ser adiada por conta da Covid-19, e chegou a anunciar sua aposentadoria do selecionado marroquino, que não ficou sequer entre os quatro melhores colocados da competição continental. O jogador foi deselegantemente chamado de “preguiçoso” pelo treinador dos Balcãs e acusado de “fingir contusões para não jogar e treinar”. Depois disso, as tretas entre Halilhodzic e Mazraoui passaram também a ganhar notoriedade, e a Federação Real Marroquina de Futebol (FRMF) deu um basta, demitindo o técnico bósnio.

Walid Regragui chegou, então, em cima da hora para treinar o time para a Copa do Mundo do Catar e a primeira coisa que fez foi trazer de volta Ziyech e Mazraoui. O novo comandante também percebeu que o grande trunfo da equipe era a defesa, que em termos individuais e coletivos poderia ser considerado um setor de dar inveja a muitos times europeus e seleções renomadas.

Achraf Hakimi, do Paris Saint-Germain, Noussair Mazraoui, Bayern de Munique, Romain Saiss, do Besiktas, Nayef Aguerd, do West Ham), Achraf Dari, do Brest e Jawad El-Yamiq, do Valladolid, eram jogadores atuando em grandes clubes e muito reputados em suas posições. A partir daí, o francês de sangue marroquino Walid Regragui treinou a exaustão esse setor e o colocou como peça fundamental. Resultado, apenas um gol tomado na Copa até agora, em que a bola desviou batendo na perna de um zagueiro. Um simples azar.

Outro fator curioso contribui até aqui para o Marrocos avançar de forma avassaladora na Copa do Mundo. Normalmente, as seleções da Europa são as que trazem muitos “estrangeiros” (jogadores nascidos em outros países que se naturalizam), só que neste Mundial o Marrocos é a seleção com mais “estrangeiros”. Um total de 14 atletas, todos de origem árabe e que nasceram em vários países, resolveram que dariam preferência à nacionalidade marroquina e assim passaram a representar a nação magrebina. Obviamente eles têm uma experiência e um contato maior com o futebol de alto rendimento das principais ligas do planeta.

Para fechar a sequência de fatos que possibilitou a chegada do Marrocos à semifinal do Mundial do Catar, a equipe teve a sorte e surpresa de ver um goleiro completamente fora de série em ação. Yassine Bounou, que prefere ser chamado de "Bono", tem realizado apresentações formidáveis e fechado o gol do selecionado africano.